Grupo inglês vem emprestando sua imagem (e a de seu maior hit) à causa
O ato extremo de dar cabo à própria vida tem sido um problema latente na sociedade em que vivemos. Se considerarmos que costuma acometer as pessoas mais jovens, a situação fica ainda mais chocante.
Os números se comportam de forma diferente em cada região. No Reino Unido, a terra do New Order, a taxa de suicídios é estável desde um preocupante pico ocorrido em 1981. Hoje, está em torno de 16 (para cada cem mil habitantes) em homens e seis em mulheres. Em ambos, a maioria das ocorrências rola entre 45 e 54 anos de idade, segundo estudo do governo britânico.
Nos Estados Unidos e no Brasil, no entanto, a situação é bem diferente. Nos EUA, a taxa de ocorrências cresceu 35% desde o ano 2000, e hoje está em 22 (para cada cem mil habitantes) entre os homens, e cinco para mulheres. É alarmante, no país, o número de suicídios entre crianças, a partir dos 10 anos.
Já em nosso país, alguns números são realmente assustadores. Desde 1980, a perda de vidas aumentou 60%. Ainda assim, segue com números mais baixos do que Estados Unidos e Reino Unido. Por aqui, a taxa entre homens é de 9,9 (para cada cem mil habitantes), e 2,6 entre mulheres.
Os fatores são múltiplos e, obviamente, bem diferentes para cada faixa etária. Entre os adultos, a solidão, problemas com vícios (geralmente ocasionados por outros fatores psicológicos prévios), a pressão pela adequação a padrões sociais financeiros em uma sociedade se contrapondo a um sistema que dá sinais de falência são os principais vilões.
Já entre os jovens, o poder altamente destrutivo das redes sociais, com suas campanhas de difamação e exposição, figura entre as principais causas da evolução do sintoma.
Blue Monday
Nome do principal sucesso da banda inglesa New Order, Blue Monday virou “marca” de camiseta dedicada a recolher fundo para organizações inglesas que lutam contra esses números alarmantes. Desenvolvidas em parceria com o designer Peter Saville e a CALM, organização que monitora e combate o suicídio no Reino Unido, as peças trazem versos da música e tem o objetivo de manter a todos com os olhos abertos a quem está à nossa volta.
Já em seu segundo lançamento, a camiseta traz o verso “How does it feel?”, ou “como é a sensação?”, estampado, bem como o logo e o contato da CALM. A peça custa 30 libras — aproximadamente 180 reais —, e terá um terço das vendas revertidos para a organização.
CALM & @neworder are back in 2024 to celebrate the only #BlueMonday that really matters with a new tee designed by Peter Saville, exclusively for CALM.
£10 per tee will go to help us be there for anyone who feels like they can’t face tomorrow.
👕 https://t.co/bhjmC3Vy3k pic.twitter.com/aEe0KlvbBF
— CALM (@theCALMzone) January 15, 2024
Vale lembrar que o New Order é um projeto musical egresso da banda Joy Division, que acabou graças ao suicídio de seu vocalista, Ian Curtis, em 1982.
A expressão “blue monday” (segunda-feira triste) é geralmente associada a uma campanha da companhia de viagens Sky Travel, que nomeou a terceira segunda-feira de janeiro como o dia mais triste do ano.
No entanto, seu uso remonta ao século XVIII. Trabalhadores chegavam a seus empregos de ressaca na segunda-feira, após passarem todo o final de semana bebendo. Com o crescimento do uso das drogas recreativas, a partir dos anos 60, era usado como referência à depressão causada pelos baixos níveis de serotonina no cérebro, reflexo dos abusos do final de semana.
A música contra o suicídio
A banda de Bernard Sumner tem caminhado — também devido às suas tragédias — em direção oposta à romantização do abuso praticado pelo universo pop por décadas. O movimento pode (e deve) ser seguido por muitas outras estrelas da música, donas de enorme influência sobre o comportamento das novas gerações.
Iniciativas como essa são mais do que bem-vindas, e, vale reforçar, a campanha da Blue Monday é restrita a organizações do Reino Unido.
Alô, artistas brasileiros! Bóra comprar essa ideia?