Mulú Foto: Glaucia Mayer/Divulgação

Mulú: “Me encontrei dentro do funk”

Maravilha
Por Maravilha

Curtindo o sucesso de sua MTG para Billie Eilish, DJ e produtor carioca conversou com Maravilha

Com certeza você já ouviu pelo menos uma produção de Mulú. Na dúvida, entre vários lançamentos brilhantes nos últimos tempos, recentemente sua versão MTG de Chihiro, da Billie Eilish, viralizou no TikTok e no Instagram, desencadeando uma sequência de acontecimentos polêmicos e marcantes no mundo da música.

Na onda do sucesso de sua versão não oficial, outros DJs lançaram versões pirata da música, e o rebuliço foi tanto que a equipe de Billie autorizou o artista a lançar uma versão cover. Com Duda Beat como colaboradora e interprete, o resultado foi surpreendente. As atletas brasileiras Rayssa Leal e Rebeca Andrade levaram a coreografia da MTG Chihiro para as Olimpíadas, a própria Eilish compartilhou o video de Rebeca dançando a música no TikTok, e agora o som está alcançando outros públicos, fora do Brasil.

Quem poderia imaginar que uma versão funk de uma canção de uma das artistas mais celebradas de Los Angeles, que tem uma sonoridade tão oposta, embalaria tantos brasileiros? Ele não só imaginou como fez. Antonio Antmaper, natural do Rio de Janeiro, mais conhecido pelo nome artístico Mulú (antes Omulu), é um DJ e produtor musical brasileiro que se destaca por sua fusão de música eletrônica com ritmos do Brasil e da América Latina.

Seu som inovador já atraiu a atenção do pesquisador musical Hermano Vianna e de artistas importantes como o DJ Zegon, da dupla Tropkillaz, que o convidou a integrar o selo Buuum Trax. Artistas internacionais, como Diplo, também o elogiaram, classificando Mulú como um dos seus favoritos do Brasil e uma figura central na conexão das cenas musicais brasileiras. O carioca também remixou e colaborou com nomes como Pabllo Vittar, Arto Lyndsay, Wesley Safadão, BaianaSystem, Bomba Estéreo, Luedji Luna, Potyguara Bardo, Gilsons, Rachel Reis, Letrux e Elza Soares.

Um pouco antes de lançar a versão com participação da Duda, ele contou ao Music Non Stop alguns detalhes de sua jornada.

Maravilha: Conta pra gente um pouco do início da sua relação com a discotecagem e a produção musical. Aconteceu tudo ao mesmo tempo?

Mulú: Desde novinho eu já sonhava em ser DJ. Apesar de ter nascido em Iguaba, na região dos lagos do Rio de Janeiro, passei parte da minha adolescência no meio dos anos 90 morando na Vila Formosa, em SP, onde eu ia pras matinês no Moinho Santo Antônio, Toco, Kyron, etc. Ali, DJs tocavam house, italo dance, jungle, e eu ficava lá na frente prestando atenção em tudo que faziam. O equipamento e os discos de vinil eram muito caros e meus pais não tinham como investir. Meu pai naquela época vendia seguros e apareceu com um PC 486 para redigir contratos. Pedi para ele colocar um kit multimídia no computador, que era uma placa de som e um leitor de CDs, e meu primeiro contato com o áudio foi com softwares de manipulação de áudio digital. Paralelamente, fui aprendendo a produzir enquanto me tornava DJ.

O que mudou do início da sua jornada na música em relação ao seu trabalho nos dias de hoje?

A tecnologia evoluiu bastante, nos proporcionando muitas ferramentas que ampliam nosso potencial criativo. As redes sociais evoluíram para um modelo em que a música pode ser o ponto de partida para conectar uma comunidade. No começo, eu postava uma música e aguardava os DJs tocarem nos bailes. Hoje, muitos DJs tocam músicas que estão viralizando nas redes.

Quando você decidiu combinar gêneros da música popular com elementos da música eletrônica?

Na adolescência, eu estava muito ligado ao funk e na música eletrônica estrangeira. Tive minhas fases de curtir techno, electro-funk, house, disco… Na fase adulta, me conectei profundamente com a música brasileira. Foi um movimento natural querer experimentar com os ritmos.

Você possui colaborações com diversos artistas que se destacam no cenário da música nacional. A maioria deles também tem como característica a fusão de estilos e ritmos. Como você percebe esse diálogo entre estéticas e cenas?

Para mim, é o movimento natural da música, que assim como a linguagem e a genética, se recombinam o tempo todo para evoluir.

Mulú

Foto: Divulgação

O funk é uma sonoridade muito presente em suas produções, principalmente quando se trata de remixes e montagens — desde o eletrofunk, também conhecido como voltmix, ao tamborzão. Qual é a diferença entre uma MTG e um remix?

O funk sempre esteve presente na minha vida. Antes de ir para SP, morei no Rio de Janeiro e estudei no CIEP Presidente João Goulart, no morro do Cantagalo, onde tive meu primeiro contato com o funk com os melôs da Feira de Acari, Uh Tererê, Tchotchomary, etc. Quando voltei para Petrópolis, adolescente, curtia ouvir montagens com a galera da escola.

A montagem envolve misturar mais de um fonograma, enquanto o remix é uma reinterpretação de uma música adicionando batidas e instrumentais, mas hoje em dia ambas são conceitualmente bem parecidas.

Muita gente está pedindo a MTG de Chihiro no Spotify, mas existem alguns detalhes burocráticos de direitos autorais envolvidos para disponibilizar a faixa nas plataformas. Você vem compartilhando com o público, através das suas redes, como tem sido a movimentação para desenrolar essa liberação. Como anda esse processo?

Já recebemos da equipe da Billie que não há planos para remixes do último disco dela até agora. Mas eles disseram que não haveria problema se fosse um cover. Estou trabalhando nesse cover agora, com muita elegância, para dar o desfecho que os fãs da MTG CHIHIRO merecem, sem desespero para se aproveitar da trend.

O que tem chamado sua atenção ultimamente no mundo da música? Algo em especial tem te inspirado nesse momento?

Estou totalmente viciado em produzir funk. Acho que agora me encontrei dentro do estilo. Já estou fazendo MTGs oficiais pra artistas grandes. Em breve, vai estar na pixta!

Qual recado você daria para o Mulu, se pudesse voltar no tempo, lá no início da carreira?

Acredite na sua intuição.

Maravilha

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Maravilha é uma artista-multimídia, musicóloga, DJ, compositora, produtora musical e arte-educadora carioca radicada em São Paulo. Aqui no portal escreve e reflete sobre arte, música brasileira e toda a sorte de grooves. É também fundadora da Tremor Produtora.