I Wanna Be Tour Foto: Divulgação

Review: Com surpresas e nostalgia, I Wanna Be Tour resgatou a força do emo no Brasil

Vitória Zane
Por Vitória Zane

Festival em São Paulo foi uma verdadeira catarse para um público que realizava um sonho de anos

Entre ingressos esgotados em poucas horas em São Paulo, o festival itinerante I Wanna Be Tour passou por cinco cidades do Brasil em uma verdadeira homenagem ao pop punk e ao emo. Tornando realidade para os adultos de hoje viverem o sonho de sua adolescência há cerca de 15 anos, o evento cumpriu com maestria seu papel de reviver as emoções de um público que aguardava sedento por shows do gênero, e mostrou a grandeza de um movimento que manteve-se firme, apesar da passagem do tempo.

O Music Non Stop esteve presente na edição de São Paulo, que abriu a turnê. Marcada para 02 de março, no Allianz Parque, a estreia do IWBT ocorreu às 11h, com show da Fresno. Grande representante do emo nacional, a banda se manteve na ativa em todos esses anos — uma das únicas —, carregando, por muitas vezes, o peso da cena, e se reinventando em sua discografia.

A apresentação, embora cedo, reuniu um estádio lotado de pessoas que deram suporte ao grupo em sua setlist, que passava por inúmeros hits, como Quebre As Correntes, até os lançamentos mais recentes, como Eu Nunca Fui Embora, que contou com uma ação dos fãs ao soltarem bexigas na cor azul turquesa.

Em seguida, Plain White T’s fez sua estreia no Brasil. A banda norte-americana pareceu estar à vontade e até convidou a cantora Day Lins para performaram juntos Hey There Delilah, seu grande sucesso. Outra banda inédita no país, Mayday Parade encaixou no setlist Miserable At Best e fez o público cantar a plenos pulmões.

I Wanna Be Tour

Plain White T’s. Foto: Divulgação

Única representante feminina, Pitty entregou um show incrível, conquistando o público no estádio, que cantava todas as músicas e, inclusive, abria rodas a pedido da cantora. Nessa altura da tarde, todos já sabiam o que esperar: muita emoção. A baiana fez uma baita apresentação em comemoração aos 20 anos de Admirável Chip Novo, tocando seus maiores sucessos e sendo reverenciada por todos. Máximo respeito! 

Voltando para os gringos, foi a vez da também norte-americana Boys Like Girls mostrar toda a sua potência num show que incluiu o hit The Great Escape, com um frontman de respeito — mesmo com o braço imobilizado. Em seguida, os fãs aguardavam ansiosamente por Asking Alexandria, que pesou mais a linha de som e interagiu com a plateia.

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Pitty. Foto: Divulgação

Uma das atrações mais esperadas — ok, digo isso por mim, que sou fã de carteirinha —, The Used fez uma apresentação para ninguém botar defeitos. Músicas escolhidas a dedo mostravam a história da banda na vertente, que sempre se manteve em atividade, e também davam uma pitada do que vem trabalhando atualmente no álbum Toxic Positivity.

Em meio a hinos como Take It Away, Buried Myself Alive e A Box Full Of Sharp Objects” — que teve Lucas Silveira, da Fresno, convidado para cantar junto, subindo ao palco com um brilho no olhar —, The Used fez muito fã chorar ao mostrar sua enorme grandeza, dentro e fora da música. Simplesmente, presenciamos uma das maiores referências do emo internacional, que não vinha ao Brasil há mais de dez anos.

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The Used. Foto: Divulgação

Depois de uma tarde quente de sol forte, All Time Low teve a incumbência de tocar no início da noite, quando a luz natural se encerrava e dava espaço a um Allianz Parque todo iluminado. Com uma voz potente, o grupo apostou em várias brincadeiras, mas também apresentou faixas do álbum mais recente (Tell Me I’m Alive) e também os sucessos, como Dear Maria, Count Me In, com a qual encerrou.

The All-American Rejects emplacou hits logo no começo e fez valer sua primeira vinda ao Brasil. Com um visual superdiferenciado do vocalista, a banda não deixou de fora os sucessos Gives You Hell, Dirty Little Secret e Move Along.

Num verdadeiro show de headliner, NX Zero entregou tudo em sua performance e mostrou o motivo de ser um dos fenômenos do movimento no país. Começando com Além de Mim, a banda metralhou hits da carreira, num show que foi cantado a plenos pulmões por todos. A energia do público, que sabia todas as letras de cor, estava alta. Vale destacar que o NX lembrou dos fãs raízes e até tocou Apenas Um Olhar, hit do início de carreira. Com certeza, a apresentação foi um dos momentos altos do festival.

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NX Zero. Foto: Divulgação

A Day To Remember entrou em seguida, pesando a linha de som. O grupo conquistou até mesmo quem não o conhecia, com guitarras potentes, um moshpit que envolveu a galera e sons como Mr. Highway’s Thinking About the End e If It Means a Lot to You.

Encerrando a noite, e como o big name do festival, Simple Plan fez uma performance extraordinária. Superanimada por estar no Brasil, a banda performou seus inúmeros hits, como Shut Up!, Welcome To My Life, Jump… E ainda deu espaço para um mashup de covers de sons de Avril Lavigne, The Killers, Smash Mouth e até mesmo Mamonas Assassinas!

Perfect foi cantada junto com um coro de pessoas, e I’m Just A Kid contou com a participação de Di Ferrero (NX Zero) nas vozes, já que Pierre Bouvier (vocalista) foi tocar bateria e Chuck Comeau (baterista), vestindo uma camiseta do Brasil, se jogou no meio da galera! Durante a apresentação, os artistas mostraram-se empolgados com a turnê e com todos os elementos culturais do país. Chuva de papel picado e canhões de CO2 abrilhantaram a festa, que foi encerrada em meio a fogos de artifícios.

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Simple Plan. Foto: Divulgação

Em um festival verdadeiramente emocionante, o clima entre o público era de realização de um sonho, de quem aguardou ansiosamente por anos para viver aquele momento. Mesmo embaixo de sol e de grandes filas, a vibração de felicidade por finalmente ver as apresentações de suas bandas preferidas pareceu valer a pena. Entre os artistas, a atmosfera era parecida. Em meio a histórias de backstages e stories de Instagram, o primeiro show do I Wanna Be Tour apresentava um ambiente de irmandade entre os artistas, além de respeito mútuo e admiração.

O modo de se vestir, tão amplamente adotado pelos emos lá dos anos 2000, voltou à tona durante os shows. Era comum encontrar pessoas com camisetas de banda, além de peças quadriculadas, munhequeiras e correntes. Várias estampas com frases como “Emo Vive” ou “Make Brasil Emo Again” eram vistas em pessoas de cabelos coloridos e com as famosas franjas de lado.

Com o coração cheio, o gosto de saudade já aparecia no semblante da plateia, que mesmo cansada após 12 horas de festival, estaria pronta para viver tudo novamente no dia seguinte, se fosse possível. A repercussão do evento tomou conta das redes sociais, que não falaram sobre outro assunto.

IWBT passou ainda por Curitiba (PR), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG), com o mesmo lineup, encerrando a turnê neste domingo (10). Deixamos aqui nosso lamento e pesar profundo sobre a morte de João Vinícius Ferreira Simões, que ocorreu durante a passagem do evento por solo carioca no sábado (9), quando uma forte chuva assolou o Riocentro.

De acordo com o comunicado da produtora 30e, o jovem foi atingido por uma descarga elétrica, recebeu os socorros mas não resistiu. A tragédia acende ainda mais um alerta aos festivais sobre os impactos dos fenômenos naturais, que devem ser levados em consideração durante o planejamento de ação de um evento.

De fato, o Brasil precisava de um evento dessa magnitude no emo e no pop-punk, vertentes que já sofreram muito preconceito com os discípulos de outros sons do rock. E mostrou que ainda tem muito público para abraçar. Resta aguardar se haverá continuação da marca em 2025, e quais as atitudes para melhorar os problemas deste ano.

Vitória Zane

Jornalista curiosa que ama escrever, conhecer histórias, descobrir festivais e ouvir música.

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