Jimi Hendrix: o mito faria 80 anos em 2022

Jimi Hendrix 80 anos. Tudo sobre Black Gold, a obra-prima do gênio, guardada à sete chaves

Claudio Dirani
Por Claudio Dirani

Na semana em que Jimi completaria 80 anos, o Music Non Stop decidiu investigar o conteúdo da “joia da coroa” de sua herança musical

Jimi Hendrix deixou o planeta Terra com apenas 27 anos, quando aparentemente tinha outra missão: levar os sons incompatíveis criados durante sua breve carreira para outra dimensão – uma dimensão, talvez, capaz de compreender melhor sua genialidade.

Na data em que o nativo de Seattle completaria 80 anos (27/11), nada melhor do que tentar desvendar (mais uma vez) um de seus mais bem guardados mistérios: o paradeiro da suíte musical Black Gold.

Os segredos do baú de Jimi Hendrix

Desde que a família Hendrix assumiu o legado musical de Jimi em 1997, cinco álbuns montados a partir de seus registros em estúdio chegaram às mãos dos fãs: First Rays of the New Rising Sun (1997), South Saturn Delta (1997),Valleys of Neptune (2010), People, Hell and Angels (2013) e Both Sides of the Sky (2018).

Some a essas compilações, mais duas caixas com múltiplos discos de raridades de estúdio e ao vivo: The Jimi Hendrix Experience (2000) e West Coast Seattle Boy: The Jimi Hendrix Anthology (2010).

Embora a CEO da Experience Hendrix (a irmã paterna de Jimi, Janie Hendrix) tenha sido bastante generosa nesse um quarto de século gerenciando o legado do guitarrista, somente uma joia da almejada Black Gold foi revelada em seu formato original: a demo acústica de “Suddenly November Morning”, inserida como última faixa da caixa West Coast Seattle Boy.

Outras peças que supostamente entrariam em Black Gold – “Astro Man”, “Stepping Stone” e “Drifting” estão disponíveis em versões diferentes no póstumo First Rays Of The New Rising Sun. (Não é sabido, porém, se tais faixas são fiéis ao projeto original).

Já versões de “Trash Man” e “Machine Gun” estão disponíveis, respectivamente, nas compilações Midnight Lightning e Band Of Gypsies (ao vivo). Em ambos os casos, não há certeza se as músicas são idênticas às seleções de Black Gold.

(…)

Em julho de 2015, quando colaborador da 89FM – A Rádio Rock – tive a oportunidade de entrevistar Janie Hendrix, que esteve em São Paulo como curadora da mostra “Hear My Train-A Comin’” no Shopping JK Iguatemi. Ao questioná-la sobre a possibilidade de ouvirmos Black Gold em sua forma completa, a meia-irmã de Jimi foi apenas suscinta: “Sim, Black Gold existe. Temos intenção de lançá-lo, mas ainda não temos data para isso”, afirmou, ainda que de forma bastante superficial.

A parte positiva da entrevista, ainda que ínfima, foi confirmar a existência do lendário material.

Para entender o status de Black Gold, vale uma breve visita ao passado de Jimi Hendrix.

“(Black Gold) Seria um projeto autobiográfico combinado a um mundo de fantasia, que Jimi havia criado”, relembra o ex-vocalista do The Animals, Eric Burdon.

“Sempre que falava sobre esse projeto, Jimi parecia sempre muito empolgado. Era como se fosse um personagem de uma história em quadrinhos. Tenho certeza de que ele conseguiu finalizar ao menos uma parte da suíte”, garantiu Burdon.

A data exata das composições incluídas em Black Gold não é definitiva, há pistas de que Jimi trabalhava na versão definitiva de uma fita demo no período em que seu estúdio particular, Electric Lady, era finalizado em Nova York.

Outros indícios da criação das faixas que estariam no mítico projeto apareceram em folhas timbradas do Londonderry Hotel, onde Hendrix se hospedou na capital inglesa, em março de 1970.

Em uma de suas últimas entrevistas, o próprio compositor jogou luz sobre as origens de Black Gold.

“Eu queria produzir coisas parecidas com medleys – ou algo parecido. Tenho composto coisas desse tipo ultimamente, porque adoro desenhos animados – ou desenhos animados musicais”, explicou Jimi ao jornalista inglês Keith Altham.

Black Gold – o conteúdo

Para tentar desvendar as origens e todo o processo criativo de Black Gold é preciso montar um quebra-cabeças. Não há datas exatas das gravações, mas uma das histórias mais fascinantes sobre o “tesouro perdido” de Jimi foi revelada pelo (já falecido) baterista da Experience, Mitch Mitchell.

Em 1992, Mitchell revelou ter encontrado em sua residência, no Reino Unido, uma caixa contendo uma fita cassete envolvida por um rótulo com as iniciais BG (Black Gold).

Nesse mesmo tape, estariam 15 demos que Jimi havia composto e entregue ao baterista em agosto de 1970 para que ele trabalhasse nos arranjos definitivos, incluindo a acústica “Suddenly November Morning”, disponibilizada aos fãs somente em 2010 pela Experience, de Janie Hendrix.

 

O fato de a versão original acústica chegar ao alcance do público é a pista mais quente de que todo o conteúdo de Black Gold está em algum lugar nos arquivos de Hendrix, esperando o momento certo de vir à luz.

A comemoração dos 80 anos de Hendrix, aparentemente, não foi a escolhida para brindar os fãs de longa data do gênio.

Confira as faixas incluídas na misteriosa fita de Jimi Hendrix

LADO A

Suddenly November Morning (Disponível em West Coast Seattle Boy – 2010 em formato acústico)

Drifting 

(Versão de estúdio desta faixa foi lançada em First Rays Of New Rising Sun)  

Captain Midnite (Captain 1201)

(Inédita)

Loco Commotion

(Inédita)

Here Comes Black Gold

(Inédita)

Stepping Stone

(Disponível em First Rays Of New Rising Sun).

Little Red Velvet Room

(Inédita)

LADO B

The Jungle Is Waiting

(Inédita)

Send My Love To Joan Of Arc

(Há chances de ser a versão original de “Send My Love To Linda”, lançada em Both Sides Of The Sky)

God Bless The Day

(Inédita)

Black Gold

(Inédita)

Machine Gun

(Versão lançada no álbum Band Of Gypsies – não se sabe ao certo se é a mesma incluída na fita dada a Mitchell)

Here Comes Black Gold
(Não se sabe com absoluta certeza se é uma versão diferente ou reprise da música incluída aqui no lado A)

Trash Man

(Uma versão de estúdio de “Trash Man” foi gravada em Nova York em abril de 1969, e lançada em 1975 no álbum (fora de catálogo) Midnight Lightining.  Não está confirmado se o conteúdo da fita é o mesmo ou se trata de uma demo acústica)

Astro Man (Part 1)

Astro Man (Part 2)

(Uma versão de “Astro Man” aparece em First Rays Of New Rising Sun. Não é sabido se as gravações são semelhantes à versão de estúdio)

I’ve Got A Place To Go

(Inédita)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Claudio Dirani

Claudio D.Dirani é jornalista com mais de 25 anos de palcos e autor de MASTERS: Paul McCartney em discos e canções e Na Rota da BR-U2.

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