Gigantes da indústria musical, Sony, Universal e Warner partiram pra cima das companhias nos tribunais
Enquanto ouvimos nossos artistas prediletos nos serviços de streaming ou curtimos memes em redes sociais, uma guerra está sendo travada nos bastidores do mundo do entretenimento. As maiores gravadoras do planeta estão caindo em cima das empresas que usam a Inteligência Artificial para fazer música. Segundo as majors Sony Music, Universal Music e Warner Music, os prejuízos causados por estas companhias são “de escala praticamente inimaginável”.
Para entender o caso, é preciso antes saber como funciona realmente o que chamamos de Inteligência Artificial em 2024. Os programas de computador são desenvolvidos para que funcionem como uma supermáquina de aprender, possíveis graças à enorme capacidade de cálculo dos processadores atuais. Por exemplo, quando você emite um comando pedindo que a plataforma escreva uma letra de música sobre sorvete como se fosse o Renato Russo, os softwares partem em busca de todas as letras já publicadas do vocalista da Legião Urbana, ao mesmo tempo que lêem sobre a história do sorvete e mais uma porção de outras letras de música, poemas e crônicas que, no passado, já foram publicadas em homenagem ao tão querido gelado. Com base em tudo o que “aprendeu”, o programa une milhares de referências para compor uma resposta inteligível que, na verdade, não foi criada, mas coladas entre um mundo de picotes de conteúdo já existente na internet, originalmente pensadas por um ser humano.
Este é o argumento utilizado pelas gravadoras para justificar sua extrema cabreiragem com as empresas de IA. Elas, na verdade, estão se utilizando da criação de outras pessoas para ganhar (muito) dinheiro com seus clientes. Por mais que uma criação artística seja um patrimônio da humanidade, desenvolvedoras como a Sumo, que tem mais de dez milhões de usuários, e a Udio, ambas sediadas nos Estados Unidos, cobram pela utilização da ferramenta.
O processo movido pelas três gravadoras mais importantes, divulgado na última segunda-feira (24), não é o primeiro. Várias outras empresas já estão oferecendo processos judiciais. Além disso, associações de artistas e gerenciadoras de direitos autorais estão pressionando os governos dos principais mercados para botar ordem na casa pedindo, principalmente, que cada “criação” de um programa de Inteligência Artificial gere um relatório identificando todas as fontes que usou para seu aprendizado. Voltando ao nosso exemplo, os responsáveis pelos direitos autorais de Renato Russo deveriam saber que sua obra foi varrida por um computador para originar a música do sorvete. E eles deveriam receber por isso.
No processo, as labels pedem o pagamento de 150 mil dólares (mais de 800 mil reais) por trabalho gerado e entregue ao usuário. Dentre demandas protocoladas e ameaças, não está sobrando para ninguém. Microsoft, Google, Apple e todos os que já estão colocando em prática suas ferramentas de IA já estão acionando seus batalhões jurídicos para o que promete ser mais um tremenda guerra entre a tecnologia e o entretenimento, comparada a que assistimos na época do surgimento do MP3, na virada dos anos 2000.