Sandra Jimenez, Lívia Barros, Mariana Amabis e Bárbara Teixeira: as lideranças femininas responsáveis pela realização do Tiny Desk Brasil. Foto: Fernanda Carvalho/DivulgaçãoAs lideranças femininas que trouxeram o Tiny Desk ao Brasil
Bárbara Teixeira, Lívia Barros, Mariana Amabis e Sandra Jimenez explicam ao Music Non Stop como o bombado programa veio parar no nosso país
“Sim!”, respondeu Bárbara Teixeira, a Babi, ao colega David Davoli por telefone, quando foi perguntada se topava produzir uma série do mais bombado programa de webtv do mundo da música, o Tiny Desk. Assim mesmo, na lata, de bate-pronto.

“Eu disse ‘sim’ sem nem parar e pensar em como a gente ia fazer isso funcionar no Brasil, quem iria comprar e tal”, completa. Hoje CEO da filial brasileira de uma produtora mundial de audiovisual, a Anonymous Content (Davoli é o fundador da matriz, nos Estados Unidos), Teixeira já conhecia e era um dos milhões de fãs do programa que surgiu como uma brincadeira na rádio pública NPR e virou um fenômeno, disputado a tapas e afagos pelos mais diversos músicos por uma chance de se apresentar… dentro do escritório da rádio.
Devagarinho e com muito cuidado, a NPR vem produzindo temporadas “fora do escritório”. Especificamente, já as fez no Japão e na Coreia do Sul. O terceiro país escolhido foi o Brasil. Foi então que a rádio procurou a produtora, que tinha braços por aqui.
“A grande diferença é que, aqui no Brasil, está sendo feito por uma produtora independente, que precisou ir ao mercado atrás de um parceiro para colocar de pé”, explica Lívia Barros, também da Anonymous. No Japão, a série foi produzida em conjunto com a TV estatal NHK. Na Coreia do Sul, com o canal de TV a cabo LG Plus.

Me diverte imaginar que Suraya Moramed, produtora executiva da NPR (sim, mais uma mulher no comando, já falaremos disso), escolheu procurar a produtora parceira também pelo nome. Realmente, é preciso ser muito anonymous para guardar, a sete chaves, toda a negociação, a produção e o line-up das duas primeiras temporadas em segredo… por dois anos! Fico matutando como foi possível segurar a ansiedade em querer realizar algo logo e esperar tanto, pensando com minha cabeça de produtor de shows em buracos esquecidos pela defesa sanitária, com amplificador de guitarra queimado e 50 reais de consumo no bar como “project budget”. Sei de nada, inocente.
“Para mim é totalmente normal. A gente está acostumado a fazer cinema, em que um projeto leva uns cinco anos”, conta Babi.
O convite da NPR veio muito antes do histórico episódio com Milton Nascimento e Esperanza Spalding, filmado na casa do Bituca, no Rio de Janeiro. Uma rara ocasião em que o programa foi gravado fora do escritório, dadas as dificuldades de locomoção do convidado, já com 82 anos. O show do Milton e Esperanza foi feito pela própria equipe estadunidense, enquanto a negociação rolava em paralelo para o desembarque definitivo no país. O motivo da demora, explica a produtora executiva e curadora do Tiny Desk Brasil, Mariana Amabis — a “Mainha” —, é justamente o esmero técnico:

O escritório onde será gravado o Tiny Desk Brasil. Foto: Fernanda Carvalho/Divulgação

“Precisa de uma construção de confiança para você entregar um formato na mão de outra pessoa. As exigências técnicas e artísticas são muitas. O que mais me emociona contar foi que nós fomos lá assistir a uma gravação [do Tiny Desk original] e vimos o cuidado que eles têm com o programa. Tratam como uma pérola. E eles também vieram para cá e estão felizes, porque conseguimos manter seu espírito”.
Após o imediato “sim” de Babi Teixeira, começou a dança do acasalamento jurídico que durou mais de um ano, com minutas indo e vindo, alinhando todas as tais exigências. Foi há cinco meses, apenas, que o pontapé inicial foi dado. Babi e Lívia já haviam convidado a Mainha, experiente na TV brasileira e também no universo de trilhas sonoras para cinema, desde que as negociações começaram. O próximo passo foi laçar Sandra Jimenez, Head de Música do YouTube para América Latina e US-Latin, em um convite irrecusável. Afinal, o gigantesco sucesso da série original usou como plataforma de lançamento justamente o YouTube. Foi então que a importante estação de rádio local NPR se transformou em uma coqueluche global no mundo da música.
“Receber a confirmação da vinda do Tiny Desk Brasil foi uma explosão de alegria e um atestado do poder da nossa música! O Tiny Desk é um formato nativo do YouTube para performances autênticas e íntimas, em que a essência do artista brilha sem qualquer ajuste posterior. Ver um formato tão respeitado e influente finalmente ganhar uma versão 100% nacional é a prova de que o talento brasileiro merece, e vai ter, um palco global com essa vitrine. Fiquei muito feliz em participar desse projeto”, revela Sandra.

Aposto uma mariola que vocês, leitores, estão neste momento pensando no line-up. Um dos grandes acertos do programa sempre foi a curadoria, alternando nomes gigantescos como Anderson .Paak e Doja Cat a artistas independentes pouco conhecidos, cujas carreiras são catapultadas para o estrelato após a exibição de seus episódios. O caso recente mais célebre é dos argentinos Ca7riel & Paco Amoroso. Hoje, rodam o mundo.
“Começamos com dez artistas que vieram com muito entusiasmo, muito amor, desafiados não só pelo formato em si, mas pela proposta de estar na primeira leva, que não é pra qualquer um”, conta Mainha. Cada artista só vai ser divulgado quando o episódio for ao ar. Faz parte do conceito Tiny Desk.
“A gente acredita que está representando de uma forma bem interessante o equilíbrio da diversidade regional, de gênero musical e sonora”, completa Lívia. A continuação da fala da curadora Mainha soa como boa música aos meus ouvidos:

Equipes Tiny Desk Brasil e NPR. Foto: Fernanda Carvalho/Divulgação
“A gente quer que todo mundo saiba que é uma curadoria totalmente humana. Não olhamos para números, quem tem mais seguidores ou o que está bombando nas plataformas de streaming. Não tem sugestão pautada por ninguém”.
Pitacos, só mesmo do Tiny Desk original, que apoiou a escolha das dez primeiras atrações. Importante lembrar também que não é um projeto de tempo determinado. Enquanto todos estiverem felizes, o programa brasileiro continuará.
O organograma do novo projeto refresca o rosto com seu vento de mudança. Reflete algo tão buscado nos últimos anos, por muita gente. A presença feminina nos postos de comando dos projetos musicais. As três cabeças do projeto brasileiro são mulheres. A maior apoiadora, YouTube Brasil, também é dirigida por uma mulher, assim como a diretora da Tiny Desk, responsável pelo casamento binacional.
Não, não foi uma construção de equipe para atender às exigências de algum edital público. “Foi totalmente natural”, conta Lívia. De cima para baixo, as coisas vêm mudando na questão da igualdade de gênero.
O primeiro episódio do Tiny Desk Brasil vai ao ar no dia 07 de outubro, uma terça-feira às 11h, pelo canal oficial do projeto.




