No auge aos 83, Ney Matogrosso faz ‘maior show da carreira’ neste sábado
Espetáculo Bloco na Rua – Ginga pra Dar & Vender será apresentado no Allianz Parque, em São Paulo
Ney Matogrosso é, ao mesmo tempo, um anjo da transformação e um demônio das sombras. Há mais de 50 anos, vem encantando o país com seus hipnóticos números, enquanto seu alter ego desliza pelos becos e ruelas que existem na mente de cada um, organizando seus conceitos, sua visão de mundo e principalmente, seus desejos.
O maior intérprete brasileiro compreendeu antes de todos o poder que um espetáculo que vai muito além da música tem de encantar, de hipnotizar. Fará neste sábado aquele que será, segundo ele próprio, o maior show de sua longeva carreira, no Allianz Parque. O espetáculo foi batizado de Bloco na Rua – Ginga pra Dar & Vender. Até o fechamento desta matéria, ainda há ingressos disponíveis nos setores Pista e Cadeira Superior.
Para Ney, um sabor de doce vitória será saboreado em uma grande arena, onde brilhará solo para sua multidão de admiradores, revisitando toda a sua carreira. A ovação religiosa não será novidade, mas a grandiosidade do espaço e da produção, algo memorável — nada mais do que ele merece.
O artista anunciou Ginga pra Dar & Vender de forma curiosa e, como não poderia deixar de ser, teatral, no palquinho do Love Cabaret (antiga Love Story), no Centro de São Paulo. Ainda deu um ingresso de cortesia para todos os que estavam presentes. Mais Ney Matogrosso, impossível.
Para a multidão que o assistirá, Ney vai flutuar sobre o palco, de asas abertas, com carisma e poder de atração dignos de figura mitológica. Mal sabem os que estarão ali, embasbacados com sua presença focal, física e sexual, que serão reajustados por dentro, pelo mesmo ser Ney Matogrosso, agora em forma de célula invasora e invisível.
É raro, para não dizer sobre-humano, que um personagem se torne tão grande e sua performance tão sedutora que seja capaz de criar um transe coletivo como os que acontecem nos seus shows. Abertas as portas da percepção de cada um que o assiste ao vivo, o artista faz passar por elas sua horda de imagens e ideias, prontas para serem guardadas no inconsciente de seus seguidores. Uma caixa de Pandora ao contrário.
Se alguém duvida das divagações acima, não faltam exemplos de situações em que nosso herói titereou o coletivo para transformar o indivíduo. Inaugurou o casamento entre o teatro e a música já na primeira apresentação da seminal banda Secos & Molhados. Dançou erótico, maquiado e seminu durante o programa de TV mais assistido no país, no meio da repressora Ditadura Militar. Como uma Medusa brasileira, petrificou, apenas sendo e vivendo, todos aqueles que se atreviam a encarar sua vida sexual privada.
Ney é hétero, é homo, é bi, é pan, é drag, é tudo, em cima do palco ou fora dele, e pouca gente se importou com isso, inclusive dentro das salas iluminadas pelas televisões das famílias brasileiras, por mais conservadoras que fossem. Mais do que isso, lida com as entrevistas sobre este e outros assuntos com a tranquilidade de quem tem a consciência de ser indestrutível.
Há muito tempo, passa pelo moedor de carne do etarismo na arte, mostrando ao brasileiro que é possível ser erótico no envelhecimento, ser produtivo (Ney não para de colaborar com novos artistas, em quantidade surpreendente) e desmistificar o que se entende como “auge da carreira”. Apenas no último ano, o cantor já participou em lançamentos de artistas como Nação Zumbi, Hecto, Duda Brack e Zabomba, entre vários outros.
Qual o ponto mais alto da carreira de Ney Matogrosso? Se considerarmos que fará o show mais bombado de sua vida no sábado, seria justo dizer que é agora, aos 83 anos.