Eli Iwasa Foto: RECREIOclubber/Divulgação

DJ, empresária e modelo, Eli Iwasa agora é também dona de selo e produtora musical

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Em collab com a polonesa GIGEE, brasileira lança Juicy Bar, primeira música da label Heels of Love; conversamos com ela!

“A gente é de um tempo em que DJ era basicamente DJ, e produtor, basicamente produtor”, conta Eli Iwasa de sua casa, enquanto conversa com o Music Non Stop. O pensamento old school explica por que a DJ, habitual em clubes e festivais de todo o país (e fora dele) relutou tanto em lançar uma de suas primeiras faixas, já batendo os 30 anos de carreira.

Ser “basicamente DJ”, no entanto, nunca foi uma condição na vida de Iwasa. Começou como promoter de uma das noites mais lendárias de São Paulo, a Technova, no clube Lov.e. Depois, passou a trazer DJs gringos, fazer eventos, abrir clubes e bares na região de Campinas e, claro, discotecar.

Parece muito, mas não o suficiente. Além de ter se embrenhado na carreira de modelo (faz parte do casting da agência Ford Models), Eli Iwasa dá o pontapé inicial na história de seu selo independente, por onde pretende lançar músicas suas e dos amigos mais talentosos.

A história do selo Heels of Love começa nesta sexta-feira, 29, com o lançamento de Juicy Bar, um single que produziu ao lado da polonesa GIGEE. Conversamos com ela sobre o sentido e a importância de uma gravadora hoje e o dia a dia, conciliando tantos projetos em paralelo.

Eli Iwasa

Eli Iwasa e a produtora polonesa GIGEE. Foto: Divulgação

Jota Wagner: Pra que montar um selo nesta fase da sua vida?

Eli Iwasa: Ter um selo é um projeto antigo meu. Queria ter feito há mais tempo, mas por conta de todas as outras coisas que já faço, não conseguia separar esse tempo, energia e dedicação. Só resolvi lançá-lo agora porque tenho um time de pessoas envolvidas comigo, dá para ter uma operação legal e atender a todas as demandas dos artistas que estão envolvidos também.

Essa primeira vontade de fazer veio quando?

Faz muito tempo, Jota. Eu e o Mau Mau já pensávamos nisso, na época da Technova. Eu recebo muita música lançada por produtores brasileiros, e isso se intensificou muito nos últimos anos. É música que eu toco, que é testada ali, na pista, com resultados ótimos e que, muitas vezes, não é lançada.

O que uma música precisa ter para convencer a Eli Iwasa a lançá-la?

Meu selo vai lançar de tudo. Reflete muito o que eu faço como DJ, não se prende a um estilo. Vai ter techno, coisas mais experimentais… Na verdade, eu preciso gostar e me emocionar. Lógico que no começo vai ter bastante coisa para a pista de dança, porque meus sets são muito energéticos e vamos começar com coisa que funciona, que eu gosto de tocar.

A Heels of Love vai lançar só artistas brasileiros?

No começo, sim. Os primeiros dois EPs vão ser meus, mas sempre conectando pessoas do nosso universo. Meus amigos, produtores, pessoas que eu gosto não só do Brasil, mas de fora também… Vamos nos conectando e formando uma rede de criativos que vai muito além da música, como designers, [produtores de] eventos, etc. Como uma introdução natural, vai ser focado no Brasil, mas com a ideia de convidar artistas de outros países para colaborar, fazer música junto ou remixes. É aproximar pessoas que estão no meu círculo há anos.

O selo nasceu da minha vontade de lançar as próprias músicas, sem ter que lidar com o slow compromising. Porque você manda suas músicas prum selo, e precisa se enquadrar no que eles buscam. Às vezes, fica meses esperando um resposta. Acho que estou em um momento privilegiado de não ter mais que fazer concessões.

Eu tentei, no meio do caminho. Mas acho que estou num momento que posso fazer isso através do meu selo, e de alguma maneira ajudar outros artistas daqui, que também têm a mesma dificuldade que eu.

Estamos vivendo um momento muito interessante de produção em nosso país. Por que não mostrar isso para as pessoas?

Você também fez um caminho inverso. Os DJs produzem música para se promover como DJs. Você está lançando suas primeiras músicas agora, já tendo uma carreira reconhecida.

Nós dois somos de um tempo, Jota, em que DJs eram basicamente DJs, e os produtores, basicamente produtores. Poucos faziam as duas coisas muito bem. Na maioria dos casos, um bom DJ produzia mal e um bom produtor era um péssimo DJ. Mas hoje, com a coisa da tecnologia e tal, tem uma demanda de mercado que é a de fazer as duas coisas muito bem. Mas eu nunca quis ceder muito a isso, sabe? Todo mundo dizia, “você precisa produzir, precisa lançar!”. E eu sempre deixei isso muito claro: eu sou essencialmente uma DJ. É o que me emociona. Eu gosto de tocar minhas músicas e de outras pessoas, compartilhando tudo isso com a pista.

E como foi essa experiência de estar em estúdio e em parceria?

Eu e a GIGEE temos amigas em comum. Fomos apresentadas por elas. Ela é muito parecida comigo em termos de conhecimento musical e de versatilidade. Achei que ela seria a pessoa certa para fazer meu primeiro EP. Logo nas primeiras ideias que trocamos, tudo fluiu muito rápido. Estamos lançando uma música que é a cara dos meus sets, na verdade. Pra cima, pra frente, hedonista e festeira.

O quão importante é para um DJ fazer a música igual ao que ele toca no set?

Como é o primeiro single, ele é basicamente um retrato do meu momento… É o que eu toco, o que eu gosto, o que funciona. Mas eu não quero ficar muito presa a nada. Se eu quiser fazer algo completamente diferente do que eu toco, ir para um caminho mais experimental, também quero poder fazer.

O selo é sobre isso. Poder percorrer diversas sonoridades que fazem parte do meu trabalho como artista, sem abrir mão de nada. Às vezes, quando está fazendo música para outras pessoas, você sempre tem que se encaixar em alguma coisa.

Como está a agenda da Heels of Love?

Em março, sai um segundo EP meu, e o terceiro, ainda no primeiro semestre, com o Abragah, de Curitiba.

Como é possível fazer tanta coisa ao mesmo tempo? Administrar várias casas, discotecagem, agora o selo…

Na verdade, eu não planejo nada muito bem. Sou péssima para planejar. Mas no meio do caos que é a minha vida, eu consigo, de alguma maneira, fazer tudo o que eu preciso. Faço isso há tantos anos, que elas se tornam meio fáceis. Para as pessoas, às vezes parece complexo dar conta de tantas coisas, mas é algo que faz parte do meu dia a dia.

Eu amo o que faço e nem parece trabalho, exceto nas partes chatas. Mas sou muito feliz fazendo as coisas, vendo as coisas acontecerem, tirando do papel. A parte pessoal sempre sofre um pouco. No meio da correria das minhas agendas, sempre tento achar alguns dias ali que são dedicados à família, amigos e relacionamentos. É cansativo. Não é fácil. Agora, por exemplo, estou supergripada, porque chega uma hora que o corpo não agenta. Mas é isso. Está dando certo.

O Hemingway escreveu que quem faz o que gosta nunca vai precisar trabalhar…

Eu tenho uma (não sei se é mesmo) péssima mania: sempre transformo meus hobbies em trabalho. Mas acho que isso é bom, né? Acho que ser apaixonado pelo que se faz é um dos grandes segredos para ser bem-sucedido e realizar as coisas que você quer.

Erramos: Juicy Bar não é a primeira faixa oficial lançada por Eli Iwasa, mas a terceira. A primeira foi Supernova, em 2014, e a segunda, Absolut Party, collab com Mau Maioli que chegou em outubro de 2024. A informação foi corrigida.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.