Foto: DivulgaçãoMetropole South America: a nova empreitada de Gui Boratto
DJ, produtor e arquiteto se juntou a Denise Klein e Klauss Goulart para administrar o braço sul-americano da agência alemã Metropole Talent
As agências de DJs são um ponto fundamental na profissionalização do cenário da música eletrônica em qualquer lugar do mundo, fazendo a vez de tutores, parceiros e sindicatos de classe. São elas que garantem aos artistas as condições necessárias para se fazer um bom espetáculo, além de buscar ativamente novos eventos e casas noturnas para rodar os discos.

Quando uma agência é criada por um DJ, a coisa melhora. Afinal, foi ele quem cortou o mato, tocando todos os finais de semana, conhecendo o melhor e o pior da vida na estrada, e sendo generoso o suficiente para compartilhar erros e acertos com os colegas. Dando um passo além, se a empresa se conecta facilmente com outros continentes, possibilitando a alavancagem internacional de quem está no seu casting, aí a coisa vira pura sedução.
Esse é o lado diferente da Metrople South America, a nova empreitada de Gui Boratto, um dos maiores nomes da música eletrônica nacional, ao lado de Klauss Goulart, ex-sócio da Plusnetwork, e Denise Klein, figura carimbada do metiê brasileiro — ambos com décadas de experiência no desenvolvimento de carreiras e turnês de artistas de peso. O tentáculo sul-americano de uma grande agência internacional — a Metropole Talent, fundada em Berlim — veio de uma “fusão de fusões”. A gente explica:
Denise já era agente de Gui Boratto, e ambos decidiram compartilhar a estrutura que tinham com outros profissionais, fundando em 2024 a Atomic Soda. Klauss, por outro lado, inaugurou em 2025 sua própria empresa, a Panorama X, que já nascia representando nomes como Curol, Shimza, Steve Angello e Hernán Cattáneo com foco na América Latina. Amigos e sabedores das trajetórias uns dos outros, resolveram se fundir em uma organização só, já nos primeiros meses de atuação.

Gui Boratto, Denise Klein e Klauss Goulart. Foto: Divulgação
Antes mesmo de arrumarem as gavetas e pendurarem os quadros na parede, Goulart chegou com outra ideia: desde julho de 2024, andava conversando com a Metropole Talent, que estava com planos de se transformar em uma marca global. Bora fundir de novo. Quem ganha são os artistas e festeiros brasileiros e sul-americanos, em um momento em que a música eletrônica nacional atinge um nível de expressão e volume nunca antes visto.
“Ainda como Panorama X, em 2025, tivemos 107 shows confirmados na América do Sul, excluindo o Brasil”, se orgulha Klauss. Imagine agora com um novo corredor, repleto de portas abertas?
Falar sobre o nosso continente é importante. Historicamente, o Brasil patina no intercâmbio artístico com o restante da América Latina, como se existisse uma muralha invisível que faz com que agentes e artistas se comuniquem muito mais com o Hemisfério Norte do que com nossos próprios irmãos. O empresário explica:

“Não existia um olhar ativo para o continente. Não existe interesse em descobrir quem são os promoters/clubs/venues importantes e clássicos dos outros países. O que nós estamos fazendo pra romper essa barreira é um trabalho ativo de formiguinha: viajar pra visitar os players, entender quem são os artistas de cada país, que ajudam a cena. Um exemplo: hoje nós representamos três argentinos. Hernán Cattáneo, Chapa y Castelo e Peces Raros (duo de rock eletrônico muito grande no país). Agora, um artista que assinar conosco, tem já por lógica um escritório que cuida dele na Europa, Ásia e, claro, América do Sul”.
A rodovia de trabalho gera um fluxo de duas mãos, facilitando tanto a gira de gringos na América Latina quanto a ida de brasileiros para outros continentes.
“A Metropole South America já começa com 59 artistas que circulam em três continentes do globo. América Latina, Europa e Ásia”, conta Gui Boratto. “Temos no casting todo tipo de som, desde Josh Wink a Pan-Pot, de DJ Marky a Zerb. Não tem muito a ver com o tamanho do artista, mas a maioria deles, por exemplo, tocaria no mesmo festival.”
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Quando escrevo sobre o mercado da música, sei que uma boa parte dos leitores são novos artistas. Entrar para o casting de uma agência não é fácil. É preciso convencer a equipe de que, no frigir dos ovos, será um bom negócio tê-lo no time. Pergunto ao trio de ouro o que um músico precisa ter conquistado na carreira para se tornar interessante para o seu casting e, por tabela, sair tocando mundo afora através da sua plataforma de contatos.
“O que a Metropole busca em um artista é uma identidade e um potencial comercial. Variedade e autenticidade” — ensina Denise. “É essencial ele ter produções autorais e um estilo próprio, de qualquer vertente da música eletrônica. A gente valoriza muito os que já têm uma assinatura sonora e conseguem ter uma narrativa por trás do projeto, como uma inspiração, uma estética, um conceito visual ou até levantarem uma bandeira.”
A montagem de um casting funciona também como o cardápio de um bom restaurante: “É importante poder atender a vários tipos de evento, e também de público. A força de uma agência está em sua diversidade”.

Denise manja do paranauê. Acompanha, inclusive, artistas e eventos com o pé na pista, sacando como a galera está recebendo e interpretando a música do DJ que está lá, na cabine, apresentando seu trabalho.
“Se um artista tem produções próprias bem rankeadas no Beatport, por exemplo, mas não tem uma carreira construída, a gente topa trabalhar isso.”
Fundada também recentemente, a Metropole Talent chegou cheia de bagagem, assim como aconteceu no Brasil. Criada por Michael Weicker, mano que já chegou com a experiência de trabalho em outras agências como a EMC e a gigante Artist Life, em sociedade com Marco Stark, fundador de outra agência local importante, a The Bliss Office. Somando com a tríade brasileira, contabilize aí milhares de horas de voo, seja na pista de dança ou na cabine do DJ. O cenário de música eletrônica agradece.



