Fyre Festival Imagem: Reprodução

Maior BO da história dos festivais, Fyre Festival terá 2ª edição

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Não. Não é pegadinha. O Fyre Festival está de volta

Você é super-rico. Se acomoda na varanda do apartamento com tablet na mão para uma missão corriqueira, ao fim de cada ano: planejar quais festivais internacionais farão parte de sua agenda hedonista para a próxima temporada. Qual escolher? Você encontra então uma opção em uma ilha no Caribe, chamada Fyre Festival. Um evento que não anunciou nem o line-up, nem a localização exata onde será realizado. Não para por aqui. A primeira edição deu tão errado, mas tão errado, que o seu organizador foi condenado a seis anos de cadeia por fraude financeira.

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Um festival que prometeu acampamento de luxo, mas entregou aos playboys barracas usadas em acampamentos de refugiados e sanduíches de queijo como alimentação. A desorganização era completa, a ponto de faltar água potável. Conforme o caos total foi se materializando, o rolê foi cancelado e o público que sofria no meio do Caribe, largado à deriva. Um festival tão cagado que acabou virando um documentário, Fyre Festival – Fiasco No Caribe (2019), disponível na Netflix.

O que você faz? Pega seu cartão de crédito e compra os ingressos, ainda mais caros, para a edição agendada para abril de 2025, porque acredita na redenção do ser humano. Parece roteiro de filme de comédia, mas é real. Sem programação e local confirmado, as vendas do próximo Fyre Festival estão abertas, com ingressos que vão de 1.300 dólares até pacotes VIP que, segundo a “organização”, serão oferecidos a valores próximos de um milhão de doletas, com direito a passeios de iate, mergulho e acesso a outras ilhas próximas.

A coordenação segue na mão do mesmo Billy McFarland, que afirma ter aprendido com seus erros. Em entrevista à NBC, explica que o Fyre Festival 2 foi concebido em um planejamento “de 50 páginas”, bolado durante seus dias na prisão, “com capacidade para reunir pessoas de todo o mundo e fazer o impossível acontecer”.

“Nós temos a chance de vencer a tempestade e realmente colocar nosso navio no rumo, depois de todo o caos que aconteceu. E se for bem feito, eu acredito que o Fyre tem a chance de ser o festival anual mais importante da indústria de entretenimento. A alimentação será supercara. Vamos prepará-la para que seja muito, muito boa. Tipo, com os mais caros ingredientes que existem, eu acho. Felizmente, tenho muitos parceiros que podem garantir que as coisas sairão bem.”

As entrelinhas da entrevista de McFarland, além de deixarem claro que o delírio de grandeza segue cozinhando no cérebro do produtor, traz alguns elementos semanticamente tragicômicos, em recortes como “se der certo”, “fazer o impossível acontecer” ou o sensacional “eu acho”.

Billy McFarland tem ao seu lado um ingrediente protetivo. Para filho de bilionário, jogar dinheiro fora não dói tanto quando para o festivaleiro que divide seu ingresso em 12 vezes no cartão. Se as previsões do empresário não “derem certo”, como diz, o próprio consumidor lesado vai saber que entrou nessa por conta e risco. Avisos não faltaram, incluindo um documentário disponível para assistir.

O primeiro Fyre Festival contou com vários investidores de peso, incluindo o rapper Ja Rule, que pulou fora da edição 2025. O evento, que prometia “a experiência do século” para os compradores (bem, de certa forma foi, né?) utilizou-se de um massa de influencers, com permuta de ingressos, para divulgar seu projeto de festival megalomaníaco. Deu no que deu.

Se você faz parte do grupo social que interessa ao Fyre Festival (para comprar os ingressos, você precisa contar quem é, antes, em uma espécie de formulário de identificação), fique à vontade. Quem somos nós para duvidar da capacidade do ser humano em aprender, melhorar e corrigir seus erros. Usando as palavras do próprio McFarland, “se der certo”, será um dos grandes festivais de 2025.

Desserviço

Fyre Festival II

Data: 25 de abril de 2025 (sexta-feira)
Horário: 11h (GMT -5)
Local: Em uma ilha privada na costa caribenha no México
Atrações: Não anunciadas
Link para se candidatar ao seleto grupo de pessoas autorizadas a comprar ingresso: aqui.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.