Prêmio Energias da Arte – EDP – Instituto Tomie Ohtake. Artista Luisa Puterman, São Paulo, SP. 25/10/2016. Fotos: Sofia Colucci.

Conheça Luisa Puterman, a multi-instrumentista paulistana que transita de museus a festas de techno

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Ela toca piano, guitarra, violão, bateria, baixo, percussão. Mas é pilotando sintetizadores, controladoras e outros equipamentos eletrônicos que a paulistana Luisa Puterman, de 27 anos, tem despontando como um dos nomes pra ficar de olho em festas e festivais por São Paulo.

Luisa ganhou o prêmio Energias da Arte do Instituto Tomie Ohtake, mas anda curtindo também a cena de festas de São Paulo

Um dos destaques da programação do Dekmantel SP, Luisa tem formação em História da Arte pela PUC de São Paulo e em engenharia de som pelo IAV (Instituto de Áudio & Vídeo) e é uma artista que consegue transitar por diversas formas e estilos de som. Depois de ter várias bandas com amigos, Luisa descobriu os programas eletrônicos de gravação aos 16 anos. De lá pra cá, ela vem aperfeiçoando sua técnica e ampliando seu repertório, seja participando de festivais e exposições internacionais como o Japan Media Arts Festival, em Tóquio, o FILE (Festival de Linguagem Eletrônica), em São Paulo, ou a Red Bull Music Academy, em Paris, onde fez uma imersão no ano passado.

Em 2016, Luisa participou do One Beat, uma das residências artísticas mais concorridas do mundo, bancada pelo governo dos EUA. O ano foi marcado pelo crescimento de Luisa como artista em duas frentes. Ao mesmo tempo em que ganhava prêmio do Instituto Tomie Ohtake por suas pesquisas sonoras, Luisa também foi botando os pés cada vez mais perto da pista de dança. Tocou em festas como ODD e Metanol, fez set para programas bacanudos como o Na Manteiga, que você assiste clicando aqui, e Rádio Virusss, do crew Mamba Negra, e vem se tornando um nome cada vez mais conhecido na noite. Foi essa mistura de talentos múltiplos que nos levou a querer explorar mais sobre sua multifacetada carreira aqui na série de entrevistas #MillerMusic.

Antes de seguir para o bate-papo, aperte o play aí embaixo e ouça o live inspirado que ela fez como esquenta para o Dekmantel SP.

Luisa Puterman Festival Dekmantel 2017

Music Non Stop – Você gravou recentemente um Na Manteiga e tocou no Dekmantel. Tem se apresentado em outras festas em SP também. Como tem enxergado a cena eletrônica recente?

Luisa Puterman – Curioso, pois as pessoas têm me perguntado isso com bastante frequência. Sinto uma boa energia na cena. Principalmente pelas pessoas que estão envolvidas e fazem acontecer. A grande maioria são pessoas que amam música e necessitam de música para viver, e vejo nisso talvez a base fundamental para que as coisas rolem de modo saudável e verdadeiro. Vejo com bons olhos que está rolando…

Music Non Stop – Você é formada em História da Arte, consegue trazer esse background para a sua experiência como produtora?

Luisa Puterman – Sim. Acredito que história é provavelmente uma das disciplinas mais importantes. Como artista e produtora sinto diariamente a importância de entender os caminhos que a história fez para chegarmos até aqui. Nesse sentido, entender progressões estéticas e inovações tecnológicas através de uma perspectiva histórica ajuda bastante a buscar novas maneiras de se relacionar com música, tecnologia e arte em geral.

Formada em História da Arte e Engenharia de Som, Luisa usa seu background para buscar novas maneiras de se conectar com a música

Music Non Stop – Adorei essa frase no seu release: “som é um elemento central capaz de expandir conexões entre conteúdos científicos, filosóficos, místicos e cotidianos”. Como é possível conectar tudo isso?

Luisa Puterman – Som é um material complexo. Sua manifestação faz parte de praticamente tudo o que é vivo, tudo que vibra. Afinal sua forma invisível se apresenta através de ondas, vibrações. Bom, só o fato de ele ser invisível, de moldar o ar e de esculpir o espaço, já seria suficiente para nos intrigar de verdade. Mas, além de observar os mistérios da sua natureza em si, podemos desdobrar o som em diversas outras áreas do pensamento, o que torna as coisas interessantes e acaba multiplicando essas possíveis conexões. É provável que todo objeto de estudo tenha esse poder na verdade, de unificar aspectos distintos de lugres diferentes. Mas acho que o que realmente potencializa isso no campo do som é a sua onipresença, está em todo canto.

A paulistana Luisa já se apresentou no Japão, Chile, Cuba, e agora surge como novidade nas festas de São Paulo

Music Non Stop – Ainda existe muita desigualdade nos line-ups quando se foca na questão de gênero. Na música eletrônica as mulheres tendem a ser minoria – pelo menos na cabine. Por que você acha que isso acontece?

Luisa Puterman – Infelizmente a história das mulheres, e nesse caso tratando-se de questões profissionais, é desigual. Acho e espero que as coisas estejam mudando, e mudando o mais rápido possível. Mas a desigualdade entre gêneros é uma questão delicada e complexa e dessa maneira qualquer mudança significativa faz parte de um processo. Como qualquer processo, é lento e muitas vezes frágil e não linear.

Music Non Stop – Você já se apresentou em festivais e eventos em diversos países, mas só agora começa a aparecer para o grande público no Brasil. Você desenhou esse caminhou, de rolarem vários projetos fora, e depois focar aqui?

Luisa Puterman – Desenhei nada… Na real tento planejar mais em termos de ideias, projetos e pessoas com que gostaria de trabalhar e explorar. O lugar ou como isso acontece é algo bem doido e inesperado. Gosto muito de viajar e estar deslocada, fora da zona de conforto, então talvez foi buscando isso que esse desenho aconteceu, mas nada muito calculado não.

Luisa se inspirou em John Cage para encontrar seu caminho na música

Music Non Stop – Com que idade você pensou que ia trabalhar fazendo música? Tem algum artista que funcionou como uma grande inspiração?

Luisa Puterman – Talvez e ainda é um pouco difícil de aceitar/admitir mas acho que sempre quis trabalhar fazendo música, é algo que sempre teve um forte apelo em mim. Desde muito cedo toco instrumentos e tento montar bandas, compor e produzir se construiu como consequência disso. Em termos de inspiração, John Cage me ajudou a entender muitas coisas…

Music Non Stop – Como você enxerga o Brasil na timeline da produção de música eletrônica mundial?

Luisa Puterman – Tem muita gente boa aqui… Além de termos uma cultura e gosto por festa que é difícil de encontrar em outros lugares. Acho que essa energia é reconhecida internacionalmente e diria que estamos num bom momento. Mas sempre há o que melhorar…

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Claudia Assef

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Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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