6 histórias que mostram que Fatboy Slim é um dos DJs mais legais do mundo
Um dos nomes que ajudaram a música eletrônica a ganhar as massas retorna ao Brasil neste mês
Em meus primeiros anos de discotecagem, lá pelo final da década de 90, o amigo e jornalista Ricardo Alexandre, hoje editor do maior podcast de música brasileiro, o Discoteca Básica, e autor de uma sequência de livros indispensáveis sobre a história da música nacional, me disse: “cara, você precisa discotecar Big Beat. É a mistura perfeita de música eletrônica com rock”.
O conselho ilustra a importância do Big Beat na música pop mundial daquela época. Alexandre era um especialista da música, digamos, acústica. E a hipnótica sequência quase infinita de batidas, tuins e blongs da house e do techno não apresentava nenhum ponto de conexão com quem não vara as noites chapando na pista de dança.
Popularizado por nomes como Lo-Fidelity All Stars, Chemical Brothers e, principalmente, Fatboy Slim, o gênero ganhou as graças do público (e de jornalistas que, até então, não eram lá muito fãs de música eletrônica), trazendo à pista de dança o lado mais pulsante das batidas do hip-hop com o abuso dos samples de rock, soul e funk.
Ao contrário dos outros estilos da eletrônica, em que pequenos recortes de outras músicas eram sampleados, para engrossar a parte rítmica das faixas, Fatboy e sua turma copiavam partes inteiras de vocais e riffs de guitarra, tornando a referência plenamente reconhecível para o público. Era divertido, dançante, pop e cool ao mesmo tempo.
O Big Beat foi para a música o que a batata frita é para carnívoros e veganos. Um elo de paz.
O DJ britânico, que se apresenta novamente no Brasil no final do mês, foi o grande expoente do estilo. Tornou-se rapidamente um superstar, viajando o mundo e unindo todo o tipo de gente em sua pista de dança. Colaborou com uma infinidade de artistas, como Macy Gray, David Byrne e Cornershop, imprimindo aos seus parceiros as potentes batidas e sintetizadores da vertente que ajudou a criar, transformando músicas em bombas indispensáveis para os disc-jóqueis.
Em sua persona artística, Norman Cook encarnava o estereótipo do inglês gente boa e chapadão. Sorridente e desengonçado nos palcos (as cabines dos clubes já eram pequenas para ele), alcançou o auge de sua carreira com a sequência de festas Big Beat Boutique. Com esta marca, fez eventos em sua cidade natal, Brighton, que se transformaram em CD, DVD, documentário e turnê mundial.
O que faz um artista transcender sua música e se transformar em uma figura adorada pelo público e jornalistas? Boas histórias, muitas delas, fora do palco. E nesse quesito, Fatboy Slim reina. Leia seis pequenas histórias que nos deixam com vontade de convidá-lo para jantar em casa.
Antes da discotecagem, uma passadinha pelo pop mela-cueca
Embora já se aventurasse na discotecagem em pequenos clubes, Norman Cook, o futuro superstar DJ, experimentou a fama com The Housemartins.
Cook entrou na banda depois de formada, em 1983 e, ao lado de Paul Heaton, Stan Cullimore e Hugh Witacker, alcançou sucesso mundial com a baladinha meloda Build, que ficou conhecida aqui no Brasil como “Melô do Papel”, graças a similaridade da pronuncia de “ba-ba-ba-ba-build” com “pa-pa-pa-papel”, em português.
Quando saiu dos Housemartins, Cook ainda formou outra banda, a Beats International. Nela, já se nota o embrião do que seriam seriam seus grandes sucessos no Big Beat, como por exemplo a faixa Dub Be Good To Me.
A prova da potência do remix
Quando lançou seu remix para a música Brimful Of Asha, do Cornershop, Fatboy Slim apresentou ao mundo o DNA do big beat. Uma união pacífica, divertida, boa onda entre o rock e a dance music, uma fórmula que já vinha sendo lecionada na cena de Manchester desde o final de semana e, com as distorções e efeitos de Cook, ganhou as graças do mundo.
Ao contrário do que se possa pensar, o artista inglês tomou carona na fama do Cornershop, e não o contrário. Formada por filhos de imigrantes indianos em Londres (Cornershop significa “lojinha de esquina”, comércio normalmente tocado por quem chega para tentar a vida na Inglaterra), o grupo estava na crista da onda após lançar seu álbum When I Was Born For The 7th Time.
O disco dos meninos tinha colaborações com Allen Gingsberg e Paula Frazer, além de um cover autorizado por Paul McCartney e Yoko Ono de Norwegian Wood, um golaço para a época.
Brimful Of Asha ajudou a tornar Fatboy Slim conhecido com o remixer da vez, na música pop.
A fama, as viagens, o dinheiro e o alcoolismo
Quando começou a fazer sua Big Beat Boutique, Norman havia alcançado havia entrado para um seleto time de superDJs, com agenda cheia e cachês milionários. Casou-se com a apresentadora de TV Zoe Ball e, com a correria constante de festas e viagens, o vício em álcool e drogas começou a apitar.
O set-up exigido pelo DJ em sua cabine era uma de suas marcas registradas. Dois toca-discos, um mixer, uma garrafa de vodca e uma de suco de laranja, que matava em apenas duas horas de trabalho.
“Para as pessoas, ir dormir às quatro da manhã era uma coisa normal. Para mim, começar a noite depois das quatro da manhã, quando o trabalho terminava, era o que acontecia” — revelou, em 2020, à revista Square Mille.
A declaração entregava uma mudança de pensamento. Em entrevistas anteriores, ele havia dito que “tocar sóbrio não é divertido”. O artista se internou em 2009 e desde então, segue limpo. Perguntado pela Square Mile se foi difícil ter de seguir tocando sóbrio, respondeu que foi “fácil, não tem diferença nenhuma”.
Grana para salvar time de futebol
Criado em Brighton, pequena cidade costeira da Inglaterra, Fatboy surtou ao saber que o seu time do coração, o Brigthon & Hove Albion FC, teria de vender seu principal jogador Bobby Zamora, para levantar dinheiro.
O DJ, que já nadava na grana em 2002, resolveu comprar 12% do clube, mantendo Zamora no plantel.
Apesar disso, o empresário futebolístico Normal Cook sempre evitou tomar parte nas decisões esportivas. Ainda assim, já tocou algumas vezes em eventos do clube, para ajudar na divulgação da marcas e levantar mais algum dinheiro para o esporte.
Depois de famoso, servindo cafés
Hoje morando em Hove, ao lado de Brighton, Norman Cook é dono de do Big Beach Cafe há sete anos. Quando a pandemia obrigou à paralização de todos os eventos com aglomeração, o DJ ficou com todo o seu tempo livre.
Tomado pelo tédio, não pensou duas vezes. Foi trabalhar de garçom em seu próprio café. Imagina a surpresa das pessoas ao saber que seu misto quente estava sendo servido pelo próprio Fatboy Slim?
“Acontece que sou um garçom dos bons” — disse, ao jornal local The Argus.
Filha de peixe, peixinha é
A filha de Fatboy Slim, Nelly Cook, banhou os corações de milhões de pessoas com uma das lives mais divertidas da pandemia. Discotecando (bem) em casa, ao lado dos amiguinhos, a chamada “Fatgirl Slim” tocou por uma hora e transmitiu ao vivo da casa da família.
O cinegrafista e editor de vídeo? Foi o papai coruja, que ainda inventava de fazer graça na frente das câmeras, até ser expulso pela filhinha DJ!
De volta ao Brasil
Da apresentação histórica para mais de 150 mil pessoas na Praia do Flamengo, em 2004, ao disco Bem Brasil, de 2014, Fatboy Slim tem uma relação profunda e intensa com o nosso país. No entanto, não cola por aqui desde 2019.
Agora, essa história está prestes a mudar, com o seu retorno confirmado em três datas, entre 26 e 28 de janeiro, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília. Clique aqui para saber mais.