Gezender lança novo videoclipe produzido por Caco Neves para a coletânea da Bicuda Records

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Se tem uma coisa que todo mundo já aprendeu nestes tempo de isolamento, é que a música nos salva. Música nova então, vai além. Nos dá um banho de otimismo ao nos lembrar que gente no mundo todo, guardados em casa, se inspiram e produzem coisas novas.

O selo Bicuda Records, ativo desde o ano passado graça à iniciativa de seu cabeça Victor Almeida, é mais um coletivo que presta um grande serviço a quem consome arte com a avidez de quem se debruça sobre um prato de comida. A gravadora independente reuniu trinta e quatro artistas que estavam fazendo seus beats e gravando suas birutagens em casa para o lançamento de uma coletânea chamada Convid 99.

A coletânea, mais do que retratar o cotidiano criativo de quem está imerso em seu home estúdio, escancara a angústia, a ansiedade, a confusão e sim, a esperança de quem não vê a hora de voltar para a pista de dança.

A união de forças de três personagens desta bagunça resultou no incrível videoclipe que você viu, primeiro, na edição passada (18 de junho) de Todo Mundo é DJ, e confere agora aqui no Music Non Stop. Uma desconstrução do sexo e do que ele representa no trabalho Getting Fckd, do produtor Gezender.

A ideia de produzir um videoclipe veio por insinuação do Gezender ao amigo Caco Neves, que o preparou em segredo e o mostrou pronto ao músico. “Eu e o Tiago somos amigos desde a adolescência em Floripa. Já fomos parceiros em vários projetos, e colaborei nos projetos dele em diversas ocasiões. Nesse caso ele que sugeriu de fazermos um videoclipe, mas eu trabalhei nele meio em segredo, usando uma série de trabalhos meus que eu sabia que ele gostava. Queria fazer uma surpresa”, conta Caco, que tem em seu currículo trabalhos gráficos expostos em diversos países, além de uma série de quinze posteres para cultuado clube alemão Berghain . A faixa chamou a atenção na coletânea e o roteiro de colagens frenéticas que formigavam na cabeça do videomaker casaram com o que a música propunha.

Ao conhecer o resultado do trabalho do amigo, Thiago (o Gezender) se emocionou: “foi uma surpresa. Um dia ele me mandou o clipe pronto e fiquei super emocionado com o resultado, é um dos artistas que mais gosto e tenho por perto”.

Ambos tiveram a ideia de trazer um pouco de leveza a este momento tão denso. A música Getting Fcked mirando o alívio. “ Um amigo me mandou um meme de uma gay em frente a um club reclamando da quarentena, de ser privado de sair à noite e fazer sexo por conta da condição atual e resolvi samplear o áudio pra produzir a música. Queria algo divertido, pras pessoas rirem um pouco de si e por alguns minutos se distanciarem da realidade distópica que vivemos”.

Capa da coletânea Convid 99

O vídeo, que se entrega a este mundo doido que estamos morando atualmente, você confere agora. Uma visão fragmentada, ou paranoica, ou confusa, ou epopeica, do sexo. A interpretação vai ficar à cargo de quem assiste e, principalmente, da forma como experimentou a sacanagem até hoje.

Caco neves explica: “quis fazer um vídeo que fosse conceitual e experimental, então usei como base uma série de trabalhos que faço com imagens de pornografia vintage, onde crio desenhos fluidos e abstratos que mantém a tensão sexual da imagem com o mínimo de materialidade da fotografia original. Juntei tudo, joguei camadas e camadas e fiz uma animação bem inquieta, pra refletir o peso da música. O resultado foi de corpos desconstruídos, fragmentados, embolados uns nos outros, em um PB metalizado sobre um vermelho fundo que acentua todas essas formas”.

Aproveite para conferir também toda a coletânea da Bicuda, a Convid 99. O selo tem vários projetos programados ainda para este ano e o próximo, segundo Thiago Almeida, é do artista Nogayra, “um boy trans do sul que manda um beats nervoso”. 

 

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.