Cultuado website dedicado a notícias e resenhas musicais será incorporado à revista masculina GQ
“Decisão tomada após avaliação de performance.” Admitindo a fria lâmina do capitalismo, Anna Wintour, chefe de conteúdo da Conde Nast, explicou a decisão de fundir o Pitchfork à revista GQ (ambos de sua propriedade) para enxugar a estrutura e melhorar os resultados financeiros do projeto.
O corte de funcionários já começou com o editor chefe, Puja Patel, á frente do website desde 2018. A Conde Nast já anunciou, no entanto, que o facão seguirá faminto.
A notícia não surpreende, mas chacoalha o mercado editorial mundial. O Pitchfork é um oásis para os românticos da imprensa musical. Textos longos e profundos (por vezes, até exageradamente acadêmicos), uma equipe de ninjas comandada por Patel e extenso conteúdo, tornando o veículo uma referência tanto em tendências musicais, como em estilo.
Lembra, tristemente, o roteiro de A Vida Secreta de Walter Mitty, filme protagonizado por Ben Styler sobre um laboratorista da icônica revista Life, comprada por um grupo de investidores que, também após uma avaliação de performance, resolveu tirá-la das bandas, mandar todo mundo embora e transformá-la em um website.
Quando o dinheiro gordo chega, o rosto do dono some. O tutú vem geralmente de grupos de investimento ou fundos de pensão, onde centenas colocam suas economias que, juntas, formam um monstro anônimo furioso por lucros e resultados.
A Conde Nast comprou o Pitchfork de seu fundador, Ryan Schreiber, em 2015, 17 anos após sua fundação. Apresentava-se como “a voz mais confiável do mundo da música”.
A pulverização digital abalou profundamente a imprensa musical nas últimas décadas, e veículos independentes (caso do Pitchfork) foram os mais afetados. Desde sempre, o valor de um anúncio é determinado pela quantidade de gente que o lê. Só consegue sobreviver, portanto, quem fala para muita gente ao mesmo tempo (as massas), ou quem faz parte de uma associação de veículos que compartilham suas estruturas e somam suas audiências, caso do grupo Conde Nast.
Ainda não se sabe o que será do novo Pitchfork, mas a tendência é óbvia. Menos custos com menos redação. Menos tempo e menos gente para as bojudas e bem temperadas resenhas. E, talvez, menos espaço para a música diferente, esquisita, provocadora e pouco comercial.
Nas redes sociais, Ryan Schreiber comentou: “Extremamente entristecido por saber que a Conde Nast resolveu reestruturar o Pitchfork e demitir boa parte de seu staff”.
Muita gente, mundo afora, compartilha da sua tristeza.