Beyoncé Salvador Beyoncé Brasil Década Foto: Reprodução/Instagram

10 revoluções sonoras brasileiras em meia década [parte 2]

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Compilamos os dez acontecimentos mais impactantes do mundo da música no Brasil nesta primeira metade de anos 20; confira os últimos cinco!

Para celebrar a metadinha exata da década de 2020, preparamos uma mezzo retrospectiva com as revoluções (e consolidações) que aconteceram nos últimos cinco anos no mundo da música brasileiro. A primeira parte, você pode ler aqui. Muita coisa surpreendente aconteceu em um planeta que adentrou a década enfiado em uma pandemia terrível, que trouxe resultados, claro, para a cena musical. Mudança de hábitos dos jovens, novos ritmos musicais fazendo a cabeça do povo e o reconhecimento efetivo da Bahia como grande polo criativo brasileiro e mundial. Segue o fio!

6. Beber está ficando cafona?

Década

Foto: Stéphan Valentin [via Unsplash]

Pesquisas realizadas em diversos lugares do mundo cravam sem erro: a geração Z  (nascidos entre 1995 e 2010) bebe muito menos do que todas as anteriores. Segundo a Mind & Hearts, do grupo HSR Specialist Researchers, em média, 36% dos jovens revelaram beber, no máximo, uma vez por mês. Mais de 80% consideram seriamente abandonar de vez a canjibrina.

Os motivos são vários. Entre eles, o movimento de pêndulo que existe nas sociedades com o passar do tempo. Ao crescerem vendo seus pais exagerando na bebida (e alguns se transformando em chatos), a nova geração quer ser diferente. No convívio social, um vai influenciando outro e, se antes era hype ser doidão, agora o diferente é não depender de estímulos para se divertir. Mas outros fatores, mais “digitais”‘, também foram identificados nas pesquisas. Muitos jovens se preocupam mais com sua saúde mental atualmente. A pressão digital (dar PT em uma festa, ser filmado e ter sua imagem exposta, por exemplo) também conta na hora de decidir beber ou não.

O hábito está provocando um pequeno terremoto na indústria do entretenimento e seus departamentos de marketing, que precisa se adaptar para eventos diurnos. Uma queda significativa foi sentida no movimento dos clubes e casas fechadas, já que a molecada prefere curtir shows em um festival ao ar livre, por exemplo. Nos Estados Unidos, o consumo de bebidas como kombucha e drinks funcionais tem aumentando consideravelmente, enquanto as bebidas alcóolicas registram queda anual.

7. Salvador

Beyoncé Salvador Beyoncé Brasil Década

Beyoncé em visita relâmpago a Salvador, em 2023. Foto: Reprodução/Instagram

A capital da Bahia sempre foi um vulcânico gerador de talentos musicais, mas finalmente vem recebendo tal reconhecimento do resto do país e do mundo. Mais do que isso, a cidade vem se tornando epicentro de produção musical e audiovisual brasileiro. Se antes era preciso que um artista baiano se mudasse para Rio ou São Paulo para consolidar sua carreira, hoje a mão é contrária. A atriz estadunidense Viola Davis foi até Salvador para anunciar a abertura de uma produtora de cinema na cidade, com foco na população negra. Beyoncé escolheu a capital baiana para uma visita surpresa, feita para divulgar a entrada de seu show no circuito de cinemas.

8. A ascensão do vinil

Melhores músicas vinil Década

Foto: Erick Mclean [via Unsplash]

As vendas de música em formato físico vinham crescendo ininterruptamente desde seu fundo do poço, no ano 2000. Mas a entrada da pandemia deu um belo impulso para que milhões de pessoas começassem (ou reativassem) suas coleções de discos. Com muito tempo de sobra, muitas pessoas aderiram ao colecionismo, e para quem gosta de música, juntar discos é a coisa mais legal que existe. A novidade é que o fenômeno também atingiu a geração Z. Primeiro, porque para muitos ter um disco do artista predileto tem o valor de “ser um fã de verdade”. Tanto é que, segundo pesquisa da plataforma Discogs, menos da metade quem coleciona discos de vinil tem sequer uma vitrola em casa.

Outro comportamento que ajuda em muito a renovação do público veio justamente dos artistas, que passaram a prensar seus álbuns digitais em luxuosas versões em vinil. Foi o caso de Taylor Swift, Sabrina Carpenter e Sam Fender. Ao validar o formato, muito fã correu atrás de suas cópias (no vinil, são limitadas, o que transmite alguma sensação de poder) e ajudou a aumentar o número dos relatórios anuais.

9. A consolidação do trap

Travis Scott

Travis Scott. Foto: Reprodução

Antes de 2020, o trap já havia caído nas graças de toda uma nova geração baladeira. Mas na pandemia (também), o bagulho ficou realmente forte, ganhando o coração das massas. Além de bombar nas plataformas de streaming (com muitos hits vindo de redes socias, como o TikTok), astros como Travis Scott, por exemplo, aderiram aos jogos online para amplificar sua fama em um momento em que todos precisavam ficar em casa.

Quando a reabertura da vida noturna voltou, muita gente já estava devidamente doutrinada no gênero musical. Os festivais, que de bobo não têm nada, rechearam seus line-ups com grandes artistas do trap em suas edições de 2022 e 2023. E para consolidar o gênero de vez, suas novas estrelas fizeram parcerias colegas de outros rolês musicais, como Xamã e o sertanejo Gusttavo Lima, e Orochi com Luísa Sonza.

10. Sangue latino

Anitta Envolver Mulheres Spotify

Anitta. Foto: Reprodução

Desde a virada da década, o Brasil tem seguido o mundo na aceitação total de ritmos latinos em seu repertório musical.  Em 2022, o streaming de artistas latinos no Brasil cresceu 12%, com a espanhola Rosalía liderando como a artista mais ouvida no Spotify Brasil. Hits como Despechá (Rosalía) e Envolver (Anitta) foram os mais reproduzidos em espanhol. Trechos de músicas como Gasolina (Daddy Yankee) e Tití Me Preguntó (Bad Bunny) viralizaram em desafios de dança, atraindo jovens brasileiros. E os artistas já sabem disso.

Pela primeira vez, Bunny virá ao Brasil em 2026, com shows em São Paulo, no Allianz Parque, nos dias 20 e 21 de fevereiro, como parte da sua turnê Debí Tirar Más Fotos. A música latina atingiu 1% fixo do mercado brasileiro em 2023 — um marco inédito, considerando a dominância de gêneros locais como sertanejo e funk. Artistas como Shakira, Karol G e Bad Bunny passaram a figurar no Top 50 Brasil do Spotify, algo raro antes de 2020.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.