Beehive: conheça a história de um antigo moinho em Passo Fundo que se tornou um dos clubes mais legais do Brasil

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Reportagem: Claudia Assef
Câmera: Cassiano Vargas
Edição: Flavio Florido
Fotos: Juliano Conci

Era um sábado nublado, 10 de dezembro, quando, depois de muitos chacoalhões, aterrissamos em Passo Fundo, município no interior do Rio Grande do Sul, distante uns 300 km de Porto Alegre. O voo da Avianca vinha carregado de trabalhadores da noite: a dupla Lacozta (Daniel Costa e L_cio), os DJs João Paulo Gromma, Adnan Sharif, André Torquato e o booker Stéfano Cachello chegavam à cidade para o showcase do D-Edge, marcado para aquela noite no Beehive, clube que eu finalmente iria conhecer de perto.

Além da gangue do D-Edge (que mais tarde seria completada por Renato Ratier e , também estavam no voo a paulistana Tati Pimont, que tocaria numa cidade vizinha, e o superstar Alok, que tocaria numa festa no município de Três de Maio, a 240 km de passo fundo.

Ao contrário do que pode parecer, com esse tanto de DJ chegando pra tocar na região, não havia nenhuma data especial pra celebrar. Era apenas um sábado como outro qualquer numa região que aflorou como um dos principais polos de clubes e festas de música eletrônica no Brasil.

A COLMEIA ELETRÔNICA

A história do Beehive Club daria um bom romance, se formos fuçar no longínquo passado do belíssimo prédio de 1.232 m² onde o clube foi instalado. A estrutura atual manteve boa parte da arquitetura original intacta e grande parte do maquinário do antigo moinho, da década de 1930, foi preservada – dá pra ver as ferragens atrás do palco, proporcionando o cenário perfeito nesta que é uma importante engrenagem da música eletrônica sulista. Emoldurando toda a ação lá dentro, grandes janelas dão ao público a noção de quando a noite vira dia, renovando a energia ao final de cada noitada.

O clube nasceu de forma incidental, já que no início a ideia era fazer apenas três festas sob o nome Projeto Beehive, entre setembro e dezembro de 2006. As noites deram tão certo que o criador da ideia, Juan Rodrigues, com o apoio do dono do prédio, resolveu esticar o prazo. Algumas alterações no quadro de sócios depois, os DJs residentes da casa, os irmãos Guilherme e Diego De Marchi Carrão, entraram para a sociedade (além deles, os outros sócios atualmente são Gui Dornelles, Nado Carvalho e Marcelo Camozzato) e passaram a cuidar da programação.

Em pouco mais de 10 anos de vida clubber, lá se vão mais de 200 festas realizadas na Colmeia, com um público estimado em mais de 150 mil pessoas, quase 300 DJs e 90 funcionários.

Diego e Gui de Marchi Carrão, do Beehive Club

Além de serem donos e diretores de programação do Beehive, os irmãos Diego e Guilherme formam a dupla Lookalike, projeto que, assim como o Beehive, já tem mais de 10 anos de estrada, com uma carreira sólida não só no sul do Brasil – eles recentemente se apresentaram na festa de 17 anos do clube D-Edge, em SP. Os meninos são pesquisadores musicais desde pequenos e mantém no clube um time de residentes que inclui, além deles, Leo Janeiro, Leozinho, Lolô Bortholacci e Willian Celuppi.

Na noite em que o Music Non Stop esteve na Beehive, além de outras festas que aconteciam na região, outro fator preocupava. Perto das 22h30, quase horário de abertura da casa, uma verdadeiro temporal começou a cair sobre a cidade. “Pensei: lascou”. Chegamos ao clube perto das 23h, e assim que a casa abriu, subi até o terceiro andar pra olhar pela janela como estava o movimento. Poucas vezes esta alma clubber se impressionou mais com o bafafá numa porta de boate: uma fila gigantesca de gente se aglomerava em frente ao Beehive, algumas com guarda-chuva, outras, debaixo de chuva mesmo, dispostas a aproveitar a diversão que os aguardava, a alguns metros adiante, porta adentro.

Filas na porta do Beehive são normais, mas neste dia da foto não tinha o perrengue de esperar embaixo de chuva

O primeiro DJ da noite, Adnan Sharif, fez um excelente set de aquecimento pras pessoas que chegavam molhadas da rua – ou quase isso – direto pra pista Colmeia, a principal, com capacidade para 1.000 seres dançantes. Logo na entrada, ultrapassando os caixas e a lojinha Beehive, com itens fofos como camisetas, copos e chaveiros à venda, a pista Hija já retém uma parte da clientela, com sua ambiência mais zen e intimista. Com capacidade para 300 pessoas, esta pista tem vida própria e costuma abrir em ocasiões em que se espera um público mais reduzido – afinal, abrir uma casa que tem uma pista principal para 1.000 pessoas demanda um belo investimento em line-up e divulgação, né?

A dupla Lacozta mandando techno pra esquentar o público recorde do Beehive Club em 10 anos de história

Ao longo de seus 10 anos de história, a Beehive já tinha tido noites superlotadas, com atrações internacionais do naipe de Seth Troxler, Mano Le Tough, Phonique, Guy Gerber, Nastia, entre outros gringos e gringas, mas nessa noite chuvosa de D-Edge Showcase a lotação chegou pela primeira vez a 1.300 pessoas. Pouco antes das 2h da manhã, quando a o live act Lacozta entrou no som, não dava pra entrar mais uma alma – e tampouco quem estava lá queria sair.

Me embrenhei no meio daquela pistona cheia, que ia mudando de cor seguindo as paletas dos clubes D-Edge e do Beehive, e pude sentir a força clubber sulista de perto. Gente interessada em dançar, muitos olhinhos fechados com ouvidos atentos à música, pista com quase zero de “passação” (aquele fator incomodativo tão comum em festas onde a música é um mero pano de fundo). Deu gosto dançar ali, conhecer as pessoas que eu conheci e ouvir os sets que eu ouvi, naquele lugar de alma velha, mas de energia moleca e cheia de gás. Não fiquei até o dia raiar porque tinha que pegar o avião na manhã seguinte pra Porto Alegre, mas a turma do D-Edge & Beehive seguiu longe, até after teve – quase que eu não embarco porque minha carteira com documento tinha ficado com o marido festeiro 😉

Coloque Passo Fundo nos seus planos pro futuro. O clube não abre todo final de semana, então é bom olhar a programação antes de comprar a passagem. A próxima festa é nesta quinta (13), com Victor Ruiz, Eli Iwasa, Do Santos, Lookalike, Willian Celuppi e James Camargo. Ingressos estão à venda por R$ 60 neste link.

CONHEÇA O BEEHIVE, EM PASSO FUNDO

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Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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