The Cure - Mixes of a Lost World

Mixes of a Lost World

The Cure

Electronica | 2025

5/10

Jota Wagner
Por Jota Wagner

 

Como remixar uma banda como o The Cure, figura carimbada nas pistas de festas indie em todo o planeta, dona de um som que, apesar de flertar com o soturno e o melancólico em suas letras, é capaz de fazer canções de levantar defunto? Quase nenhum dos artistas convidados para remixar as faixas do novo álbum, Mixes of a Lost World, soube a resposta.

Quando a gravadora lançou o single de apresentação do álbum, com remix do Four Tet para Alone, o coração acelerou de ansiedade pelo álbum que agora vos resenho. A faixa é ótima, mas uma das poucas que se salvam, mesmo com outras 23 tentativas, de artistas de vários países e gerações.

Sem exceção, todos remixaram Robert Smith, e não o The Cure. Se prenderam a usar somente a (incrível) voz do cantor e líder do grupo, desprezando todos os outros elementos que fizeram da banda uma das mais cultuadas do planeta. As guitarras icônicas, a foda gostosa proposta pelo sexy casal baixo e bateria, tudo ficou de fora dos remixes que, em vários casos, pareceu que a pista de vozes isoladas de Smith foi colocada sobre trabalhos prévios não terminados de cada produtor. Na boa, com tanta história e tantos feitos em defesa da boa música de festa nesse redondo e esquisito planeta, o The Cure e seu mais recente álbum, Songs of a Lost World, mereciam mais.

Mesmo os bons trabalhos do álbum, a cargo de Daniel Avery, Trentemøller, Shanti Celeste e JoyCut, são bons mais por soarem mais como uma track na carreira de tais excelentes produtores do que uma reinterpretação em homenagem ao artista original. São produções com a voz emprestada de Smith, sufocada por toneladas de processamento digital, como delays e reverbs. Angustiante, já que é justamente a insegurança seca e crua da voz de Robert Smith que a faz tão encantadora em sua obra.

Songs of A Lost World, o original, é sim um álbum mais denso e eletrônico, mas a função vital de um remix é trazer algo novo e, principalmente, festeiro à obra original. Parte das músicas do álbum de remixes, ao contrário, descamba para a viscosa sonoridade da música industrial, transformando o que seria um remix de The Cure em óleo de motor. Em uma piscina dessas, fica difícil nadar.

A quem ama tais elementos do industrial e a quem é fãs dos remixadores convidados, Mixes of A Lost World pode agradar. Para quem gosta de The Cure, dificilmente.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.