Xanadu Imagem: Divulgação

Você sabia? Filme que ajudou a moldar os anos 80 foi fracasso de bilheteria

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Rejeitado nos cinemas, o “discomusical” Xanadu conquistou as paradas e influenciou no visual exuberante da década

“Uma confusão maldirigida, que não sabe se quer ser um tributo a Gene Kelly ou um videoclipe estendido da Electric Light Orchestra”, “um turbilhão visual sem coração” e uma “falha em criar qualquer magia genuína”. Acredite, mas as três críticas foram as primeiras a avaliar um dos filmes que marcou estetica e musicalmente uma década: Xanadu, lançado há 45 anos e estrelado por Olivia Newton-John.

Em uma época em que levar uma resenha feita por críticos experientes em um jornal e revista levava milhões às salas de cinema, as sarrafadas iniciais dos jornalistas provocaram um fracasso total nas bilheterias, justamente em um momento em que a indústria cinematográfica tentava manter aberta as compotas de dinheiro que jorravam de duas represas transbordantes do cinema estadunidense: a dos filmes musicais, popularizada com Grease (Nos Tempos da Brilhantina), e a da disco music, bombada com Saturday Night Fever (Os Embalos de Sábado à Noite), ambas de 1978.

Xanadu chegou às telas para fundir os dois gêneros. Na trama, “Kira, deusa grega da dança, vem à Terra ajudar o artista Sonny Malone a realizar seu grande sonho de abrir uma inovadora casa noturna. O experiente dançarino Danny McGuire também contribui na empreitada, mas tudo se complica quando Kira acaba se apaixonando por Sonny, contrariando as ordens de Zeus“, segundo nos conta a sinopse oficial divulgada pela Universal Pictures. O filme também pretendia faturar na nova tendência das roller discos, pistas de patinação no gelo com luzes e música de discoteca, um tema já cooptado pela concorrente Columbia Pictures em Roller Boogie.

Se o público não comprou a ideia do “discomusical” nos cinemas, pelo menos adorou — a exemplo do que aconteceu com outro fracasso de bilheterias, o Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1978 — a trilha sonora, graças à sua embalagem muito bem-sacada. O produto foi lançado como um álbum duplo, sendo um disco de Olivia Newton-John e outro da Electric Light Orchestra. Vendeu às pencas, ficando em primeiro lugar em diversos países do mundo e ganhando o selo de platina (um milhão de cópias vendidas), nos Estados Unidos e no Reino Unido. Três canções do filme se tornaram grandes sucessos na carreira de Olivia: Magic, Xanadu e Suddenly.

Curiosamente, mesmo sem arrastar multidões para os cinemas, Xanadu ajudou muito a moldar a estética dos anos 80: roupas coloridas, laquê no cabelo e a sonoridade eletrônica. Lançado na virada da década, popularizou tendências que se replicariam em todo o mundo, contribuindo também para uma transição musical da disco music para o universo pop.

Robert Greenwald, diretor do filme, também tentou propor um misto de homenagem e renovação da dança nos filmes de Hollywood, ao convidar o dançarino especialista em sapateado Gene Kelly para um de seus últimos papeis no cinema — um louro abafado pela performance ruim nas bilheterias do país.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.