Dez anos de lamúria e autocomiseração são suficientes. Hora de virar a página!
Dez anos do fatídico chocolate que a seleção de futebol ofereceu a nós, brasileiros, em plena Copa do Mundo no Brasil, protagonizando um dos momentos mais tristes do esporte mais popular do planeta. A derrota jogou nossa autoestima na cova, e como levamos tudo no bom humor, gerou uma infinidades de memes que representavam nossa ineficiência em diversos temas sociais. Não à toa, “todo dia um 7×1 diferente” virou expressão usada nas ruas. Bem, pelo menos os alemães ganharam da rival Argentina na final e foram campeões. Imagina se tivesse sido ao contrário?
Mas chega! Dez anos de lamúria e autocomiseração são suficientes. Hora de virar a página. De reestabelecer nosso amor próprio. Afinal, é claro que levamos um sabão histórico. Óbvio que, não só no futebol, temos muito o que aprender com os amigos bávaros. Mas auto lá! Em muita coisa, a gente botas os caras no chinelo. E para ajudar nosso leitor a enxugar as lágrimas e bater no peito na mesa da próxima Oktober Fest, o Music Non Stop preparou sete temas suficientes para argumentar nas etílicas discussões.
Confira abaixo sete vezes na história em que a vitória por 7×1 foi nossa!
O samba
Não mexa com o nosso groove. Quando o assunto é o estudo dos ritmos hipnóticos e percussivos, nenhum país fora do continente africano conseguiu mergulhar tão fundo em suas técnicas. Uma boa bateria de escola de samba dá de 7×1, em peso e ritmo, em qualquer DJ ou produtor de hard techno alemão. E assim como fizeram com o gênero musical eletrônico criado em Detroit, os alemães também tentaram se apropriar do samba. O resultado, você confere no vídeo acima.
A música eletrônica
No entanto, se a Alemanha jamais conseguiu chegar nem perto do que poderia ser chamado de samba, demos um belo troco em cima deles. Alguns de nossos DJs, tocando techno, chegaram junto no cenário, se tornando estrelas mundiais. Gente como Renato Cohen, Gui Boratto e Ana & David. Sem contar que o quarteto Marky, Patife, XRS e Andy fazendo drum’n’bass, que é britânico. Mas o techno também não é alemão. Outro 7×1 pra nós!
Salvador
Berlim pode tentar, mas nunca será Salvador. A cosmopolita cidade alemã que reúne artistas e festeiros do mundo todo precisa comer muito acarajé para chegar nos pés de uma cidade miscigenou perfeitamente a nossa herança ancestral e atraiu artistas do mundo inteiro (que jamais se atreveram a tentar reproduzir a mistura musical ali presente). Salvador é soberana.
Criação de ritmos
O Brasil moderno é prodigo na criação de novas linguagens musicais. Claro, jamais nos esqueceremos da contribuição da Alemanha em gêneros como a música clássica e o krautrock. Mas aqui, a gente esbanja criatividade em misturas que resultam em novas expressões artísticas. Samba, chorinho, forró, guitarrada, bossa nova, além de apropriações doidas, capazes de colocar o Brasil no meio do cenário eletrônico mundial, como o tecnobrega e o funk carioca.
A quebrada
Fazer música com equipamento barato, IDH nas alturas e salário em euro é fácil. Quero ver ser protagonista na música sob as mesmas condições das quebradas brasileiras, onde é preciso parcelar um mero teclado em 48 vezes, de qualidade muito inferior aos que os alemães têm à disposição em qualquer esquina. Fazer música, no Brasil, é resistência, e isso confere aos movimentos culturais das quebradas riqueza cultural e fúria sete vezes (sacou?) maior do que qualquer coisa feita por lá.Pelé e Marta
Podem esbanjar organização, esquema tático, escolinhas que formam jogadores profissionais desde a infância e gramados lisinhos. Vocês precisam. E, mesmo assim, nunca chegarão a ter na pátria os dois maiores nomes do esporte bretão, Pelé e Marta, deuses absolutos do futebol. Tudo bem que é este pensamento que faz a gente sofrer Copa após Copa, achando que somente o talento nato de nossos moleques e molecas, nos batidões do Brasil, é suficiente para ter um time competitivo. Mas enquanto a gente não aprende, seguimos nos gabando e reverenciando esses dois gênios.
Carreta Furacão
Desafiamos qualquer alemão a varrer seu país, de cidadezinha em cidadezinha, atrás de um caminhão transformado em três, iluminado feito natal, tocando techno e animado por meia duzia de malucos, de procedência desconhecida e índole duvidosa, dando saltos mortais no meio da rua com fantasias piratas de ícones infantis do mundo do entretenimento. Não tem e, em um país tão afeito às regras e procedimentos, jamais terá. É essa surreal bagunça que permite ao Brasil gerar coisas tão absurdamente divertidas quanto as que temos por aqui. E na próxima olimpíada sediada no Brasil, um campeonato de Carretas Furacão certamente deveria figurar como esporte convidado.