Innervisions Foto: Divulgação

Do underground de Berlim ao coração de SP: Innervisions chega ao Brasil

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Formado por Dixon e Âme, um dos núcleos mais queridos da cena eletrônica alemã está celebrando 20 anos de existência

“Muitos artistas pensam em conseguir os maiores cachês, mas esses caras são diferentes. Eles preferem reunir duas mil pessoas que realmente se importam com sua música, em vez de dez mil aleatórias. O cachê é secundário”, explicou ao Resident Advisor o agente estadunidense Andrew Kelsey, responsável pela agenda do coletivo Innervisions, formado pelo DJ Dixon e a dupla Âme. Os alemães chegam com sua festa ao Brasil pela primeira vez neste sábado, 18 de outubro, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, justamente na turnê que celebra os 20 anos da empreitada. Completam o line-up os DJs Eli Iwasa, Jimi Jules, Julya Karma e Trikk.

Beleza, festa é festa. Vender o que se acredita ser seu modelo de evento, com uma porção de especificações técnicas e artísticas, para um produtor de outro país pronto a atendê-las e dividir o lucro é algo feito às baciadas no universo da música eletrônica. Uma empresa compra o padrão estético e sonoro de uma “party label” já famosa e a realiza em seu território. Criada em Berlim nos anos 00 (época em que a capital alemã se consolidou como a Meca do techno), a Innervisions, como um coletivo que reunia gravadora e produtora de eventos, ajudou a lançar essa tendência, hoje tão comum.

O que os colocou em destaque naquele cenário de 2005, tão logo botaram as agulhas nos discos, foi justamente o fato de se unirem em torno de um som — mais melódico, unindo techno e progressive house, em contraponto ao bate-estaca pesado e industrial, característico na cidade naquela época. Traziam o conceito já inventado pelo selo escocês Soma, na década anterior: uma música aberta a diversas referências, mas com uma paisagem mais emocional, sem cair para o cafona.

Âme, importante lembrar, é um duo manco, formado por Kristian Beyer, que bota o pé na estrada cuidando das discotecagens, e Frank Wiedemann, o cara do estúdio, responsável pela produção das músicas do grupo e que geralmente sobe no palco quando o projeto se apresenta no formato live PA.

Innervisions

Foto: Divulgação

Steffen Berkhahn, o Dixon, nasceu em Anklam, na Alemanha Oriental, para ser jogador de futebol. Na adolescência, porém, duas destruições marcaram sua vida. A do Muro de Berlim e a da sua condição atlética, lesionada. Ambas foram responsáveis por redirecionar a vida do Steffinho, que se voltou ao mundo da música (e mais tarde, da moda). O novato começou a tocar house em diversos clubes da Berlim unificada, conheceu a galera do hypado coletivo Jazzanova e foi trabalhar no selo dos caras, que também era uma importante loja de discos da cidade, chamada Sonar Kollektiv.

Dixon e Beyer já se conheciam das ruas da cidade, mas foi uma providencial carona rumo a um aeroporto que aproximou os dois. Passaram quase uma hora ouvindo música no carro. Beyer mostrou ao novo amigo suas músicas e, ali mesmo na caranga, Dixon os convidou para lançar pela Sonar. O problema é que o coquetel sonoro do Âme não desceu redondo pela garganta da galera do Jazzanova, que achou o som “meio trance”. Empolgado pela música, Dixon articulou o lançamento de um subselo, Innervisions, para encaixar o disco no catálogo, com a ajuda curatorial de Beyer e Wiedemann.

A label ficou sob a asa do Sonar Kollektiv por apenas um ano. Levaram Dixon junto e se tranformaram em um dos mais queridos grupos de trabalhadores da música eletrônica. Sabadão, espalham seu som pelo centro de São Paulo (para delírio dos fãs e desespero dos moradores da área), até as 06h da manhã!

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Serviço

Innervisions 20 Anos São Paulo

Data: 18 de outubro de 2025 (sábado)
Local: Vale do Anhangabaú – São Paulo
Horário: Das 18h às 06h
Atrações: Âme, Dixon, Jimi Jules, Trikk, Julya Karma e Eli Iwasa
Ingressos: A partir de R$ 200,00 (+ taxa) via Ingresse

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.