Breaking Foto: Reprodução

Da Nigéria às Olimpíadas: a história do breaking

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Um dos pilares da cultura hip-hop, o breakdance faz sua estreia como modalidade dos Jogos Olímpicos em Paris

A partir da próxima semana, o mundo voltará seus olhos para a luminosa Paris para acompanhar a 33ª edição dos Jogos Olímpicos. Dentre as novidades do evento, o público poderá conferir, pela primeira vez, a presença de uma expressão artística de dança surgida nas ruas como esporte convidado: o breakdance, ou simplesmente breaking.

Assim como o skate e o surf, a iniciativa faz parte de um projeto do Comitê Olímpico Internacional para reaproximar a juventude do jogos. Segundo apuração dos organizadores, as Olimpíadas estavam perdendo apelo junto às gerações mais recentes.

Incluir o breaking na competição esportiva foi uma ideia genial. Representa a cultura de rua, periférica, ocupando o sisudo ambiente olímpico. E aqui vale um parêntese: quando a organização convidou o skatistas para a festa nos jogos de Tóquio, em 2021, muita gente do cenário desaprovou a ideia, com medo de que o ambiente de cooperação e amizade da prática sucumbisse à paranoia competitiva pela medalha de ouro. Segundo os críticos, o skate é um esporte no qual um participante torce pelo outro em campeonatos.

No breaking, a pegada é a mesma. Apesar das supostas “batalhas” entre grupos rivais, tá todo mundo ali pela dança. E é supercomum, em competições do tipo, os próprios dançarinos irem à loucura com os malabarismos dos colegas.

Como tudo começou

A origem do breakdance está intrinsicamente relacionada à cultura hip-hop, que começou se formar em Nova Iorque nos anos 70, década que é considerada como uma espécie de período de fecundação do movimento, em bailes de rua frequentados por negros e latinos. Na época pré-rap, os grupos dançavam ao som de músicas como Apache, da Incredible Bongo Band, Give It Up Or Turn It a Loose, de James Brown, e T Plays it Cool, do Marvin Gaye.

A partir da década de 80, o estilo malabarístico se colou definitivamente com o rap das ruas e chamou a atenção do mundo. Turmas de dançarinos, chamadas de crews, começaram a se formar na cidade, se encontrando para batalhas de dança. Programas de TV, videoclipes e até filmes dedicados a essa cultura pipocaram, contribuindo para a espalhar a mensagem daquela nova expressão artística.

Elevando os passos de dança do movimento soul à potência máxima, os B-Boys e B-Girls desenvolviam seu passos trazendo às coreografias outras referências, como o malabarismo e as artes marciais orientais, muito comuns na cultura dos filmes Blaxploitation, voltados para a comunidade negra.

A herança ancestral africana, trazida ao Estados Unidos através das danças ritualísticas, também ajudou a lapidar os movimentos. O filme acima mostra um festival de dança tribal realizado na Nigéria, em 1959, com passos incrivelmente parecidos com o que vemos nas batalhas de breakdancing. As imagens foram encontradas em um documentário britânico chamado The North Rejoices.

O breaking no Brasil

Bastou apenas um ano após o lançamento do filme Breakdance nos Estados Unidos para a cultura da dança cair nas graças dos jovens da periferia paulistana, inicialmente trazida ao Brasil por Nelson Triunfo. Garotos e garotas que trabalhavam no centro da cidade começaram a se reunir durante a hora do almoço para treinar seus primeiros passos.

Logo, crews como Jabaquara Breakers, Dynamic Bronx, Nação Zulu, Crazy Crew, Backspin e Street Warriors tomavam conta do cimento lisinho do pátio da Estação São Bento, lugar que ficou conhecido como o berço do hip-hop brasileiro. A partir dali, a cultura não parou de se desenvolver. O breakdancing brasileiro se espalhou pelo país todo.

A dança (ou esporte, como queira) encanta porque é um dos mais democráticos possíveis para a prática. Basicamente, basta um chão liso! É comum ver crianças a partir de dez anos de idade disputando campeonatos lado a lado com os mais velhos.

O breaking tem atualmente diversos campeonatos mundiais diferentes em que a garotada apronta suas estripulias e apresenta o quanto a modalidade se desenvolveu nos últimos 50 anos. O mais reconhecido entre todos é o World BB Series. Se ligue no espetáculo do vídeo abaixo e prepare a torcida (sempre a favor, nunca contra) para vibrar nos Jogos Olímpicos de Paris!

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.