Brian Eno Foto: Cecily Eno/Divulgação

Doc sobre Brian Eno será diferente a cada sessão de cinema

Jota Wagner
Por Jota Wagner

ENO começa a circular na Inglaterra em 12 de julho

A partir de 12 de julho, começa a circular nos cinemas da Inglaterra um novo documentário sobre a vida de Brian Eno, editado de um jeito bem “Brian Eno”. A cada sessão de cinema, o filme, chamado ENO, terá uma sequência de imagens diferente da anterior, graças a uma nova tecnologia que ele chama de “software generativo sob demanda”. Coisa de doido. A direção ficou por conta de Gary Hustwit, cineasta independente conhecido por documentários sobre arquitetura e design.

Segundo a Mixmag, Hustwit uniu-se ao creative technologist Brendan Dawes para trazer entrevistas inéditas, a partir de um arquivo de filmagens nunca antes vistas e música que não foi lançada. A obra documenta as cinco décadas de inovação musical do artista britânico, mostrando de perto por que ele é um dos nomes mais importantes da arte.

No livro On Some Faraway Beach: The Life and Times of Brian Eno (2008), o autor David Sheppard utiliza uma palavra  perfeita para se referir a Brian Eno: polimorfo. Efetivamente, fica muito mais fácil compreender o genial produtor inglês como um plasma que se arrasta pelo tempo e pelo espaço sugando elementos que precisa para criar sua música, ou “não música”, como ele mesmo define.

Dentre as coleções de influências que engoliu com a força de um buraco negro durante o seu deslizar pela vida, três mundos são fundamentais e se refletem em tudo o que fez desde surgiu, no final dos anos 60: a pequena vila em que nasceu, Melton, “onde nada acontece por centenas de anos”, a obra do pintor modernista Piet Mondrian e o som de John Cage, papa da música avant-garde cujas experimentações caíram com uma luva para o que Brian pretendia fazer.

A autointitulação de “não músico” sempre foi orgulhosamente citada por ele porque, também, não participou de nenhum estudo formal na linguagem artística que o tornou famoso. E isso foi providencial. Ao não conhecer as regras, tudo lhe parecia possível. Nada estava errado. Brian Eno mudou-se para Londres para frequentar as transformadas “escolas de arte” inglesas. Lá, conheceu os amigos com quem fundaria o Roxy Music, em 1971. Apesar do grande sucesso, o grupo que passeava entre o experimentalismo e o glam-rock foi apenas a porta de saída para o jovem artista, um trampolim para um salto que nunca mais o trouxe ao chão.

O produtor se dedicou ao que mais amava. A música experimental, ambient e minimalista. Começou a lançar álbuns seminais para o estilo, e sua falta de lógica — ou, na verdade, uma superlógica que ainda não compreendemos — chamou a atenção de muita gente que queria algo mais em sua música. Produziu ou colaborou em discos de artistas como DEVO, Talking Heads e David Bowie, além de Harmonia e Cluster, expoentes do movimento krautrock, alemão.

Não parou, nunca mais. Criou instalações audiovisuais, fez trilhas sonoras para filmes (aqueles que exigiam as mais doidas soundtracks), além de, doido por tecnologia, ter se aventurado no mundo de programas de computadores, como o projeto 77 Million Paintings, que gerava imagens a partir de sons. Seu último álbum de estúdio é o ForeverAndEverNoMore, de 2022, lançado pela gravadora Verve.

Ainda não há previsão para chegada de ENO aos cinemas brasileiros, mas fica aqui a dica para os próximos festivais e mostras: nós queremos!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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