DJ, modelo, host, gênio do pajubá: o multiclubber Johnny Luxo é o chefe da gangue das lyndas, conheça

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Vamos começar do começo. João Marcelo é o nome. Johnny Luxo, o apelido, que pode ser desconstruído da seguinte forma: 1) luxo porque ele está sempre usando o último grito da moda, sempre trabalhado em grifes; luxo porque ele é educadíssimo, um lorde mesmo; luxo porque ele é uma pessoa extremamente bem-humorada; luxo porque ele é um DJ eclético, que nunca decepciona quando o assunto é fazer uma pista ferver; luxo porque ele é letrado em outras línguas, principalmente o pajubá, dialeto construído a partir de palavras africanas, usado inicialmente no candomblé e adotado pela comunidade LGBT.

Pra quem quiser fazer um intensivão no pajubá, a dica é comprar o livro Aurélia – A Dicionária da Língua Afiada (de Vitor Angelo), à venda neste link.

“Nossa, quanta gente linda, aqui! A Europa em peso! Tô bege! Só gente babadeira”, é assim que ele começa a já clássica Mafuá das Bonitas, citando uma lista enorme das, como ele mesmo escreve, “lyndas”: Alma Smith, Elloanígena, Gloria Maria, Marcelle, Bianca Exótica, Morgana Valença, Valéria Araújo, Magda Cotrófre, Thelma Lipp, Greta Star, Raquelzinha Chave de Fenda… A música é um maravilhoso xoxo, que em pajubá significa tiração de sarro pesada.

Maufá das Bonitas – Johnny Luxo (Boss In Drama Rmx)

Apaixonado por música desde sempre, Johnny se jogou com tudo na eletrônica quando começou a frequentar o Nation, histórico clube de São Paulo do final dos anos 80 que foi recentemente reativado, conforme contamos aqui. Lá, ele absorvia tanto o som mais underground e cabeçudo dos sets de Renato Lopes quando o pop dançante e sensual de Mauro Borges.

Johnny trabalhou como host de outro clube fundamental na formação da aura clubber de São Paulo, o Sra. Krawitz, que tinha como residentes Mau Mau, Renato Lopes e Selma Self-Service aka Edu Corelli, primeiro DJ a tocar montado na cidade.

Em 1998, ele aceitou um convite de Mauro Borges para discotecar no clube Disco Fever (que abriu no lugar do Massivo), onde era host, e nunca mais parou. Virou um DJ requisitado tanto em clubes quanto em festas de marcas e eventos de moda, universo em que ele transita com a habitual elegância.

Com agenda de DJ sempre cheia, Johnny é, atualmente, residente dos clubes Bubu Lounge e Lions, em São Paulo, e do Club 88, em Campinas. Pra quem quiser conhecer seu lado mais piadista, a dica é segui-lo no Instagram, onde ele sempre posta as melhores fotos com as melhores legenda.

Lógico que ele tinha que fazer parte da nossa coluna #MillerMusic, com as personalidades da noite que fazem e acontecem. Então, vamos parar de EQ (truque) e seguir para a entrevista com a lynda.

Music Non Stop – Conte como foi a sua primeira experiência num clube de música eletrônica, com detalhes, por favor.

Johnny Luxo – O Nation conseguia ter a música eletrônica e o pop ao mesmo tempo, os dois DJs residentes faziam linhas muito diferentes. O Mauro Borges era totalmente pop e misturava com clássicos da disco comercial. O Renato Lopes tocava house (Whistle Song do Frankie Knuckles, The Underground Solution com Luv Dancin’), ambient (primeira vez que ouvi 808 State na pista #inesquecível), acid. Foi uma #épocadeouro. Esse tipo de coisa hoje seria impossível, infelizmente #vidaquesegue. No Sra. Krawitz era totalmente focado em música eletrônica.

Selma Self-Service, aka Edu Corelli, tocando na festa de despedida da promoter Bebete Indarte

Music Non Stop – Quem foi o/a DJ que te fez querer ser DJ?

Johnny Luxo – Sempre gostei de música desde de menina, levava fita cassete nos bailinhos e fazia coreô de Maniac do Michel Sambello e Legal Tender do B-52’s #abusada. Papy y mamy tinham vários discos em casa, eu ouvia, Bach, ABBA, Elis Regina, trilha sonora das Locomotivas, Dancin’ Days, Barbra Streisand (mamy era super fã). O primeiro disco que eu comprei, foi Flaunt It do Sigue Sigue Sputnik (final de 86), pirava com os modelitos e as perucas.

A banda Sigue Sigue Sputnik na época do lançamento de Flaunt It

Comecei a sair em meados de 89, no fim de 90 conheci a Corelli… kkk no Espaço Retrô (boate das góticas e “salsys fufus” da época). Tinha uma DJ que eu adorava, ela era igual a Patricia Morrison do Sisters of Mercy, chamava Elaine. Ficava bege quando ela chegava na boate, e o set era ATRAQUE!! Tocava Xmal Deutschland, Siouxsie, Bauhaus… Voltando a Corelli, ele vira e me fala: “você já foi no Nation? Você tem que ir, é a sua cara”. Ai comecei a ir no Nation, e amei!!!

Nem imaginava que ia tocar, eu só queria saber de me montar, ouvir as fyas tocando nas boates e ver as lyndas dando close. Magal, Renato Lopes e Mauro Borges foram os DJs que mais ouvi no início dos anos 90, logo depois apareceu o Mau Mau, a Selma Self-Service #fafy.

Music Non Stop – Você toca pelo Brasil todo, conta quais as situações mais erradas que você já presenciou?

Johnny Luxo – Uma vez no interior de São Paulo, em Ribeirão Preto, cheguei para tocar na boate da cidade e só tinha um CD-J funcionando. Fim #vidaquesegue. Certa vez em um lugar muito distante, Petrolina, cheguei para tocar no evento fashion da cidade, e notei que todo equipamento tinha sido montado sobre um aparador de vidro (desses de sala de jantar). No meio da festa, o aparador não aguentou o peso e o grave e quebrou no meio… o equipamento caiu no chão. FIM #peraumminutinho. Em São Paulo então, não vou citar nomes e fatos…kkkk #paz #quefase

Music Non Stop – O que você faz quando te pedem música ruim?

Johnny Luxo – Faço a aeromoça quando se despede do passageiro.

Music Non Stop – Você sempre viveu uma vida dupla no mundo da música e da moda. Quais as coisas mais legais de cada universo?

Johnny Luxo – Gosto dos bastidores de ambos, de ver elas fazendo de tudo para conseguir um lugar ao sol… porque afinal de contas, meu amor, TODAS querem dar o seu bom close. #tragoverdades #fogueiradasvaidades

Music Non Stop – Qual é um comportamento que você gonga na noite?

Johnny Luxo – Falta de educação. Por favor e obrigado são diamantes nessa era de fubá gourmet.

Music Non Stop – Você viveu intensamente a era Hell’s. O que você acha que foi tão importante a ponto de marcar as pessoas até hoje?

Johnny Luxo – Entusiasmo, colocação, loucurinhas e muito choque de monstro.

Music Non Stop – Você tem tiradas de humor que são geniais. Sempre foi meio o piadista da turma?

Johnny Luxo – Sempre, desde criança…rs #cêtábrincando

Music Non Stop – Por último, olhando pra lente da verdade, o que é um close pra você?

Johnny Luxo – O trote da Betty #alamedayayá #comoéquepodeisso

Björk & Jonna Lee em O Trote da Betty

QUER MAIS #MILLERMUSIC? TEMOS!

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.