Grupo canadense fez um dos shows mais espetaculares da sexta-feira
O Brasil ama o Arcade Fire. E o Arcade Fire ama o Brasil. Em um dos shows com a maior sintonia entre público e artista do primeiro dia deste Lollapalooza 2024, o grupo canadense mostrou que continua em ótima forma e por que é uma das maiores bandas deste século.
Paraiva no ar a dúvida de como o quinteto seria recebido por aqui em um cenário que pode ser chamado de “pós-cancelamento” do frontman Win Butler, dadas as graves acusações de crimes sexuais contra três mulheres e uma pessoa de gênero fluido. Ainda mais em um momento em que esse tipo de crime tem tomado repercussões inéditas no país, com os casos dos ex-jogadores Robinho e Daniel Alves [e também do técnico Cuca].
Mas ao menos enquanto nada é provado contra o frontman do grupo, a recepção foi a melhor possível. Em um palco Samsung Galaxy lotado, o casal Win e Régine Chassagne e seus companheiros mostraram a energia, a entrega e o talento que os consagraram como um dos melhores shows do planeta na atualidade.
O carrossel canadense, que se reveza com facilidade nos instrumentos, emocionou geral do início ao fim. Em grandes festivais, é comum que mesmo shows pesados tenham momentos mais frios, pois estão cheios de “turistas” — pessoas que não conhecem direito ou não costumam ser grandes fãs daquela atração. Com o Arcade Fire, foi diferente. Sobretudo nos biggest hits, principalmente aqueles dos álbuns de maior sucesso da banda — o debut Funeral e o vencedor do Grammy The Suburbs.
Clássicos como Neighbourhood #3, Rebellion, The Suburbs, Sprawl II e a apoteótica Wake Up [que, como de prache, fechou a performance] levaram muitas pessoas às lágrimas. A devoção do grupo também era notável. Win e Régine se jogaram na galera, ele se enrolou em uma bandeira do Brasil, se atirou no chão, deu uma guitarra para um fã [!!!] e se declarou ao nosso país — brincando, inclusive, que as pessoas daqui são tão bonitas que chega a ser injusto. A entrega foi tanta que, de vez em quando, era possível vê-lo cantar ofegante.
Além disso, um dos grandes momentos — senão o grande momento — foi o cover do que Butler revelou ser sua música favorita: Águas de Março. Emulando Tom Jobim e Elis Regina, o casal mandou uma incrível e surpreendente versão arcade-firezada do dueto [com quase todas as palavras em inglês, mas se arriscando um pouquinho no nosso idioma]. Foi também nesse momento que o grupo revelou que havia uma musicista da casa entre eles: a percussionista paulistana Silvanny Sivuca.
Os membros do Arcade Fire nitidamente estavam felizes demais por estar onde estavam, e a crise dos últimos dois anos foi totalmente deixada de lado. Ao menos, por uma noite.