Elvis e Nixon Richard Nixon e Elvis Presley. Foto: Reprodução/Instagram

Agente Elvis? O dia em que o Rei do Rock pediu um distintivo ao presidente

Jota Wagner
Por Jota Wagner

A história por trás da foto mais procurada da Biblioteca Nacional dos EUA envolve rock, drogas e devaneios presidenciais

Elvis Presley colecionou muitas polêmicas ao longo da vida. A maioria, questionada por diferentes especialistas, envolvendo racismo, apropriação cultural e uma estranha subserviência a um empresário linha-dura que se autointitulava “coronel”. Uma, no entanto, é incontestável e se eternizou como uma mancha em sua carreira graças à foto mais procurada nos arquivos da Biblioteca Nacional americana. Mais até do que a famosa foto da primeira constituição do país: o aperto de mão entre com o presidente Richard Nixon, registrado no dia 21 de dezembro de 1970. O manda-chuva conservador americano aceitou, após muita insistência, receber o grande astro do rock após ler sua carta manuscrita, com insinuações conspiratórias e devaneios lunáticos que cabiam perfeitamente à política do então líder máximo da nação.

Nos anos 70, Elvis estava pirado na batata. Batendo pino mesmo. O abuso de álcool e drogas liberou paranoias no cantor, que acreditava estar correndo risco de vida. Sua ideia mirabolante foi convencer o governo dos Estados Unidos a nomeá-lo agente do FBI. Na sua cabeça detonada, um distintivo da corporação lhe daria privilégios em viagens, além de uma certa liberdade para “se defender” usando armas de fogo. Àquela altura, o cantor acreditava que sua popularidade o permitiria discutir o assunto de igual para igual com o presidente. Mas não foi tão simples assim.

Agindo por conta própria, Presley começou a pesar na Casa Branca. Telefonemas, cartas e até mesmo um plantão com sua limusine branca em frente aos portões do centro de controle do poder nos Estados Unidos. O astro insistia dias a fio, mas não era recebido por Nixon.

Até ter a brilhante ideia de escrever uma carta oferecendo seus serviços ao país. Segundo Elvis, os hippies estavam conspirando para destruir os Estados Unidos, “estudando profundamente o abuso de drogras e técnicas comunistas de lavagem cerebral”. Pega a visão. Os Estados Unidos passavam por um momento delicado graças ao fiasco da guerra do Vietnã. E os jovens (os tais hippies) lideravam os protestos na rua, encurralando Richard Nixon no canto do ringue.

Elvis e Nixon

Richard Nixon e Elvis Presley. Foto: Reprodução/Instagram

O papo era uma isca para Elvis Presley conseguir o que queria: a tão sonhada carteirinha de agente. “Eu posso e vou fazer muito mais pelo meu país se for nomeado agente federal. E eu ajudarei do meu jeito, me comunicando com pessoas de toda as idades”, escreveu. Já o presidente viu, em uma associação com uma estrela da música branca, uma forma de trazer pelo menos uma parte dos jovens para seu lado. A geração estadunidense dos anos 70 nadava na música de Janis Joplin, Jimi Hendrix e, principalmente, os Beatles. Todos descendo a lenha na guerra do Vietnã e, por tabela, no presidente em exercício.

A conversa dos dois no salão oval da Casa Branca foi, de fato, coisa de doido: concordaram sobre a destruição que a “música rock” estava causando à juventude americana. Tudo isso vindo de um cara que comprou cada prego de sua mansão promovendo o rock’n’roll, chocando a sociedade americana de tal forma com suas danças que foi apelidado The Pelvis. Mas aquele artista que apertava a mão do presidente era diferente.

Preocupado com as consequências em dar um distintivo a um cara com a estabilidade mental de Elvis (a velha história do “mais perigoso que revólver na mão de macaco”), Nixon optou por negar o pedido do cantor. Não sem antes tirar uma bela foto para sugar o que restava de seu prestígio entre as famílias estadunidenses.

Em 2016, um filme bem mais ou menos foi lançado para contar essa saga. Elvis & Nixon foi estrelado por Michael Shannon e Kevin Spacey. Uma produção um tanto quanto morosa para contar uma das mais fascinantes histórias envolvendo música e política.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.