Astros da música no Brasil

De Lenny Kravitz a Janis Joplin: veja 5 astros do rock verdadeiramente loucos pelo Brasil

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Geralmente procurando se esconder da mídia, diversos ícones mundiais da música deram suas escapadas para o nosso país

Recentemente, Beyoncé fez uma aparição relâmpago em Salvador, na Bahia, para promover o lançamento das filmagens de seu novo show nos cinemas brasileiros. Virou meme. Internautas mais ácidos comentaram que ela “veio ao Brasil para avisar que não vem ao Brasil (para shows de verdade)”. A Queen Bee, como é chamada pelos fãs, aproveitou seu rápido discurso para declarar seu amor pelo país e, principalmente, pelos seus fãs daqui.

Para o Music Non Stop, entretanto, atitudes valem mais do que palavras! Enquanto Beyoncé pisou no país por menos tempo do que durou seu voo desde Nova Iorque, diversos outros astros da música caem de amores pelo país, e comprovam.

Chris Martin, do Coldplay, por exemplo, já foi visto jogando futvolei, foi pego turistando em diversas ocasiões pelo Rio de Janeiro e tem, como amigo pessoal, Seu Jorge, com quem já até cantou a música Amiga da Minha Mulher.

Ed O’Brien, do Radiohead, vem frequentemente ao Brasil desde 2002, dividindo sua estada entre Salvador, Rio de Janeiro e Paraty (RJ). O guitarrista é tão alucinado pela capital baiana que batizou seu filho de Salvador.

Conhecemos, também, o caso do pai de músico que também é músico, e que decidiu abrir pizzaria no Brasil. Estamos falando de Daniel Vangarde, que já foi produtor de disco music (dos bons), mas é mais conhecido hoje como pai de Thomas Bangalter, metade do Daft Punk. Vivendo até hoje no Brasil, Vangarde trocou as bolachas de vinil pelas redondas de mussarela e calabresa, na Bahia.

Tem muito artista, porém, que sobe de nível quando o assunto é o amor pelo Brasil, a ponto de quase merecer a tão sonhada cidadania brasileira. Para isso, não basta só visitar o local frequentemente ou bater bola na praia. É preciso preencher pelo menos dois requisitos: estar no auge da carreira quando a paixão pelo país estiver queimando e ser dono de propriedade em terras verde e amarelas. E isso, olha só, alguns já conquistaram!

A fazendinha de Lenny Kravitz

Pois é. O grande Lenny Kravitz já pode tentar descolar seu passaporte brasileiro. Afinal, desde 2007 (dois anos depois de seu primeiro show por aqui), o artista possui uma fazenda em Duas Barras, no Rio de Janeiro.

Kravitz vem ao país frequentemente, geralmente em segredo, para passar um tempo longe do fuzuê da mídia. Disse à revista Architetural Digest que o local “é perfeito para exercer a criatividade”. Se você, oficial da imigração que agora nos lê, ainda não está convencido, saiba desta: Kravitz aprendeu português e só se comunica com seus amigos e funcionários daqui falando a nossa língua.

Para provar que seu cafofo não foi montado só para dar assunto, o artista decorou-o com peças de Andy Warhol e um piano que pertenceu a Ingmar Bergman, entre outras peças de arte.

A incrível epopeia de Janis Joplin

Janis Joplin em Salvador. Foto: Acervo pessoal [via BBC Brasil]

Janis Joplin não comprou imóvel no Brasil. Mas para ela, damos um desconto. Afinal, a cantora morreu meses depois de realizar um grande sonho: visitar nossa terra.

Encantada pelas cenas gravadas no Rio de Janeiro para o filme Orfeu Negro, obra do cineasta francês Marcel Camos adaptando Orfeu da Conceição, de Vinicius de Moraes, Janis comentou com a amiga Linda Gravenites que queria conhecer a capital carioca. A cantora estava pegando pesado nas drogas pesadas e precisava dar uma sossegada — mais um motivo para se mandarem dos Estados Unidos rumo ao Carnaval do Rio, em 1970.

Em terras brasileiras, Janis aprontou de tudo. Cantou em duas boates cariocas, foi assistir ao desfile de carnaval ao lado do DJ Big Boy, também falecido, nadou pelada na piscina do Copacabana Palace (o que rendeu sua expulsão do hotel) e se apaixonou pelo também americano David George Niehaus.

Quando Rick Ferreira, então fotógrafo da Rolling Stone, soube de sua expulsão do Palace, convidou o casal para passar um tempo em seu apartamento. Foi quando Ferreira conheceu o estranho café da manhã da cantora. Para comer, sanduíche de biscoito com marmelada. Para beber, Creme de Ovos Dunbar ou Fogo Paulista, já que não havia Southern Confort, sua bebida favorita.

Gabaritada a noite carioca, resolveu viajar para o Nordeste, rumo ao Norte. Em sua passagem por Salvador, cantou Summertime, acapela, na frente de um puteiro na Ladeira da Montanha. Seus dias pela capital baiana renderam o filme Summertime In Bahia, de Henrique Dantas.

De Salvador, Janis e seus amigos partiram para Arembepe (BA), então um reduto hippie de expressão tamanha, que chegou a receber em suas praias nomes como Jack Nicholson, Roman Polanski, Mick Jagger e Marianne Faithful.

No livro Arembepe — Aldeia do Mundo: Sonho, Aventura e Histórias do Movimento Hippie (2022), que retrata o momento de tamanha hypação do lugar, a autora Claudia Giudice conta que Janis se apaixonou de novo, desta vez por um pescador, apelidado Suica.

Dá mais uma cachaça pro Lama

Jimmy Page ao lado de Margareth Menezes. Foto: Reprodução [via Folha de S. Paulo]

Lama era apelido brasileiro de Jimmy Page, lendário guitarrista do Led Zeppelin que teve uma casa de verão por anos em Lençóis, na Bahia. O imóvel, aliás, ainda pertence ao músico, mas virou a sede de uma fundação em seu nome, a Casa Jimmy.

Page veio a Brasil em 1979, ao lado da esposa, a francesa Charlotte Martin. Para ela, a viagem não foi das melhores. Jimmy conheceu a argentina Jimena, com quem viria a juntar os trapos na segunda vez que a encontrou, em Salvador. Jimena era esposa de Luciano Silva, filho de Margareth Menezes, com quem tem uma filha.

Treta? Que nada! Lama e Silva viraram amigões. O guitarrista e Jimena ficavam sempre na casa do ex de sua mulher em Salvador, e até tocaram juntos, nas pouquíssimas vezes em que o primeiro topou pegar em uma guitarra no Brasil.

Encantado por Lençóis, Jimmy comprou em 1998 um terreno e construiu sua casa, onde passava meses vivendo de forma anônima. De bermuda jeans e camiseta rasgada, andava pela rua e adorava tomar cachaça de boteco.

O artista chegou a ter três casas em Lençóis, sendo a última em um terreno de quatro mil metros quadrados. Adorava a cidade justamente por poder andar sem se reconhecido. Nas poucas vezes em que foi visto tocando, foi na pacata cidade baiana. O guitarrista se juntava em rodinhas de malucos locais e pedia para tocar um pouco, como conta o livro Jimmy Page no Brasil, de Leandro Souto Maior.

O consenso sobre o motivo do fim da lua de mel com o Brasil, em 2004, é de que o guitarrista ficou famoso demais, e já não tinha mais, em Lençóis, o anonimato que tanto desejava. Mas sua partida, claro, gerou um monte de lendas urbanas. Uma delas é a de que teria levado um sopapo de um marido ciumento em público, incomodado pelos gracejos de sua mulher com o gringo famoso.

Caipirinhas e Rua Augusta

Quando se mudou para São Paulo, Nick Cave já era um semideus do underground. À frente dos Bad Seeds, já havia lançado cinco discos que fazem parte da discoteca obrigatória da música alternativa, como Tender Prey e Kick Against The Pricks.

Em 1990, apaixonado pela jornalista brasileira Viviane Carneiro (com quem teve o filho Lucas Cave), mudou para São Paulo, também com a objetivo de se afastar da heroína, como fez Janis Joplin.

Durante sua estada em Sampa, Cave realmente “viveu a cidade”. Era visto com certa frequência nos inferninhos daqui e chegou a tocar piano nos afters em casas de amigos. Na capital, gravou o disco The Good Son, e o videoclipe de Do You Love Me? em um puteiro da Rua Augusta.

Outro ponto obrigatório de Cave na cidade era o bar Mercearia, perto de sua casa, na Vila Madalena, onde batia cartão todos os sábados para tomar caipirinha. O cantor se apaixonou pelo local quando um garçom da casa raspou uma maçã para servir ao filho, Lucas.

Nick passou dois anos por aqui. Na questão profissional, o país não atendeu bem às suas expectativas, o que o fez decidir deixar o Brasil. O artista achou que todo o hype em torno de seu título no underground, andando com músicos e jornalistas, renderiam grandes shows para ele e os Bad Seeds. Mas não foi o que rolou. Nick Cave acabou virando “um artista local”.

Dando um tempo em São Paulo

Evan Dando no busão em SP. Foto: Reprodução/Twitter

“As drogas pesadas acabaram com os meus dentes. E no Brasil, dentista é mais barato”, disse à imprensa Evan Dando, sobre sua decisão de morar em São Paulo, desde 2022.

O líder dos Lemonheads, que já foi considerado o homem mais sexy do mundo pela revista People, brinca sobre sua vinda ao país. O real motivo é que ele, agora, é genro do grande Renato Teixeira. Dando vive com a filha de Teixeira, Antônia, que conheceu nos Estados Unidos.

O artista, ao contrário dos colegas relatados aqui na matéria, não esconde sua presença por aqui. Vive postando, em seu Instagram, as peripécias vivivas na cidade, como canjas com outros músicos em um bar da Vila Madalena (com três pessoas assistindo), rolês em Ubatuba e almoços com a família Teixeira.

Em entrevista ao G1, disse que não pretende ficar no Brasil por muito tempo. “Meus amigos precisam trabalhar”, conta, referindo-se a turnês com o Lemonheads.  Por enquanto, o músico segue por aqui, consertando os dentes, tomando cachaça no sítio dos Teixeira, na Serra da Cantareira (SP), ou em rolês por bares da capital paulista.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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