Fuerza Regina Cartel Fuerza Regina. Foto: Reprodução/Internet

Como o cartel mexicano vem “proibindo” a apresentação de artistas no país

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Com ameaças de morte, o Cartel Jalisco Nueva Geración mira artistas que exaltaram seus inimigos

O Cartel de Tijuana, facção criminosa que domina o tráfico de drogas no norte do México, tem comprado briga com o mercado de apresentações musicais no país, principalmente com artistas que o grupo identifica como inimigos de seus interesses.

Autointitulado Cartel Jalisco Nueva Geración, o grupo é reconhecido como um dos mais violentos que já operaram por lá, em atividade desde 2017.

Um dos alvos é Peso Pluma, que alcançou enorme sucesso internacional, se tornando o rapper mais ouvido no mundo em 2023. O artista, nascido em Guadalajara, vive nos Estados Unidos desde o início de sua carreira. Pluma tinha uma apresentação agendada em Tijuana em setembro, mas optou por cancelar seu show devido a ameaças públicas feitas pelos criminosos: “será o último show de sua carreira”.

No passado, o rapper escreveu algumas músicas em que contava histórias de um membro do Cartel de Sinaloa, antigo rival da facção. Este subgênero da música mexicana se chama “narcocorridos“, e geralmente é patrocinado pelos próprios criminosos, para que artistas escrevam músicas em sua homenagem. Pluma, entretanto, garante não fazer parte de nenhum cartel.

Poucas semanas depois, outra banda foi ameaçada de se apresentar no México: a californiana Fuerza Regida (foto), formada por imigrantes mexicanos. Como destacou o Stereogum, o grupo também fez uma música em homenagem a um dos líderes do Sinaloa, El Chapo, que está preso.

Membros do Jalisco penduraram um faixa, em um das avenidas mais movimentadas de Tijuana, contendo ameaças de morte aos músicos (a mesma tática usada com Peso Pluma). Após “receber o recado” da CJNG, a Fuerza Regida também decidiu cancelar suas apresentações no país.

A ameaça a opositores (inclusive com a exposição pública de faixas de aviso nas ruas) é uma tática frequente de intimidação e terror. No entanto, é novidade o avanço à classe artística. Até então, o que se via era o apoio a grupos regionais cujos líderes simpatizavam, inclusive criando cenas rivais, como vemos, há tempos atrás, acontecer com os “proibidões” — artistas de funk carioca que compõem enaltecendo os feitos de uma determinada facção criminal.

O governo promete investigações para resolver o caso, mas a esperança é pouca, pelo menos a curto prazo. Até mesmo a prefeita de Tijuana, Monterrat Cabbalero, já viu membros de sua equipe serem atacados diversas vezes, e após ameaça feita diretamente a ela, mudou sua residência para o interior de um quartel militar.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.