Entrevistamos DJ Hell, o alemão chefe da eletrônica que conhece mais o Brasil do que você. Ele toca sábado na Capslock

Claudia Assef
Por Claudia Assef

O caso de amor entre alemães e brasileiros é antigo e está cheio de exemplos na história. Talvez um dos romances mais fortes desse namoro internacional você nem saiba, mas é entre o alemão Helmut Josef Geier, que a gente conhece mesmo como DJ Hell, e esse pedaço de chão que já foi conhecido como Pindorama.

Nascido em 1962 em Munique, Hell veio ao Brasil pela primeira vez em 1996 para tocar numa edição do Mercado Mundo Mix, então uma importante porta de entrada para um público ávido por conhecer novidades da música eletrônica e seu lifestyle. Desde então ele volta ao país praticamente todos os verões, se dividindo entre Rio de Janeiro, São Paulo e Florianópolis. Por aqui, Hell já tocou em diversos formatos de festas, de fashion weeks a clubes espalhados todo o país. Não à toa ele já lançou faixas com nomes como Berimbau e Copa e sempre que pode insere em sua ótima gravadora, a Gigolo Records, artistas brasileiros (já foram lançados Digitaria, Renato Ratier, Mixhell, entre outros).

É verão, e Hell está entre nós. E ele é atração da Capslock deste sábado (20), com parceiros de peso na cabine: Tessuto, Lacozta, Andrea Gram e Paco Talocchi. Pra quem queria um ticket pro inferno, mas aquele dos bons, tá aí.

“Fiquei sabendo da Capslock no Arte [canal público franco-alemão], daí o Gezender, um novo artista da Gigolo, me contou sobre a festa e também encontrei muitos brasileiros em Berlim que me falaram sobre. Então eu entrei em contato com eles e fechamos uma data na hora. Estou muito feliz de tocar nessa festa extraordinária e conhecer a nova cena noturna de São Paulo”, diz o animadíssimo DJ Hell. Quer ler mais? Então antes dá um play neste set maravilhoso set gravado em comemoração aos 20 anos da Gigolo, gravado no icônico Tresor, em Berlim, durante o festival New Wave Rave, antes de partir para a conversa.

DJ Hell @ Tresor Berlin – 20 Years Gigolo Records Anniversary – New Wave Rave Festival

Music Non Stop – Fale um pouco sobre o começo do seu interesse pelo Brasil, quando foi a primeira vez que esteve por aqui?

DJ Hell – Foi em 1996. Me conectei imediatamente com as pessoas, me senti muito acolhido e decidi passar aqui todos os invernos europeu desde então, curtindo o verão brasileiro em São Paulo, Rio e Floripa. Meus primeiros eventos grandes foram o Mercado Mundo Mix, depois toquei em festivais grandes, festas de fashion week em São Paulo, clubes em Belo Horizonte. Muitas vezes toquei no D-Edge e até cheguei a ter um parceiro no Brasil para lançar todas a compilações da Gigolo.

Sou um grande fã de futebol e sempre gostei do futebol brasileiro. Garrincha foi um dos melhores jogadores de todos os tempos e um dia vou terminar um documentário sobre a vida dele. Lá pelo ano 2000, mantivemos uma sociedade com a agência Smartbiz, do Fernando Moreno, e ele ajudou muito a espalhar o som da Gigolo por todo o Brasil.

Music Non Stop – Como você ficou sabendo da Capslock?

DJ Hell – Fiquei sabendo da Capslock no Arte [canal público franco-alemão], daí o Gezender, um novo artista da Gigolo, me contou sobre a festa e também encontrei muitos brasileiros em Berlim que me falaram sobre. Então eu entrei em contato com eles e fechamos uma data na hora. Estou muito feliz de tocar nessa festa extraordinária e conhecer a nova cena noturna de São Paulo

Music Non Stop – A Gigolo foi uma das primeiras gravadoras alemãs a espalhar a notícia sobre a música eletrônica brasileira mundo afora. Por que você decidiu investir em artistas daqui?

Laima e Iggor do Mixhell são grandes amigos do DJ Hell: “o Iggor é um dos caras mais cool que eu conheço”

DJ Hell – Música brasileira é um artigo altamente popular, coisas como Chico Buarque, Tom Jobim, todo mundo adora. Minha vida toda eu passei buscando novos talentos e novas formas de fazer música eletrônica, queria trazer novos sabores para o techno e a house. Brasil com certeza é um país musical e todo mundo curte dançar, não apenas Carnaval uma vez ao ano. Digitaria, Gezender, Gui Boratto ou Mixhell são novidades muito legais da música eletrônica brasileira e tenho certeza que tem muito talento novo a ser descoberto. Iggor e Laima do Mixhell se tornaram grandes amigos e ouso dizer que o Iggor é um dos caras mais cool que já conheci na vida!

Music Non Stop – Está rolando um resgate do electro. Queria saber o que você acha disso.

DJ Hell – A vida é feita de ciclos, na música, na moda, no cinema. Era algo lógico o fato de o electro atrair uma geração mais jovem. Quando eu comecei o electroclah com a Gigolo rolou um fenômeno mundial sem fronteiras. Os brasileiros realmente se conectaram profundamente com esse som então não me espanta que esteja acontecendo de novo. Tomara que muitos produtores brasileiros ainda assinem com a Gigoolo e que eu posso convidar todos eles para tocar em Berlim.

Dicas de ouro de Hell pra quem quer ir longe na noite: nada de drogas ou bebida, no lugar, amor e esportes

Music Non Stop – Você toca desde os anos 80 então tem a capacidade de fazer uma análise com muito estofo da cena eletrônica até hoje. Como enxerga o crescimento da cena eletrônica, com tantos DJs comerciais e festivais gigantes?

DJ Hell – A meca da noite é Berlim. E em Berlim, o sentimento é de que não existe nada além de techno no mundo todo. Ibiza é o grande imã de dance music popular da terra de maio até outubro, isso significa que a maior parte dos grandes DJs vivem por lá e fazem suas noites na ilha. É um megahype e nada parece ser mais importante do que estar no verão em Ibiza. Eu amo e odeio isso ao mesmo tempo, toco lá uma vez por ano e já deu pra mim. A maior parte dos DJs usam pen-drive hoje em dia, mas no fim das contas ainda é como antigamente, são duas fontes sonoras e um mixer. Tem tanta música boa sendo lançada a cada minuto que os DJs se tornaram mais importantes ainda para separar as coisas que realmente são inovadoras, boas mesmo, e apresentar num set perfeito para uma multidão dentro de um clube. Outra coisa a ser dita é a importância dos clubes e dos DJs desses clubes, porque é ali que tudo começa. Techno e house nunca foram criadas por festivais ou para servir de moldura para efeitos especiais e fogos de artifício num palco gigante.

Music Non Stop – Você pode falar sobre como conheceu a Joyce Muniz?

DJ Hell – A Joyce é muito conhecida em Viena e Berlim – ela mora na Áustria há vários anos e, claro, um dia nos encontramos numa festa. Eu adorei o sample dela de

e acho que ela é uma produtora e DJ cheia de talento. Seu próximo single, Toxic People, saindo pela Gigolo irá lançá-la ao topo!

Music Non Stop – Como você conheceu o Gezender, outro artista brasileiro que está lançando pela Gigolo?

O brasileiro Gezender vai lançar pelo Gigolo

DJ Hell – Acho que nos conectamos pelo Facebook ou por email. Ele disse que gostava dos meus DJ sets e das minhas músicas e que ele acha que sua produção tinha muito a ver com o que eu fazia. Então eu pedi pra ele me mandar seu material. É simples assim lançar pela Gigolo, não tem jogo, não tem piadinha. A gente até passou um tempo juntos em Floripa.

Music Non Stop – A respeito de saúde, como faz pra um DJ que toca em tantas festas e viaja sempre se manter saudável. Alguma dica imperdível?

DJ Hell – Nada muito especial. Vou listar algumas coisas aqui. 1) não usar droga; 2) comer bem; 3) praticar esportes; 4) dormir bem; 5) não beber álcool; 6) não fumar; 7) muito amor.

Music Non Stop – Como você mantém sua pesquisa musical, quais são suas fontes?

DJ Hell – Cada DJ tem seus segredos, que não podem ser revelados. Conheço DJs bem famosos como Dixon ou Richie Hawtin que não selecionam mais as músicas que tocam, eles contraram gente para ouvir os lançamentos e fazer uma pré seleção, para poupar tempo. Mas DJs mandam música uns pros outros o tempo todo, existe um monte de download ilegal e também tem sites como o Beatport que ajudam a encontrar boa música.

DJ HELL @ CAPSLOCK
Sábado, 20 de janeiro, a partir das xx
Local a ser anunciado
Preço: de R$ 35 (antecipado) a R$ 60 (porta)
Line-up: DJ Hell, Tessuto, Lacozta, Andrea Gram e Paco Talocchi

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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