Conheça Dudx, o performer das festas mais bafo de São Paulo que também é publicitário e produtor
Eis que você está flanando por uma festa incrível, num galpão lindamente cenografado, quando se depara com esta cena: um rapaz vestido como lutador de sumô começa a cobrir o corpo com argila e, de repente, se transforma num monstro à la Homem de Pedra. Mas não é só isso. Ele ainda dança butoh e está rodeado por biombos brancos.
Cenas como essa têm se tornado cada vez mais comuns na noite de São Paulo graças à uma recente valorização dos performers, artistas de backgrounds dos mais diversos, que apresentam sua forma de arte viva bem próximos do público. O lutador de sumô citado no início do texto (que na verdade não é um lutador, trata-se de uma segunda pele) atende pelo aka DUDX e, se você frequenta festas como a ODD, certamente já o viu performar.
Não há como passar incólume por uma performance de DUDX. A começar por seu figurino, sempre muito dramático, até a linguagem de suas intervenções, que misturam circo, butoh, muita maquiagem e dança contemporânea, claro. Cocriador da Festa Estranha, ele é residente de boa parte das festas mais legais da cidade: ODD, Dsviante, Popporn, Heyokah, Dando, Cluster, Blum, Festa Estranha e Tenda.
Sim, todo mundo quer um pedacinho do DUDX, e nós aqui na coluna #MillerMusic também, é claro. Por que, entre outras coisas, você vai ficar sabendo que este pisciano nascido em Campinas e criado em Campo Grande (MS) é muito mais que um performer. Publicitário formado, ele comanda uma agência própria, que presta serviços para vários artistas independentes. Mais um spoiler: ele apresentava o programa divertidíssimo Drag Repórter, quando ainda usava o nome Duda Babaloo. Antes de ler, dá um play na música favorita do DUDX aí embaixo.
IV62 Dele Sosimi Afrobeat Orchestra – Too much Information – Laolu Remix
Music Non Stop – Quem te vê performando nas festas talvez não imagine que você vem da publicidade. Como ligou um universo ao outro?
DUDX – Minha formação acadêmica é publicidade e propaganda, fui bolsista do Pró-Uni e agarrei essa oportunidade na época. Hoje percebo que era uma forma de eu me expressar, mas que também me daria uma forma de independência financeira. Trabalho atualmente pela minha própria agência, a Estrondo, onde faço assessoria de imprensa e produção para artistas independentes. Além de prestar serviço para algumas agências na área de criação e conteúdo. Também mantenho o site A Coisa Toda, em parceria com a jornalista Adele Grandis. Tratamos de diversidade (seja de gênero, sexualidade, racial), cultura e entretenimento.
Music Non Stop – Você teve um programa chamado Drag Repórter e era a apresentadora. Conta como foi essa experiência?
DUDX – O Drag Repórter foi mágico. Pedem pra eu voltar até hoje! Eu ia totalmente sem roteiro e muitas vezes coisas bizarras rolavam. Quando você está receptivo e perambulando na noite…já viu! Conheci muita gente nos clubes e nas festas devido a essa experiência. Só agradeço ao César Munhoz que me apoiou bastante nessa ideia. Hoje estou em produção da segunda temporada do Montação, outro programa, esse eu produzo com o videomaker Djalma Amorim via A Coisa Toda, é um formato que eu recebo artistas visuais para entrevistá-los enquanto eles me montam conforme desejarem.
Music Non Stop – Conta como nasceu DUDX?
DUDX – Eu me monto desde os 15 anos. Curtia rock e pop asiático e acabei aderindo às montações inspiradas nos artistas de lá e em toda a diversidade que a cultura oriental oferece. Há três anos houve um boom de drag com o RuPaul’s Drag Race e isso tudo me cutucou, mas cutucou outras formas de me montar que vão além da drag. Esse processo foi bem pontuado pra mim, inclusive fiz uma performance sobre essas minhas fases, passando por cada estética que eu já criei. Eu comecei como Duda Babaloo, depois passei para Dudx Babaloo, mas ultimamente ando usando só DUDX, que pra mim vai além de gênero ou questões debatidas atualmente, vai além do humano.
Music Non Stop – Performance em festas era algo muito normal nos anos 80, em clubes como Madame Satã, por exemplo. Depois nas raves rolava também, com uma pegada mais circense. Por que você acha que a performance voltou com tudo agora na noite?
DUDX – O mundo está falando de performance. Todo mundo fala de corpo a todo instante! Binários, não binários, transicionando, o espaço do corpo, corpos gordos, magros, não aceitos, padronizados…acredito que agora é o momento da performance dentro do campo da arte. E isso possibilita tudo, pois a única coisa que você precisa para criar é o seu corpo e trabalhar suas potências. Então as festas estão só buscando um passado que já existiu na sua história e mesclando com outras possibilidades de performance.
Music Non Stop – Você toca como DJ, edita seus vídeos, faz performances, é produtor da Festa Estranha, residente na ODD, fez ensaios fotográficos, é publicitário… Você também chuleia e prega botão?
DUDX – Claro, ué! Eu acredito demais na minha criatividade e na minha força de criar as coisas. Sempre busco acabamento no meu trabalho, seja confeccionando um look da cabeça aos pés ou montar um set, quero que ele soe com a minha assinatura, com a minha forma de ver as coisas. Então todas as coisas que eu realizo são formas de aprendizado e crescimento.
Em relação à produção de festas, não é de hoje, venho desde 2009 trabalhando com produção de eventos de vários tipos. De show de stoner metal até after de techno eu já fiz. A Festa Estranha, inclusive, é um projeto que chegou ao fim. Criamos a festa como um espaço de experimentação, e abraçou toda uma galera que estava começando a se montar em outros estilos, numa pegada mais club kids e freaks. Agora, eu e meu sócio, Marcelo D’Avilla, vamos seguir com um novo projeto, mas também ligado a montação, corpo e performance. Em breve!
Music Non Stop – O que você vê de mais interessante surgindo com essa nova geração de frequentadores de festas da noite de São Paulo?
DUDX – Então, eu frequento e trabalho em alguns cenários de festas, música eletrônica, festas de sexo, festas de pop, ritmos latinos, rap, funk… são públicos muito variados e diferentes. Mas ao mesmo tempo vejo um compromisso maior com o que se cria aqui no Brasil, estamos começando a pensar no nosso valor cultural.
Music Non Stop – Existe algum tipo de trabalho que você já quis fazer e não fez ainda?
DUDX – Vários! Nossa, meu principal foco vem sendo criar performances com tecnologia e que envolva o público. Poderia listar inúmeras ideias que tenho! Mas, resumindo, o meu grande lance é: até onde vai o meu corpo? Como eu consigo criar extensões e possibilidades a partir dele? A tecnologia me atrai muito. Penso no uso da tecnologia da natureza, ou a de um arduíno que controla uma iluminação de leds, ou até mesmo a tecnologia de uma fibra. Enfim, essas inteligências da vida que me interessam.
Music Non Stop – Que músicas remetem à sua infância e por quê?
DUDX – Perdendo os Dentes, do Pato Fu: foi o primeiro CD que ganhei da minha mãe. Lembro de tocá-lo em um micro system, na época que a gente morava em Campo Grande e minha mãe precisava dividir o quarto comigo na casa da minha avó. Arco Íris da Xuxa no Super Xuxa Contra o Baixa Astral: Esse filme me marcou muito quando eu era criança, pra mim toda a simbologia que a Xuxa usou nesse filme e em Lua de Cristal são geniais. Just Like a Heaven do The Cure: meu tio sempre foi um ídolo do pós-punk, sempre que eu estava com ele tocava algo do Cure, Smiths, Morrissey…virei fã também. Waterloo do ABBA: quando morei em Rondônia, eu fiquei viciado em filmes, morava ao lado de uma locadora. Me apaixonei pelo filme O Casamento de Muriel, que tinha a trilha toda do ABBA. Amei! Ali descobri que eu era bicha mesmo!
Pra terminar, se liga nesta performance de DUDX gravada em janeiro deste ano na festa ODD
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