Filhos de Dona Canô, irmãos saem em primeira turnê juntos em 46 anos; pré-venda começa neste domingo
Os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia anunciaram uma turnê juntos, pela primeira vez em 46 anos. A última vez que dividiram o palco foi em 1978. Apesar do longo hiato, os dois irmãos vivem uma relação de proximidade gigantesca, na vida pessoal. Um exemplo da cumplicidade dos dois: quem escolheu o nome artístico para a irmã foi Caetano, deixando o sobrenome Viana Teles Veloso de fora.
Em um mundo assolado por egos inflados, celebridades mimadas e muita competição, mesmo entre irmãos (alô, Noel e Liam Gallagher!), como explicar uma jornada tão grudada entre os dois, celebrada agora com esta nova turnê, levando a proximidade dos dois para os palcos?
Fácil. O centro gravitacional da casa, pelo qual todos orbitam e cujo brilho os alimenta, não eram os filhos famosos, mas Dona Canô, mãe de oito, sendo dois adotivos.
Se você fizer uma pesquisa pela internet sobre Caetano e Bethânia, raramente vai encontrar um texto em que a mãe não é citada. E muitas vezes, mesmo lendo sobre apenas um dos dois irmãos, a citação à matriarca faz-se necessária.
Claudionor Viana Teles Veloso faleceu em 2012, aos 105 anos. Segundo suas crenças, aliás, apenas mudou para o céu. A matriarca dos Veloso representa, como ninguém, o sincretismo religioso baiano. Frequentadora assídua dos terreiros de candomblé, tem tanto prestígio na cidade onde viveu, Santo Amaro da Purificação, e era tão prestigiada como líder natural, que a novena de Nossa Senhora da Purificação, ritual católico tradicional na região, era chamado pelo povo de “Novena de Dona Canô”.
Quando Canô chegava ao Bembé do Mercado, um ritual de candomblé na rua, reunindo vários terreiros diferentes, todo mundo parava para a dobra de tambores em sua homenagem, a mais alta honraria existente nessa cultura.
Na ocasião de sua mudança lá para o reino dos céus, a notícia rendeu notas de pesar de dois presidentes, uma centena de políticos, escritores, atores e músicos. A imensa maioria celebrando-a como líder comunitária e representante dos costumes baianos.
Como competir com tamanha altivez real, mesmo sendo um grande ícone da música brasileira? Impossível. Dona Canô era escritora, pensadora e exemplo de calma e pacificação para toda uma comunidade, muito além do círculo familiar. E a inacessibilidade do poder foi o fator que mais contribuiu para a harmonia e a parceria entre os filhos músicos.
Quem anunciou sua turnê juntos pelo Brasil foram os filhos de Dona Canô, primeiramente. No subtítulo, os irmãos e gênios da música brasileira, Caetano Veloso e Maria Bethânia.
De fala e movimentos calmos, a matriarca não pediu nem lutou para conquistar a posição que ocupava no recôncavo. Simplesmente existiu, e foi então sendo rodeada por artistas, políticos, personalidades e, principalmente, o povo, em suas novenas e terreiros.
Seu Zezinho, o esposo, também deu importantes contribuições, principalmente para a veia artística da família. Lia poemas para os filhos enquanto os embalava ou colocava para dormir. Despertou em Caetano um desejo infantil sobre poesia. Mas na casa, era tempo de matriarcado. Para alegria de todos, inclusive do pai.
Claudionor cultivou uma humildade natural (que fazia questão de pontuar) daquela rainha-mãe que vive para os outros. Quando perguntada sobre algum desejo em entrevista, pediu “um hospital, uma Santa Casa em sua cidade”. Já quando lhe questionaram sobre qual presente gostaria de ganhar de aniversário, respondia “sabonetes, toalhas e pasta de dente para eu dar aos meus velhinhos” (moradores das associações de caridade em que atuava).
Exemplo enorme de sua sabedoria naturalista é a resposta para o livro de memórias Lembranças do Saber Viver, de Antonio Fernando Guerreiro e Arthur de Assis, sobre as lembranças de seu nascimento: “Bom, do meu nascimento eu não sei falar, porque foi como se eu não estivesse presente, eu só vim. Morávamos no Beco do Caquende, onde hoje é o hospital. Quando eu acordei, já tava com um ano (gargalha). A criança nasce dormindo”.
É isso. Dona Canô “só veio”. E assim, ficou.
Caetano e Bethânia: a turnê
Anunciada no último dia 06, a aguardada turnê dos dois irmãos começa em dose dupla, dias 03 e 04 de agosto, na Rioarena, no Rio de Janeiro, e se encerra em 14 de dezembro, no Allianz Parque, em São Paulo.
Entre essas datas, passa ainda por Belo Horizonte (Estádio do Mineirão, 07 de setembro), Belém (Hangar, 29 de setembro), Porto Alegre (Arena do Grêmio, 12 de outubro), Brasília (Arena BRB Mané Garrincha, 09 de novembro) e Salvador (Itaipava Arena Fonte Nova, 30 de novembro).
Exclusiva para clientes do Banco do Brasil, a pré-venda dos ingressos começa neste domingo, 17, às 20h30, pelo site da Ticketmaster, e segue até terça (19). Na quarta-feira (20), abre a venda geral.