Bingo Foto: Mick Haupt [via Unsplash]

Bingo é a nova rave? Jogo vira tendência entre jovens nos EUA e Reino Unido

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Reportagens e pesquisas mostram como jogar bingo está se tornando um hábito entre as gerações Y e Z

Está explicando o momento de dificuldade de venda de ingressos para festivais e a onda de fechamento dos clubs e casas de show: a juventude migrou para o bingo. Bem, com a licença do exagero sensacionalista da frase anterior, o fato é que a revista nova-iorquina The Fader passou em revista os bingos (sim, estes mesmos de vovó que você está imaginando) sendo invadidos por jovens da geração Z, nascidos a partir de 1997. Sandra Song, repórter, deu um rolê pelos mais cafonas e tradicionais bingões de Las Vegas e se surpreendeu ao ver a grande quantidade de novinhos, com cartela e caneta na mão, doidos para gritar “deu aqui!”.

Segundo a reportagem, o movimento também se estende a Londres. Uma tremenda virada geracional. Se antes ouvíamos, tarde da noite, coisas como “put your hands up in the air!” ou “jack your body!”, a onda agora entre a garotada é “dois patinhos na lagoa… 22”, ou “pontinho no pé, seis é”.

A conclusão vai ao encontro do momento mais comedido das novas gerações em relação às noitadas e aos excessos. Muita gente tem procurado opções um pouco mais tranquilas de diversão noturna sem chegar ao exagero de ficar em casa jogando online. Ainda há uma necessidade de interação presencial. Optam, então, pela emocionante espera pela bolinha desejada, capaz de lhe fazer completar aquela linha ou a cartela cheia, que lhe banhará a tegmental ventral com uma cachoeira de dopamina. É uma loucura! Em Las Vegas, os prêmios dos bingos são pagos em dinheiro (o que é proibido no Brasil), o que aumenta o prazer da saciedade imediata.

A nova geração, ainda penetra nos grandes bingos, não faz frente às velhinhas hardcore, que chegam a jogar uma mesma partida com até 20 cartelas diferentes para aumentar suas chances de vitória. Mas estão lá, espalhados pela centena de mesas, curtindo a jogatina regada a bons drinks.

A revista, também utilizando de uma boa dose do tal exagero poético, abre a reportagem com o título “Os bingos são as novas raves”. Passada a surpresa da invasão, a notícia é tudo de bom. Promove a socialização entre diversas gerações, quebra o pensamento craquelado de que todo jovem é cool e descolado, e os idosos desinteressantes e ultrapassados. Além disso, como a própria Sandra Song apurou, trata-se de uma atividade que, embora todos estejam competindo e cada turma em uma mesa, promove uma divertida interação social.

A nova onda pode ser comprovada em números. Um pesquisa promovida pela organização dos cassinos estadunidenses identificou que nada menos que 59% dos frequentadores de bingo atualmente são formados pela geração Millennial (nascida entre 1980 e 1995). Isso significa que o mestre de cerimônias, ao cantar as bolinhas, já vê na plateia mais jovens do que vovós disputando o grande prêmio.

A invasão também está sendo notada no Reino Unido, ainda que com um pouco de atraso. Por lá, 25% da galera vêm das novas gerações, segundo pesquisa da casa de apostas online Vegaslotque ainda coloca na conta dos bingueiros a fase difícil pela qual os nightclubs estão passando na ilha britânica.

Um fato confirmado é que os Millennials cresceram com aplicativo de bingo online em seus celulares, e isso contribuiu para que, com o passar dos anos, muitos desenvolvessem a vontade de conhecer a versão “raiz” do jogo. Além disso, a solidão obrigatória determinada pela pandemia fez com que muita gente sentisse que ficar trancada no quarto interagindo com os amigos somente de forma online não era tão legal assim.

Agora é aguardar uma futura integração de rolês, lá fora e, quem sabe, no Brasil. Pista 1: Black Coffee. Pista 2: Caribou. Pista 3: Bingão rolando solto valendo consumação livre para quem fizer a cartela cheia.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.