Nordeste Foto: Hugo Muniz/Reprodução

5 ritmos essenciais da região Nordeste

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Uma homenagem do Music Non Stop ao Dia do Nordestino

Ao longo da história, poucas regiões passaram por tantas transformações no Brasil quanto o Nordeste. Uma montanha-russa que levou a região ao centro do poder, potência econômica, apagamentos e migrações. Uma jornada tão rica, claro, resultou em uma das culturas mais interessantes e diversas em todo o país.

Nas últimas décadas, cidades como Recife e Salvador se tornaram epicentros de cultura, de novos artistas geniais e de revoluções na música brasileira. O efeito também pode ser percebido na região Norte. E o grande barato, na grande maioria destes movimentos culturais, é o resgate dos ritmos tradicionais. Muitos deles, ainda desconhecidos (ou conhecidos só por nome) fora de sua região de origem.

Celebrando o Dia do Nordestino, o Music Non Stop preparou um guia prático para entender cinco ritmos musicais tradicionais da região Nordeste.

Ciranda brasileira

Síntese da miscigenação do Nordeste, a ciranda foi construindo sobre referências culturais afro-brasileiras, portuguesas e indígenas. De presença forte nos estados de Pernambuco e Paraíba, resistem até hoje através de diversos grupos em atividade, além da lenda viva Lia de Itamaracá, homenageada deste ano do Prêmio WME. A cultura envolve danças e festividades, mas a música é levada pelos cirandeiros por instrumentos como a bandeira, o pandeiro e o triângulo.

Baião

O baião é um dos ritmos nordestinos mais conhecidos fora da região Nordeste, graças ao trabalho de amplificação de seu grande mestre, Luiz Gonzaga. Seus instrumentos típicos incluem a sanfona (ou acordeão), a zabumba e o triângulo, que são essenciais para a sua sonoridade. O gênero é filho do lundu, cultura angolana trazida ao Brasil por escravos. O ritmo se popularizou no século 19 no Ceará, Pernambuco e Paraíba, antes de ganhar o mundo.

Frevo

As histórias que envolvem a criação do frevo, lá nos tempos imperiais, são sensacionais, além de ajudar a explicar um pouco do fervo que a região vivia no século 19. O ritmo é uma fusão absurda e improvável: as marchas militares, a polca da região da Boêmia, o maxixe carioca e, claro, a música africana. Se tornou a trilha fundamental do Carnaval pernambucano, e segue sendo modificada e modernizada por artistas que atingiram reconhecimento nacional e internacional.

Maracatu

Originário da região de Recife, o maracatu é muito mais do que música. Teatro, dança e um fortíssimo apelo musical acompanham os batuques, ou “baques”, como são originalmente chamados. Dividido entre maracatu nação, com origens na cidade de Recife, e maracatu rural ou de baque solto, feito na região da Zona da Mata, o gênero foi fundado por escravos e traz alegorias e referências aos orixás.

Hoje, é um dos estilos nordestinos que mais cultuam interesse e curiosidade no mundo todo, graças ao movimento manguebeat, de Chico Science, Nação Zumbi e Mundo Livre S/A, que propuseram uma reinterpretação cyberpunk para o gênero. Atômico ou não, o maracatu é fantástico. Não existe nada mais mágico no imaginário brasileiro do que uma turma de caboclos de lança vindo pela estrada, no meio da mata.

Samba de roda

Não, o samba não veio dos morros cariocas, nem do Bexiga paulistano. A raiz do gênero que se espalhou, modificou, desdobrou e multiplicou em diversos subgêneros, do partido alto ao pagode, veio do Recôncavo Baiano, lá pelos idos de 1860, tempos em que a região era ponto de passagem de um monte de gente diferente em busca de riqueza. O samba de roda era uma forma de transmitir, dos escravizados para seus filhos, a cultura de sua terra de origem, a África, ensinando sobre o culto aos orixás, por exemplo, através da música.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.