‘Air toca Moon Safari’ é a 1ª atração confirmada do C6 Fest 2025
Dupla francesa tem apresentado seu álbum seminal pelas principais cidades do mundo
Está confirmado. O celebrado show do duo francês Air tocando seu clássico álbum Moon Safari virá ao Brasil como primeira atração confirmada do C6 Fest 2025 (22 a 25 de maio, no Parque Ibirapuera, em São Paulo). A notícia aplaca a imensa expectativa dos brasileiros em torno da possibilidade de ver Air toca Moon Safari de pertinho. Logo após a divulgação de que Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel visitariam a América do Sul para shows no Chile e Argentina no começo de novembro, choveram perguntas de fãs brasileiros: “mas e o nosso país”?
O C6 Fest fez uma estreia fantástica em 2023 ao colocar sob o mesmo teto Kraftwerk e Underworld, além de Model 500, Jon Batiste, Samara Joy, Caetano Veloso e grande elenco. Em 2024, consolidou o peso de sua curadoria ao trazer Soft Cell, Pavement, Paris Texas, Black Pumas, Raye e 2manydjs, apenas para citar alguns. Com o anúncio do Air, a turma de Monique Gardenberg, fundadora e produtora executiva da empresa responsável pelo festival (Dueto Produções), prova que não está no jogo para brincar.
Pensando dentro da caixa
Air toca Moon Safari já vem rodando pelas principais cidades do mundo desde fevereiro deste ano. Com as primeiras datas anunciadas, o alvoroço tomou conta, com pedidos de fãs pelo mundo afora (e claro que muitos vindos do Brasil). Para acalmar a ansiedade dos mais afoitos, a banda firmou uma parceria com a DRIIFT, uma plataforma global de streaming que transmitiu ao vivo a segunda data do grupo no Royal Albert Hall, em Londres, em 27 de abril. Os ingressos foram vendidos online. Assista abaixo a uma das apresentações em Londres.
No espetáculo, o duo apresenta o disco na íntegra, acompanhado de um baterista, em uma espécie de caixa retangular cujas paredes e teto são tomados por painéis de led, transmitindo mensagens subliminares que vão de um tesouro momentaneamente desvelado para o público a uma caixinha de música vinda do espaço. Curiosamente, a estrutura é bem parecida com o palco principal que o C6 montou nas duas últimas edições. As execuções são bastante fiéis ao som original do álbum lançado em 14 de abril de 1998. Um aperitivo da celebração lunática pôde ser visto na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de Paris. Convidado para celebrar a música francesa ao lado do Phoenix, o duo apresentou a música Playground Love durante a festa.
As comemorações dos 25 anos de Moon Safari mereceram, além da turnê, um relançamento bacanudo da obra, com remasterização em Dolby Atmos e edição de luxo em álbum duplo em CD e Blue Ray. O pack foi lançado em janeiro de 2024, junto com o anúncio da tour.
A trilha sonora para um domingo feliz
Moon Safari foi o disco de estreia dos franceses. O álbum (e por consequência, o duo) tomou conta do mundo rapidamente, e foi um divisor de águas musical, comportamental e químico. Até 1998, o universo da música eletrônica se dividia entre gêneros festivos, frenéticos e fritantes, como a house, o techno e o drum’n’bass, e a melancolia pessimista do trip-hop.
O Air chegou às lojas como um dia de princesa em um spa cósmico, trazendo dez músicas que eram verdadeiras massagens na alma, suavemente aplicadas em uma tenda montada na superfície de algum planeta ainda não descoberto. Após um sábado dedicado aos excessos na pista de dança, Moon Safari era a trilha sonora para um domingo feliz.
Pelos apartamentos de São Paulo — e cito a cidade apenas por ter sido testemunha ocular e auricular do processo —, grupos de amigos faziam audições do disco. Ouviam de ponta a ponta, largados em puffs e sofás em salas derretidas. Godin e Dunckel trouxeram a França de Édith Piaf, Serge Gainsbourg e Stereolab para o universo da música eletrônica. Cool, leve, solar com sol de outono. Era exatamente o que todos precisavam naquele momento.
Oxigênio na música
O Air ofereceu o respiro necessário para a música a partir de seu debut. Seus álbuns seguintes beliscaram sonoridades mais ásperas, como 10 000 Hz Legend e Talkie Walkie. Aventuraram-se pelas trilhas sonoras, como o ótimo tema composto para o filme As Virgens Suicidas. Foram agraciados com a sublime honra de musicar o filme Viagem à Lua, de Georges Méliès (1902), para seu relançamento, cem anos depois.
Mas até hoje, seu disco de estreia segue como a obra prima da dupla. E, sejamos justos, foi sim a trilha sonora de muita gente na virada do milênio. Um som carinhoso, com referências de jazz, música ambiente e até chamada “música de elevador”, rótulo sarcasticamente pejorativo para um tipo de som tão palatável que se vestia de cafona. Bem, depois de 1998, todo mundo queria subir no elevador do Air.
A dupla já tocou em São Paulo duas vezes. Em 2010, no festival da Natura Musical, e em 2016, na Audio. Apesar das apresentações memoráreis, a grandeza da turnê de Moon Safari, que vem causando frisson em festivais de todo o planeta, é inigualável. É bastante comum artistas organizarem turnês para tocar, na íntegra, álbuns que foram primordiais em suas carreiras. No caso do Air, a banda tocará no C6 Fest um LP que foi primordial para o mundo.
Festival com pedigree
Para os desavisados, a matemática que envolve o C6 Fest é incompreensível. Como pode um festival considerado de médio porte trazer, todo ano, artistas de tamanha brabeza? A resposta para este mistério é justamente seu pedigree. O rolê é feito pela mesma produtora que cuidava dos seminais Free Jazz Festival e Tim Festival, responsáveis por arar nossa roça com o que havia de mais catapultante na música mundial desde a década de 90.
A experiência foi rendendo tarimba e contatos para negociações com artísticas dificílimos e orçamentos impossíveis. Ao anunciar como primeira atração confirmada Air tocando Moon Safari, o C6 já chega tacando seu cartão de visitas na mesa e mostrando que segue firme na missão de deixar de ser um festival para se tornar um patrimônio da cidade.
Para quem já está ansioso para saber dos ingressos, a organização promete dar notícias em breve. Fique de olho no Music Non Stop para receber as primeiras informações do C6 Fest 2025.