Jimi Hendrix Foto: Reprodução

Em seu aniversário de 80 anos, Jimi Hendrix tem suas origens contadas em biografia

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Gênio máximo da guitarra, Jimi Hendrix faria 80 anos dia 27 de novembro. Sua história é contada na biografia Uma Sala Cheia de Espelhos, que acaba de ganhar edição em português

Poucos dias de lançarem o disco Sargent Peppers & The Lonley Hearts Club Band, os quatro Beatles foram assistir a um show de Jimi Hendrix em Londres. Para surpresa da banda, Hendrix tocou uma versão sua para a música que dá título ao disco.  Quando a música acabou, George Harrison olhou para seus colegas de grupo e disse: “É… acho melhor vocês procurarem outro guitarrista”.

A sensação causada pela performance de Jimi Hendrix em um dos maiores guitarristas da história do rock, George Harrison, não era incomum.  Hendrix deixava de queixo caído a quem o testemunhasse tocando, sejam eles fãs ou colegas músicos.

Os elementos que contribuíram para que o garoto de Seattle se tornasse um dos maiores gênios de seu instrumento chegam agora ao conhecimento dos brasileiros, através da edição em português da biografia Jimi Hendrix – Uma Sala Cheia de Espelhos, escrita por Charles R. Cross e traduzido por Martha Argel (editora Seoman). A obra promete contar a “verdadeira história por trás do mito do Maior Guitarrista de Todos os Tempos”.

Como é comum aos biógrafos, a falta de charme literário sobra em acurácia na apuração dos detalhes. E, para entender Hendrix, isso é o que mais interessa, ao contrário de parágrafos apaixonados e metáforas sensíveis.

Cross trabalhou por cinco anos no livro e gravou mais de trezentas entrevistas com parentes vivos, vizinhos e amigos de infância. Conta com detalhes a história de vida dos descendentes de Hendrix, dedicando uma investigação especial à conturbada história dos pais do guitarrista.

Filho de um marinheiro e uma garçonete, ambos com relação problemática com o álcool, Hendrix cresceu nas proximidades da rua Jackson, em Seattle. O local era o ponto de encontro da música negra naquela região, cheio de bares, clubs e lojas de discos. Ali, Hendrix teve contato íntimo com o blues e o soul, a ponto de, garoto, conhecer Little Richard no camarim de um pequeno show naquele local.

Hendrix e seus irmãos foram criados nos lares de várias famílias diferentes. Vizinhos e parentes, ao se chocarem com as condições em que as crianças conviviam com Al e Lucille, seus pais, assumiam a função de alimentar, enviar a escola e, em muitas ocasiões, educar. Inclusive, musicalmente. E seus pais, segundo Cross, não se importavam muito em transferir esta responsabilidade a desconhecidos. Al teve seis filhos com Lucille, negou a paternidade de todos e, ainda assim, mantinha relacionamento fixo com a mãe de Hendrix. Quando percebia que a criança desenvolvia problemas de saúde (o que acarretaria custos financeiros no tratamento), entregavam a criança para adoção, o que separou Hendrix de três de seus irmãos.

Desde adolescente, Hendrix assustava os colegas músicos com a técnica que desenvolveu. Seus longos dedos e o fato de ser canhoto deram ao som de seus riffs uma característica única.

Com igual riqueza de detalhes, Cross nos leva a passear pela trajetória de vida de Jimi Hendrix até sua morte, em um hotel em Londres, ao lado da namorada Monika, Assustada, ligou para o amigo Eric Burdon antes mesmo de chamar a ambulância, o que pode ter ocasionado o atraso no socorro e, por consequência, a morte de Hendrix.

Ao ler Uma Sala Cheia de Espelhos, temos a sensação de estar montando um quebra-cabeça. Cada episódio de sua vida, desde a infância, vai sendo encaixada em seu devido lugar, até que a imagem de um grande ídolo do rock esteja finalmente completa. É o tipo de trabalho que ajuda a “desromantizar” a vida de um artista de sucesso, fazendo a admiração do conhecido substitua a idolatria ao suposto ser.

 

 

Ao ouvirmos, deitados na cama e de luzes apagado, os discos de Jimi Hendrix, moldamos o ídolo para servir aos nossos sonhos adolescentes no rock’n’roll.  Ao ler uma boa biografia, como a de Cross, vemos Jimi Hendrix tomar de volta sua história, cujas dores e batalhes foram vencidas na vida real.

À Hendrix, a vida que é só sua. Assim como a sala, cheia de espelhos.

 

 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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