Oxóssi na pista: Unfazed leva brasilidade ao topo do Beatport
Com remix para A Gira, sucesso do Trio Ternura de 1973, DJ e produtor brasileiro atinge o primeiro lugar no ranking geral do portal
Oxóssi está em festa. Uma música feita em sua homenagem virou remix e agora está em primeiro lugar no ranking mundial geral do Beatport, maior plataforma de venda de música eletrônica do mundo. A Gira, produzida pelo brasileiro Unfazed, está bombando. Foi usada na abertura do set dos alemães do Keinemusik em São Paulo, no Vale do Anhagabaú. O remix valoriza a voz brasileira dos irmaõs Jussara, Jurema e Lourenço, do Trio Ternura, cantando “ele atirou a flecha de seu bodoque, atirou”, uma canção de 1973.
Na época, aparecer nos programas de TV cantando uma música em homenagem a uma entidade da umbanda, com seus batuques e louvações, era um ato de coragem. O preconceito com as religiões de matrizes africanas seguia pesado (e segue até hoje, no surreal movimento dos traficantes evangélicos, que anda tomando conta das favelas brasileiras). Oxóssi foi trazido da África junto com os escravizados e, no imaginário brasileiro, assumiu a forma de um indígena. Arco, flecha e bodoque são instrumentos de caça em tribos brasileiras.
Lá estava o Trio Ternura bancando suas origens, e eis que 50 anos depois um DJ resgata a canção para transformá-la em um hit das pistas de dança. Unfazed, de 26 anos, meteu a boca com o som, que já pipocava nas festas de brasilidades há vários anos. Agora, o exército de fãs das festas de música eletrônica também louva, mesmo sem saber, Oxóssi e o Trio Ternura.
Unfazed é o nome de guerra de Henrique Gonçalves Galvão, de 26 anos. Nascido em Vinhedo, no interior de São Paulo, e ligado no surf, o produtor e DJ já vem botando banca no cenário de música eletrônica há algum tempo. Suas faixas já foram tocadas por nomes como &ME, Adam Port, Maz e Marten Lou. O remix de A Gira foi lançado no último dia 10 de janeiro, pelo selo Spinnin’ Deep.
É legal ver como culturas tão importantes brasileiras se esgueirando pelas frestas da música para acessar um público que até então não daria a mínima para elas. Eis que o poder do negro e do indígena brasileiro dá seu jeito, através do talento de bons produtores brasileiros. Flechadas de música neles, Oxóssi!