A era do pop político. Veja como foi o primeiro final de semana do Rock in Rio 2022
O primeiro final de semana do Rock in Rio foi marcado pela emoção do reencontro, por grandes parcerias de nomes da música brasileira e claro, muita (e da boa) manifestação política.
Metaleiro não é reaça, não senhor!
As camisetas pretas, possíveis de se ver circulando nas praias e bares cariocas, enfim chegaram ao Parque Olímpico. O primeiro dia Rock in Rio, sexta feira (2), foi dedicado ao metal e ao heavy metal.
O Palco Mundo abriu com Sepultura + Orquestra Sinfônica Brasileira. Juntos, tocaram a 9 Sinfonia de Beethoven, Roots Bloody Roots. Logo após a execução de Kaiowas, o público deu largada as manifestações contra o presidente em exercício.
O dia seguiu com Gojira, Bullet for my Valentine e Ratos de Porão, que também teve momentos efusivas e espontâneas manifestas políticas da platéia. No palco Sunset, Black Pantera cantou “A Carne”, em homenagem à Elza Soares.
A banda Living Colour dedicou seu show em memória de Marielle Franco. O primeiro dia do Rock in Rio encerrou com a apresentação do Dream Theater, mas o headliner da noite foi a lenda Iron Maiden, que tocou antes. Bruce Dickinson (64) tem uma energia incrível: pulava de um lado para o outro do palco, brincava de espada com o mascote Eddie e conversava com o público de maneia natural. Bom, são anos de amizade da banda com o Brasil, convenhamos.
Sábado, dia do rap e do funk
Sábado (3) foi a vez do rap e do funk. Racionais Mc´s, uma das bandas mais importantes do rap nacional e que recentemente desembarcou de uma turnê americana, finalmente tocou no Rock in Rio. A estreia foi no palco Sunset, mas com certeza, show digno de Palco Mundo.
Eles chegaram na cidade do rock em um vagão trem de São Paulo, a CPTM, projetada no fundo do palco. E na bagagem, trouxeram seus cerca de 33 anos de música, fúria e protesto.
Cantaram “Nego Drama” homenageando Marielle Franco, Moise Kabagambe, Moa do Katendê, Claudia da Silva Ferreira, Kathlen Romeu, as crianças Ágata e João Pedro e muitos outros negros assassinados no Brasil. No final da música, o público fechou com o coro de? Isso mesmo: “Hey, Bolsonaro…”
Levaram também um enorme baseado inflável que passou de mão em mão pelo público, predominantemente branco e de classe média, enquanto cantavam a música “Eu compro”. A letra de “Eu compro” é assim: “Na mão de favelado é mó guela, mó guela. Eu compro os pano. Eu compro de grife. Eu compro mansão. Eu compro de elite. Eu compro pra nós. Eu compro, não tem limite”. Se ligou?
Um pouco após o término da apresentação de Xamã com os Brô MC´s (e enquanto Alok incendiava o Palco Mundo), Mc Poze do Rodo e Bielzin abarrotaram o outro lado da Cidade do Rock, o palco Supernova, espaço alternativo que ferveu com os sucessos “Me sinto abençoado” parceria com Filipe Rat, “ Tô voando Alto”, “ Metflix”, “Eu fiz o jogo virar” e mais.
Um breve contexto de cidade
A cidade do Rio de Janeiro é marcada pelo conflito por territórios. Enquanto São Paulo tem uma facção que comanda o crime organizado, o RJ tem várias facções que disputam território. É nesse contexto que acontece a violência na cidade, traduzida, de certa forma, por uma música que segue uma linha contrária contrário da violência e que disputa a juventude. A música periférica carioca tem este pepael é em meio disso tudo que surge o Poze do Rodo. Ele cantava funk em referência a uma facção criminosa, e por um bom tempo ele foi proibido de entrar em regiões “inimigas”.
Hoje, Poze tem uma linha de trabalho diferente, tem uma trajetória de vencer essa jornada de crime através da música e conseguir ressignificar enquanto artista. Quem me passou essa visão foi Wesley Brasil, jornalista e comunicador do site da baixada que encontrei cobrindo o Rock in Rio.
Sábado também foi dia de Post Malone. Sempre carismático, entrou no palco cantando Wow e segurando uma bebida e um cigarro. Dançou na chuva, escorregou, levantou, convidou fã para subir no palco e quebrou seu violão em “Rockstar”. Tudo isso em cerca de uma hora e meia de show debaixo de uma chuva, que os fãs nem perceberam que caia.
Domingo é Pop
Já no domingo (4), o dia foi dedicado ao pop. Os fãs chegaram cedo e aguentaram forte: de chuva à indecisão sobre a apresentação de Justin Bieber. Vem ou não vem? Veio e mandou bem. A presença da voz suave de Bieber faz com que os fãs esquecessem a montanha-russa de emoções que antecedeu o show.
Quem também brilhou foi Luisa Sonza. A artista tocou guitarra, convidou Marina Sena para um dueto e homenageou Marília Mendonça com “Melhor sozinha”, música que fez em parceria com a artista que morreu em 2021 em um triste acidente aéreo.
A família Gil e o Rio de Janeiro continuam lindo. E é uma delícia ver cada dia que passa, a netinha Flora Gil desabrochando nos palcos. Brilha, Flor!
As manifestações políticas surgiam tanto do público quanto dos artistas, Emicida pediu “Vocês podem falar mais alto?” e claro, o público aumentou o volume dos protestos. Agradecido, o rapper emendou com um “Vocês são foda. Dia 2 de outubro, façam isso na urna”.
Confira a galeria de fotos do primeiro final de semana do festival