Cartucho de oito pistas Foto: Reprodução

Cartucho de oito pistas, o novo Santo Graal dos colecionadores de música

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Oferta limitada e qualidade sonora (superior ao vinil?) fizeram com que o antigo cartucho voltasse ao hype

No mundo da arqueologia musical, uma nova febre começa a tomar conta dos colecionadores: o cartucho de oito pistas (também conhecido como 8-track ou Stereo 8), com disponibilidade bastante limitada, já que ninguém mais produz nesse formato. Um dos principais motivos do hype é que muitos audiófilos acreditam que este é o formato de mídia que garante a melhor qualidade das gravações originais — mais do que o tão celebrado disco de vinil.

Realmente, a música gravada em uma fita (caso das Stereo 8) sempre esteve presente nos estúdios profissionais de gravação, desde a década de 50. Até hoje, é muito comum alguns estúdios passarem suas gravações digitais pelos equipamentos tape, como são chamados, para que a música ganhe uma sonoridade mais analógica e “quente”, na linguagem dos engenheiros de áudio.

A discussão ganhou corpo quando um dos integrantes da banda americana Devo, o vocalista Mark Mothersbaugh, contou que o álbum de 1979, Duty Now for the Futuresoa melhor em cartucho de oito pistas do que em qualquer outro formato. Segundo o próprio, todas as outras mídias não refletem fielmente o som que ele e a banda desejavam para a sonoridade do grupo. A declaração, claro, fez as bocas dos colecionadores e audiófilos salivar.

A oferta limitada dos cartuchos que ainda existem contribui para a cultura do colecionismo. Como não há mais fábricas de fitas e equipamentos (por enquanto), o valor aumenta. Atualmente, o lançamento mais caro do mundo das 8-tracks é o álbum Sinatra/Jobim, gravado quando o cantor estadunidense se apaixonou pela bossa nova brasileira. Apenas 3.500 cópias foram produzidas, e cada uma vale mais de cinco mil dólares.

Cartucho de oito pistas

Cartucho do álbum Sinatra/Jobim. Foto: Reprodução

Os cartuchos de oito pistas ficaram muito famosos nos anos 60, principalmente para serem utilizados em equipamentos automotivos. A partir de 1965, a Ford chegou a fornecer o toca fitas de cartucho — carinhosamente chamados no Brasil de cartucheira — instalado de fábrica em modelos mais luxuosos, como o Mustang e o Thunderbird, nos Estados Unidos.

Graças ao sucesso que alcançou em sistemas portáteis, empresas americanas começaram a fabricar unidades para se ter em casa a partir de 1966. Assim, o apaixonado por música podia ouvir sua coleção tanto na sala, quanto no carro. O cartucho guarda até 80 minutos de música sem precisar trocar de lado.

As cartucheiras chegaram a fazer um relativo sucesso no país. Os cartuchos eram selados — muito parecidos com os dos antigos videogames —, sendo mais duráveis e seguros do que as fitas cassete, mídia mais acessível que acabou substituindo as Stereo 8 com o tempo. O pico de vendas da fita de oito pistas foi em 1978. Porém, na virada para os anos 80, caiu em declínio e deu espaço para concorrentes mais baratinhas.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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