Curitibano Jayboo conquista segundo lugar na final mundial do campeonato Miller Soundclash, em Las Vegas

Claudia Assef
Por Claudia Assef

E não é que deu Brasil no pódio do campeonato Miller Soundclash, em Las Vegas? O curitibano Mateus Bruschi, aka Jayboo, que havia vencido em julho a etapa nacional realizada no Clash Club, em São Paulo, ficou com a segunda colocação na final da etapa mundial. Outra surpresa boa foi o caneco de primeiro lugar. Entre os finalistas estavam Nico Hamui, representando a Argentina, Selekta Shellz e DJ C Stylez, ambos do Canadá, Nicolás Inguerzon, do Chile, DJ Cahen, da Colômbia, Allan Nunez, de Honduras, a DJ Vane, do Panamá, Augustin Gandino, do Panamá, e o DJ Skorotsky, da Rússia. Única mulher entre os 10 finalistas, a panamenha Vane deixou júri e público impressionados com sua técnica e repertório e acabou levando a melhor.

A panamenha DJ Vane mostrou a que veio: impressionou júri e público com sua técnica e repertório

Este ano, aliás, tem se mostrado bem importante para as meninas DJs; além do Soundclash, outro campeonato importantíssimo, o DMC, teve pela primeira vez em sua longa história uma vencedora mulher, a norte-americana DJ Perly.

Mas voltemos ao nosso campeão, Jayboo. DJ desde meados dos anos 2000, ele foi aluno de discotecagem e produção musical da AIMEC Curitiba, escola onde atualmente é professor. Além de DJ, ele também é produtor musical e já lançou faixas por mais de 60 lançamentos em selos fonográficos, entre eles Toolroom, Mr Carter, Materialism, Witty Tunes e Hotfingers.

Na final brasileira, no Clash Club, Jayboo mostrou que pra agradar não é preciso necessariamente atacar de hits. Ele foi certeiro e criativo, tanto na técnica quanto na escolha do repertório, que surpreendeu a cada nova track. Claro que ficamos morrendo de curiosidade pra saber como foram esses dias mágicos nos Estados Unidos, detalhes sobre o campeonato e otras coisas más. Por isso, é Jayboo o entrevistado da coluna #MillerMusic desta semana. Dê o play no set que ele mandou para conseguir a vaga no Miller Soundclash e parta para a entrevista.

MILLER SOUNDCLASH 2017 – JAYBOO

Music Non Stop – Como você reagiu quando anunciaram seu nome como segundo colocado no Miller Soundclash?

Jayboo – Lembro do meu coração acelerar e vir à mente o pensamento: “putz, não foi dessa vez…”. Passou um filme na minha cabeça em segundos: o que poderia ter sido melhor, onde eu errei, como melhorar. Porém passaram alguns minutos e realizei que era um ótimo resultado perante outros dez talentos do mundo na etapa final. E claro fiquei mega feliz em estar entre os três melhores. Eu costumo ser uma pessoa positiva e estava trabalhando para ser o vencedor (rs). Dizem que o que pensamos acontece e tenho levado isso como um estilo de vida, tentando sempre mentalizar coisas boas e buscando atraí-las.

Foi quando me dei por conta do que considero um dos motivos principais por eu não ter alcançado a primeira colocação: nas últimas três semanas antes da competição fiquei focado em aulas de conversação de inglês em vez de preparar meu set. Consigo entender tudo que falam e me expresso bem, porém estava inseguro por não praticar muito a conversação.

JAYBOO FALA DA EXPERIÊNCIA EM LAS VEGAS

Music Non Stop – O que você acha que fez de legal que o levou tão longe no campeonato? E onde ainda dá pra melhorar?

Jayboo – Desenvolvi uma forma bem particular de tocar, o que transforma cada show em uma apresentação única, mesmo que eu repita a ordem de músicas em duas festas será diferente. Minha grande inspiração foi o James Zabiela, quando vi ele ao vivo pela primeira vez descobri o caminho que queria seguir. Uma frase que mudou minha vida: “A performance de um artista está totalmente relacionada à sua personalidade”, lembro desse dia pegar um papel e uma caneta e tentar me ver como terceira pessoa, colocando minhas qualidades e defeitos no papel: sou mega hiperativo e extrovertido e isso está na cara em minhas apresentações.
Adoro essa adrenalina do improviso e tentar fazer as coisas diferentes, é o que me motiva a continuar buscando novas formas de me expressar através da discotecagem. Se eu tiver que parar de usar esse formato, melhor achar outra profissão.

Music Non Stop – Vi você tocando em SP e gostei muito do repertório. Curti o fato de você não tocar os hits óbvios do momento. Como foi a sua formação musical em casa?

Jayboo mostra o fone V-Moda customizado que ganhou no campeonato

Jayboo – Quando eu era moleque gostava basicamente de pop e rock, cheguei a tocar violão por um tempo. Depois conheci: Daft Punk, Square Heads, Modern Talking, Gigi D’agostino, Vengaboys e por aí vai. Além disso sempre fui viciado em tecnologia, um dos motivos pelo qual me apaixonei pela dance music, já que ela surgiu junto com a popularização de equipamentos eletrônicos. Descobri o techno e a house oficialmente quando tinha aproximadamente 13 anos, meus tios tinham um clube em Curitiba e no litoral do Paraná chamado Café Curaçao. Quando fui lá pela primeira vez e vi uma pista de dança “bombando” encontrei minha paixão. Foi uma espécie de fusão entre o amor pela música, tecnologia, luzes e quantidade de botões disponíveis nos equipamentos. Atualmente tenho escutado muitos gêneros musicais, o sistema de streaming facilitou muito.
Costumo garimpar o que chamo de “DJ Tools”, escolho trechos de músicas de que gosto de qualquer gênero ou época para utilizar pequenos trechos em forma de live mashups, interagindo com efeitos e loops.

Music Non Stop – Quanto tempo você pratica por dia?

Jayboo – Atualmente não tenho costume de praticar diariamente, achei que esse dia não chegaria (rs). Tive uma fase bem longa de práticas diárias e quando estou discotecando geralmente minha mente pensa como produtor, utilizo loops e efeitos de uma forma parecida com a que faço quando produzo.

Music Non Stop – Você foi aluno e depois se tornou professor na AIMEC. Conta um pouco da sua trajetória aprendendo a ser DJ.

Jayboo – Eu estava na hora certa e no lugar certo. Fiz o curso de Produção Musical na AIMEC Curitiba em meados de 2005, já era DJ antes disso. Fui um aluno super-aplicado, quando abriram a sede de Balneário Camboriú fui convidado para um teste e realmente gostei muito da ideia. O que mais me motiva são dois pontos principais: primeiro que em cada aula revejo conteúdos dos mais rasos até mais complexos e isso me obriga a desenvolver minhas habilidades diariamente em sala de aula para evoluir a didática, segundo: uma das funções de um bom professor, em qualquer área, é deixar uma marca positiva na vida de alguém, o que me motiva muito a continuar transmitindo conhecimento.

Music Non Stop – O que você achou do nível dos candidatos na final?

Jayboo – Como filtrou um de cada país, todos que estavam lá sabiam o que estavam fazendo. Percebi que muitos não conseguiram dar o seu melhor pelo ambiente ser diferente de uma balada fechada, a festa foi em uma piscina e realmente com muito sol não é fácil enxergar os botões, além de dificultar a escolha das músicas. Sem contar que estava mais de 40 graus em Las Vegas.

Jayboo e a DJ Vena atentos durante uma masterclass que estava entre as atividades dos finalistas em Las Vegas

Music Non Stop – Como enxerga o mercado para os DJs no Brasil atualmente, pode focar na sua região se preferir.

Jayboo – No meu ponto de vista o mercado está crescendo, principalmente por que em lugares que antes não tinha música eletrônica agora estão consumindo, sem contar que em plataformas como o Spotify temos artistas da música eletrônica bem posicionados nos charts. Acredito que a ascensão é visível e mesmo com a crise política e econômica tem muitas festas rolando.

Music Non Stop – O que esse campeonato te trouxe de bagagem?

Jayboo – Conhecer outra cultura já é muito interessante, foram momentos intensos que vivi, cheios de mimos: fone de ouvido personalizado da V-MODA, entrevista na DJ Mag, mochila da Mono e exposição nas redes sociais. A bagagem realmente está me motivando a acreditar ainda mais no meu trabalho e continuar nesse caminho com garras e dentes.

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.