Iron Maiden em show no Morumbi São Paulo Iron Maiden – foto: Claudio Dirani

Cobertura Iron Maiden em São Paulo: crianças “invadem” o Morumbi para testemunhar o legado da banda

Claudio Dirani
Por Claudio Dirani

Ingleses encerram etapa sul-americana e até reclamam do frio de São Paulo

Iron Maiden em um domingo sombrio, garoento – típico inverno paulistano. Até aí, tudo normal. O que pareceu atípico no 29º show da banda inglesa no país – e o último da Legacy Of The Beast World Tour na América do Sul – foi a presença inusitada de crianças com menos de 8 anos, misturando-se com gerações que viram a banda nascer e atingir o estrelato.

Isso nos remete ao incrível livro do croata Stjepan Juras, Iron Maiden Para Crianças. Quem sabe os pais têm instruído os filhos com a história por trás das quatro décadas do grupo fundado em Londres por Steve Harris?

Camila, quando o show começar, eu te coloco nos ombros para você, ver, tá? -, alertou o pai vertido com uma camiseta do mais recente disco do grupo, Senjutsu

A criança muito educada ao lado do pai, balançou a cabeça, concordando.

Mal os primeiros acordes da faixa-título do 17º disco do Iron Maiden ecoaram pelo Morumbi lotado, Camila começou a cantarolar – e a vibrar, quando Eddie The Head, trajado de samurai guerreiro, começou a duelar com Bruce Dickinson.

O pai de Camila, orgulhoso, pegou a menina no colo e fez um pedido:

– “Agora você vai gostar só de rock and roll tá bom?

A menina, meio envergonhada, sorriu, para agradar o pai.

(…)

E por falar em agradar, este foi o password do Iron Maiden durante duas horas exatas no palco do Morumbi. Ao todo, 15 legados da besta entregues com carinho para fãs quase religiosos, como já fizera nas passagens por Curitiba, Ribeirão Preto e no Rock In Rio.

Para surpresa somente de quem não conhece o Iron a fundo, as três primeiras músicas do álbum mais recente do grupo, Senjutsu, foram cantadas em coro pelo público, como se fossem faixas de The Number of The Beast – o disco mais vendido e famoso dos ingleses.

“The Writing On The Wall”, o primeiro single divulgado para divulgar o LP, pareceu bem mais empolgante (e bem cantado) ao vivo. No telão, o vídeo oficial rolava enquanto Dickinson replicava a música, nota por nota.

O momento em que Bruce se comunicou mais com a galera antecedeu a “Blood Brothers”, de Brave New World.

Bruce – “Nós costumamos vir ao Brasil e está sempre ensolarado e calor…e definitivamente não está assim desta vez”, brincou. “O clima pode mudar, mas fod*-se o clima. O que importa são as pessoas. Pessoas podem mudar, mas ficamos felizes que vocês de São Paulo não mudam. Somos como uma grande família, e faz três anos que não nos víamos. Hoje, somos todos irmãos”, declarou, antes de começar a música que ratifica o discurso, e que significa “irmãos de sangue”.

Em seguida, depois da sombria “Sign Of The Cross”, com direito a cenário relembrando cruzes de um cemitério, “Flight Of The Icarus” abriu a série de clássicos da banda. A primeira faixa extraída de Piece Of Mind teve Dickinson com lança chamas e a figura de um Ícaro gigante no centro do palco.

Se para os fãs de longa data que não perdem um show “Fear of The Dark” pode até soar batida, a multidão que tomou conta do Morumbi pareceu discordar. Entre as 15 músicas, A música de 1992 foi a que mais gerou gritos e coros afinados.

“Liberdade” antes da independência

“Hallowed By Thy Name”, “The Number of The Beast” e “Iron Maiden” – as três performances seguintes – estão no setlist de todos os shows do Iron Maiden desde 1985. Seguramente, as músicas formam uma espécie de base sólida do espetáculo, representando, respectivamente, duas faces do Iron Maiden: a grande guinada no universo do metal e o início da banda.

Já no próximo dia 7 de setembro – ou seja, daqui a apenas dois dias – o Brasil comemora seu bicentenário de independência. Não é certo que a banda subiu ao palco com a efeméride brasileira em mente. Porém, a performance de “The Clansman” do álbum Virtual XI teve tudo a ver com a celebração.

No palco, enquanto segurava uma espada como se fosse um imperador, Bruce clamava:

– “Liberdade, Liberdade! Nós não podemos mais deixá-los capturar ninguém. Nós somos de uma terra livre”.

Certamente, os fãs da Donzela de Ferro saíram com um sentimento de liberdade do Morumbi.

Setlist completo:

Senjutsu

Stratego

The Writing on the Wall

Revelations

Blood Brothers

Sign of the Cross

Flight of Icarus

Play Video

Fear of the Dark

Hallowed Be Thy Name

The Number of the Beast

Iron Maiden

The Trooper

The Clansman

Run to the Hills

Encore 2:

Churchill’s Speech

Aces High

 

Claudio Dirani

Claudio D.Dirani é jornalista com mais de 25 anos de palcos e autor de MASTERS: Paul McCartney em discos e canções e Na Rota da BR-U2.

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