Funk Como Le Gusta foto: divulgação

“Nosso show tem atmosfera de salão de baile”! Entrevistamos Funk Como Le Gusta, que volta aos palcos em São Paulo

Adriana Arakake
Por Adriana Arakake

A banda Funk Como Le Gusta, sensação da black music em São Paulo com 20 anos de estrada, volta aos palcos para dois shows no Blue Note SP.

O ano é 1998, eu fazia faculdade e entre muito estudo pra não perder a bolsa, tinha as festas, faculdade é sempre uma época maravilhosamente fervilhante, eis que um dia, alguém da galera sugere de irmos ver um amigo tocar e a gente foi, sem grandes pretensões pra noite, chegamos no que minha memória consegue lembrar, um lugar nada requintado com um palco não muito grande. Eu só sei que a banda entrou e a gente só conseguiu comentar “o que aconteceu aqui?” no fim da noite, porque foi dançar da primeira música até a última e o derradeiro “Obrigado!” da big band. Eu precisei perguntar pro pessoal que estava comigo sobre essa noite, pra ter certeza das minhas lembranças e as respostas foram todas “meu deus que noite foi aquela” ou “inesquecível” ou “uma das melhores noites da vida”.

Foi exatamente essa sensação de prazer que me veio a tona quando fui chamada para  entrevistar o Funk Como Le Gusta, a quem me refiro na história acima. Passados mais de 20 anos, a banda formada por Maestro Tiquinho (Trombone e arranjos), Reginaldo 16 Toneladas (Trompete), Hugo Hori (Sax e Flauta), Kito Siqueira (Sax Barítono), Paulo de Viveiro (Trompete), Kuki Stolarski (Bateria), Renato  Galozzi (Guitarra), Eron Guarnieri (Teclados), Sérgio Bartolo (Baixo) e Gustavo Ceki (Percussão), se tornou famosa, porque absolutamente merecia isso, gravou com grandes nomes como Elza Soares, Paulo Moura, Sandra de Sá, Oswaldinho do Acordeon, João Donato, Thaíde, por aí vai, só os pesos pesados da música brasileira, e a festa continua, dia 04.12, sábado, fazem duas apresentações no Blue Note SP, pra comemorar a volta aos palcos depois da pandemia e essa longa e belíssima estrada.

FCLG e Paula Lima em apresentação em uma unidade do Sesc SP foto: reprodução

Adriana Arakake: Como vocês se conheceram e como surgiu a ideia de montar o Funk Como Le Gusta?

FCLG: O FCLG é a princípio, um grupo de amigos. todos os integrantes da formação original já se conheciam e participavam ou participaram juntos em outros trabalhos. nos idos de 1997 alguns desses integrantes resolveram se reunir para umas “jams” que começaram em um estúdio caseiro e depois migrou para alguns bares. Mas, naquele momento em questão, a noite de São Paulo estava meio parada, as casas e os palcos eram pequenos não tinha muita novidade acontecendo, então pensamos em fazer nossa própria festa. Alguém descobriu uma escola de música que se chamava Anexo Domus em Pinheiros e que tinha um espaço nos fundo, com um palco e um pequeno salão sem estrutura nenhuma, mas resolvemos encarar. Com a ajuda de outros amigos no som, luz, projeções, portaria, etc. Logo na primeira noite apareceram 450 pessoas e o sucesso foi se repetindo e aumentando, daí surgiu a banda.

A.A.: É exatamente esse o lugar que me recordo. Quais foram as apresentações mais marcantes pra vocês?

FCLG: Somos uma banda que sempre prezou muito pela performance ao vivo. Para nós, o público faz parte do espetáculo e sempre tivemos essa interação, em quase todos os shows que fizemos e foram muitos ao longo da nossa carreira. Então isso torna as nossas apresentações inesquecíveis. É lógico que algumas tem importância maior, como por exemplo os shows de lançamento de álbuns, os de grandes palcos, ou com convidados muito especiais. Mas é difícil mesmo citar apenas alguns.

A.A.: Qual a receita do FCLG pra tornar cada show uma festa?

FCLG: Sempre prezamos por fazer shows essencialmente dançantes e tentamos conduzir o público para essa atmosfera descontraída de salão de baile.

A.A: Vocês estão em constante renovação, quais mudanças foram mais significativas, desde o primeiro disco?

FCLG: Acho que todos nós, individualmente vamos, ao longo do tempo, mudando atitudes e isso reflete na nossa produção musical. E cada álbum nosso mostra exatamente mostra exatamente o momento que o grupo vive, em função dessa dinâmica de cada integrante.

A.A: Dos 4 álbuns lançados, tem algum preferido por vocês?

FCLG: Todos são filhos, né (risos). Não tem um preferido. Mas nosso público, pela resposta que tivemos e temos em termos de vendagem, streamings, etc, consome mais nosso primeiro álbum o “Roda de Funk”.

A.A. Quais são as maiores influências do FCLG?

FCLG: Por ser uma banda grande, são 10 pessoas, cada um traz sua contribuição pessoal nas composições e interpretações. Mas, a primeira inspiração do grupo como um todo vêm de grandes bandas e músicos da Black Music setentista brasileira,  americana e também da música latina.

A.A.: Vocês tem trajetórias diferentes, bem como trabalham com outros artistas, pensam juntos nos álbuns e shows? Como funciona essa química dando tão certo, por tanto tempo?

FCLG: Sempre debatemos em grupo todas as nossas decisões. As músicas, sejam para shows ou discos, são decididas levantadas e lapidadas em ensaios. Já o trabalho geral é dividido entre os integrantes. Ao longo desses mais de 20 anos, todos nós já descobrimos como podemos contribuir para o todo. Cada um fazendo o seu mellhor, na sua melhor habilidade extra palco.

A.A. Como se adaptaram pra continuar produzindo durante o período mais fechado da pandemia?

FCLG: Na verdade não nos adaptamos, ficamos literalmente em uma espécie de vácuo de produção. Continuamos nos falando, cuidando da empresa, planejando o futuro, até fizemos uma composição nova nos moldes da quarentena, cada um em sua casa. Mas, não entramos na pilha de produzir conteúdo incessantemente, ou fazer lives. Apenas mantivemos a confiança de que esse período terrível ia passar e esperamos para retomar nossas atividades com segurança.

FCLG foto: Laura Pirlo

A.A.: O que o público pode esperar desses shows no Blue Note? É a primeira apresentação de vcs pós pandemia?

FCLG: Com certeza esse show será muito especial. Nunca passamos por um período tão longo longe dos palcos. E será especial também porque nosso último show antes do isolamento, imposto pela pandemia foi exatamente no Blue Note. Não poderia ser melhor para nós que o primeiro da retomada fosse no mesmo lugar. Voltamos…

Sim! Eles voltaram! Sábado será dia de Baile Soul, a mistura de soul, funk, samba, música latina sempre vibrante, os 4 álbuns lançados, as participações surpresa, estará tudo lá. Tive a honra de assistir e conversar com vários músicos, bandas que fizeram suas primeiras apresentações pós isolamento e foi uma emoção só, com o FCLG com toda certeza não será diferente e eu vou aproveitar pra comemorar meus mais de 20 anos dançando na festa que é o Funk Como Le Gusta, reviver tudo que senti nos primeiros shows deles no Anexo Domus. Minha memória afetiva já agradece. Não vejo a hora.

Adriana Arakake

Adriana Ararake é DJ é especialista em Jazz, Soul e Blues do Music Non Stop.