Agnes Nunes Agnes Nunes. Foto: Divulgação

Agnes Nunes, a brasileira da superbanda formada com Macy Gray e Matt Sorum, do Guns N’Roses

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Bolada por Matt Sorum para o festival de ciência e tecnologia ambiental Sthorm, o grupo contou com a baiana Agnes Nunes, que falou ao Music Non Stop

No último sábado, 24 de agosto, a jovem Agnes Nunes (apenas 22 anos) realizou um grande capítulo de sua carreira: se apresentou ao lado da diva do neo soul estadunidense Macy Gray, apoiada do ex-baterista dos Guns N’ Roses, Matt Sorum. O encontrou deu certo porque os três artistas fazem parte do projeto Sthorm, uma fundação dedicada a usar a tecnologia na luta contra as mudanças climáticas. Movimento urgente e necessário, uma vez que o mau humor atmosférico não poupou nem mesmo o evento da marca que rolou em Piracicaba/SP, o Sthorm Festival: no final da tarde, uma tempestade de vento derrubou uma pequena estrutura do espaço, ferindo levemente três colaboradores.

O projeto reúne cientistas, feras da tecnologia e o pessoal da música. Sorum é um dos articuladores da Sthorm e responsável por reunir gente de diferentes áreas da música e possibilitar encontros como o que aconteceu no sábado. Agnes Nunes, que conversou conosco pouco antes do show, está envolvida com a fundação desde o ano passado.

“Quando vieram me falar que a Macy Gray estava topando participar disso, eu pensei: ‘poxa! É a Macy Gray, né?’. E eu uma cantora jovem, preta, mulher, nordestina e brasileira, de certa forma abraçada por estes dois ícones. É uma honra para mim, nem consigo mensurar.”

Agnes, apesar de novinha, mostra segurança no papel de porta-voz da Sthorm: “Para mim é uma benção saber que a arte, cada vez mais, se junta com a ciência para ir atrás das soluções que o mundo precisa. Eu acho que a arte é uma das formas mais poderosas para conseguir acessar o inconsciente do ser humano”.

Nunes conheceu Matt Sorum no festival da fundação em 2023. Cantaram juntos, estabeleceram uma conexão que já está rendendo até alguns projetos paralelos. Curioso é que, ouvindo a música da artista, dá para reconhecer algumas características em comum nas técnicas vocais das duas novas parceiras, Nunes e Gray.

“Eu cresci ouvindo Macy Gray. Cresci ouvindo muita MPB, rodeada das referências que eu tinha à minha volta. Tudo era minha mãe quem apresentava. Chico Buarque, Caetano Veloso, Djavan, Elza Soares. Minha sempre tentou me mostrar mulheres de força, da feminilidade negra. A Macy surgiu para mim quando eu quis repassar minha autoestima. Eu fui buscando as minhas próprias referências e ela está no meu leque de influências, além de Lauryn Hill, Etta James… tem até Neil Young!

Agnes Nunes viaja em seu planetinha em altíssima velocidade. Tão nova, já se apresentou no Rock in Rio, ganhou prêmio em Cannes e dividiu palco com Elza Soares. Nasceu em Feira de Santana/BA e, com nove anos de idade, mudou-se para Jericó/PB. Aos 16, já publicava seus videozinhos de música no YouTube. Desenvolveu uma maturidade incomum para jovens da sua idade. Uma vez que comentou sobre a influência materna em seus gostos musicais, fiquei curioso por saber a história de seus pais.

“Eu fui criada pela minha mãe e pela minha avó, duas mulheres fortes. Meu pai ‘saiu para comprar cigarro’ e nunca mais voltou. Por sermos de uma cidade pequena, eu não tinha muita ideia do que isso realmente pudesse virar e tudo acontecer. Na cabeça das duas, o músico tinha uma vida sofrida, que de fato é a realidade. Não é fácil. Mas eu sinto que fui agraciada pela música. Ela sempre me salvou, quando criança. Sofria muito bullying, era excluída das rodas de crianças. Chegava em casa e passava horas no meu tecladinho, cantando, para esquecer tudo o que havia acontecido no meu dia.”

Durante a pandemia, Agnes participou de uma transmissão ao lado de Seu Jorge e Elza Soares. Participou também de uma música do rapper Xamã, de quem se recusou a falar.

“A Elza foi uma coisa incrível. Mainha sempre colocava Elza para eu escutar. Pequenininha, eu já cantava ‘a carne mais barata do mercado é a carne negra’, chorando. Quando nos encontramos, ela olhou no fundo dos meus olhos e disse: ‘menina, você sabe quem você é, então não vai deixar o samba morrer, viu?’.”

Não duvido. É impossível passar incólume a um encontro cara a cara com Elza Soares. Tive a oportunidade de vê-la entrando na Audio para se juntar à plateia na cerimônia do prêmio WME em 2019, em sua cadeira de rodas.

“Ela é uma entidade, que ninguém vai conseguir explicar. O que ela é, toda história de vida que ela passou… Ela vendia vidro para sustentar os filhos. Perdeu um deles para a fome. Por isso sou tão grata pelo que tenho, ao lembrar de tudo o que ela sofreu para ser cantora.”

Pois é. Tem isso. O sofrimento como força motriz para compor. Pergunto a Agnes se é preciso sofrer para fazer música. Menina Mulher, seu álbum de 2020, foi lançado quando tinha apenas 20 anos, somente com composições de sua autoria.

“Acho que precisa viver para fazer música. E viver engloba tudo: sofrer, amar, ser feliz… A minha inspiração vem de todos os lugares. Sempre gostei muito de falar sobre amor e, com o tempo passando, a minha ideia sobre isso foi amadurecendo. Aquela fantasia antiga que eu tinha sobre o amor, também. Fui aprendendo que do amor também vinha a dor. E que a dor não era uma coisa tão ruim. Ensina a ser mais forte. Para compor, acabo misturando também um pouco das histórias que eu escuto. A arte é meio que isso, né? Ver beleza até onde não tem.”

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.