Will Smith Foto: Divulgação

De volta às origens e ‘dançando nas sombras’: como Will Smith chega ao Rock in Rio

Jota Wagner
Por Jota Wagner

Reencontrando-se com o rap, astro se apresenta nesta quinta-feira no Palco Sunset

Trazer atores famosos para shows de música no Rock in Rio tem ares de tendência. Afinal, Will Smith, que se apresenta nesta quinta-feira (19), no Palco Sunset, não é o primeiro nesta aventura. Jack Black, em 2019, foi simplesmente o headliner de uma das noites do evento com seu duo mezzo música, mezzo comédia, Tenacious D. Se os roqueiros barrigudos já reclamavam que “Rock in Rio não é rock”, agora têm mais uma palavra de ordem para bradar: que o evento não é música. Choradeiras à parte, a verdade é que artistas como Black e Smith (sem trocadilhos) são irresistíveis para qualquer curador de festival pop. Agregam a gigantesca massa de fãs vinda do mundo do cinema, em especial aqueles frequentadores assíduos de blockbusters.

Embora pouca gente saiba, no entanto, Will Smith era rapper (famoso e dos bons) antes de se render à carreira do ator, quando assinava como The Fresh Prince. Além disso, o astro de filmes como A Lenda, Homens de Preto e Hancock tem empreendido vários esforços para se reaproximar do mundo da música. Will vem comandando, há alguns anos, um dos podcasts sobre rap mais bombados dos Estados Unidos. Apenas neste 2024, o artista já lançou dois singles: You Can Make It e Work Of Art. Sua apresentação no palco do RiR, portanto, vai ao encontro de tudo o que tem feito nos últimos tempos.

O jovem Will Smith, nascido em 1968 na Filadélfia (EUA), despontou para o rap aos 17 anos, ao lado do parceiro DJ Jazzy Jeff. Fazendo um som leve e festeiro, a dupla foi contratada por uma figura bastante conhecida entre o pessoal da música eletrônica: Paul Oakenfold, que na época trabalhava como responsável pelo repertório da gravadora Champion Records. Seu primeiro single, Girls Want Nothing But Trouble, já foi um baita sucesso, trazendo samples da música-tema do seriado de TV Jeannie é um Gênio.

Três anos depois, a emissora de TV americana estava com o roteiro pronto para uma nova série que falava sobre um garoto negro enviado para morar com uma família rica no bairro de Bel-Air, em Los Angeles. Smith servia direitinho. Divertido, carismático e já fazendo um baita sucesso entre a garotada, graças a hits com temática juvenil como Parents Just Don’t Understand e Summertime.

Nascia, então, a muito bem-sucedida série estadunidense The Fresh Prince Of Bel-Air, transmitida até hoje no Brasil com o nome Um Maluco no Pedaço. Além de inaugurar uma nova paixão em sua vida, a atuação, o trampo também salvou a vida de Will. Aos 20 anos de idade, o rapper acumulava uma dívida de quase três milhões de dólares em impostos não pagos. Prestes a tomar um belo enquantro, fechou um acordo com a Receita Federal de seu país e, com o dinheiro da série, saldou as dívidas, livrando-se da cadeia.

O sucesso na TV abriu espaço para o cinema e construiu a imagem que todo mundo conhece: o ator de sucesso, com dezenas de grandes filmes na biografia e considerado um dos maiores da história recente de Hollywood. Até 1997, Smith ainda tentou conciliar a vida de ator com a carreira solo no rap (se separou de Jazzy Jeff em 1993), mas a agenda cinematográfica acabou falando mais alto, até que um episódio complicado manchou sua imagem em 2022.

Na frente de milhões de pessoas que assistiam ao vivo à cerimônia do Oscar, o ator se incomodou com um piada feita pelo apresentador Chris Rock em relação à sua esposa, Jada, e subiu ao palco, desferindo um tapa na cara de Rock que resultou na sua expulsão da academia por dez anos. Foi depois da mancada que Smith começou a olhar novamente para projetos na música e, não sem sentido, seu próximo álbum, prometido para lançamento ainda em 2024, se chamará Dance In Your Darkest Moments (“Dance em Seus Momentos Mais Obscuros”).

A verdade é que, mesmo se jamais tivesse atuado em um filme, Will Smith já teria escrito seu nome na história do rap. O fato de ser um dos mais famosos atores de Hollywood foi apenas a cereja do bolo, garantidora do seu convite para a apresentação de hoje no Rock in Rio 2024.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.