Underground Resistance Foto: Reprodução

Da periferia de Detroit para o mundo: Underground Resistance ganha minidocumentário

Jota Wagner
Por Jota Wagner

O coletivo que une ativismo político, techno e empreendedorismo negro se transformou no selo mais importante de Detroit depois da Motown

A história do selo Underground Resistance, que acaba de ganhar um minidocumentário produzido pela empresa de sintetizadores Roland (massivamente usados na produção do techno), é, acima de tudo, uma aula sobre autenticidade.

A música, o sentido e o objetivo de tudo feito pelo UR era colocar o poder da música eletrônica nas mãos do povo periférico de Detroit. Feita por eles, e para eles.

A cidade americana, uma espécie de Gotham City da vida real, principalmente na década de 80, provia todos os elementos para isso. É techno em forma de prédios e ruas. Industrial, suja, caótica e decadente, devido à fuga da indústria automobilística que movimentou sua economia e a fez crescer até a década de 70, se transformou em um celeiro cinza de desemprego, desesperança e falta de perspectiva para uma extensa comunidade jovem que vivia ali nos anos 80. Em especial, a comunidade negra.

Mas para eles, havia aquela música feita com equipamentos baratos (na época, um Roland usado era comprado a preço de banana em lojas de segunda mão) e com verve altamente industrial, que virou instrumento de expressão para uma turma talentosa, que acabou mudando os rumos da região.

É isso o que nos conta o minidocumentário Somewhere in Detroit, lançado nesta sexta-feira (01 de março) e disponível para assistir, gratuitamente, no YouTube.

O doc foi roteirizado no que parece ser um padrão para filmes de música eletrônica atualmente: edições de entrevistas intercaladas com imagens da cidade, de suas festas, e com a (excelente) música do Underground Resistance como trilha.

Mas a fórmula não tira a beleza (e a presteza das informações) das entrevistas de nomes como Mad Mike Banks, parceiro de Jeff Mills na concepção do selo, Waajeed e vários outros nomes seminais, em 12 minutos de história sobre ativismo e conceito. Obrigatório.

Somewhere in Detroit não é o primeiro relato histórico produzido pela empresa de sintetizadores e baterias eletrônicas. A Roland já documentou a vida de Carl Craig, Sister Bliss (do Faithless) e da gravadora Stones Throw.

Mais do que entregar o poder daquela música ao povo preto de sua cidade, Jeff Mills e sua turma também foram responsáveis por dar ao techno o status de alta arte na comunidade musical mundial. Souberam compreender e fundir, de forma pioneira, o existencialismo e os códigos do jazz, transmutando o resultado para o então complexo mundo dos sintetizadores e baterias eletrônicas.

Mais do que isso, transformaram Detroit em beats de uma forma tão precisa, que é impossível dissociar a música do Underground Resistence da cidade em que nasceu.

Reserve 12 prazerosos minutos de seu dia e assista a Somewhere in Detroit:

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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