Hoje esta coluna tem o prazer de trazer a história do aniversariante do dia, um ícone reconhecido mundialmente como um dos maiores guitarristas da história do jazz, me refiro a ninguém menos que Wes Montgomery, artista que, se vivo, estaria completando 98 anos
Wes Montgomery influenciou e continua influenciando inúmeros músicos, não só de jazz, mas dos mais variados estilos, entre os quais está George Benson, de quem, com toda certeza, falarei em breve.
John Leslie Montgomery, nasceu numa família com grande inclinação musical, no dia 06 de março de 1923, em Indianápolis, EUA, começou tocar guitarra na adolescência, após ouvir uma gravação de Solo Flight, executada pela Benny Goodman Orchestra, com o genial Charlie Christian na guitarra; o artista e Django Reinhardt foram os responsáveis por estabelecer o padrão predominante para o violão de jazz, no início e em meados do século XX.
A partir deste ponto, o autodidata Wes Montgomery, começa demonstrar real interesse pelo instrumento e estudá-lo. Após reclamações de vizinhos por conta do barulho, decide substituir a palheta pelo polegar direito em seus dedilhados, o que resultou em sua forma única de tocar duas notas ao mesmo tempo com uma oitava de diferença, esse uso de melodias, de acordes sofisticados, mudaram definitivamente a história da guitarra no jazz.
Em 1948, Wes passa a integrar o grupo do vibrafonista Lionel Hampton, que também teve entre seus integrantes nomes de máximo peso como Dexter Gordon, Quincy Jones, Johnny Griffin, Charles Mingus, além das cantoras Dinah Washington e Betty Carter.
Depois de dois anos em turnês com a banda, Montgomery não aguenta de saudade da esposa e dos sete filhos e retorna para Indianápolis, onde permanece quase anônimo por grande parte da década de 1950, mantendo um emprego diurno e tocando em bares da cidade quase todas as noites. Recentemente, uma equipe de pesquisadores de jazz e o lendário produtor musical Michael Cuscuna (de discos como, por exemplo, o cultuado Bitches Brew, de Miles Davis) “descobriram” gravações deste período da carreira de Wes Montgomery, até então obscura, a gravadora Resonance se encarregou de restaurá-las, os registros históricos trazem um artista ainda em construção e um pouco contido, mas não por isso menos maravilhoso, o resultado pode ser ouvido no álbum Echoes of Indiana Avenue, lançado em 2011.
Em 1958, ao lado dos irmãos, o vibrafonista Buddy, o baixista Monk Montgomery e com participações de Freddie Hubbard no trompete, Wayne Atkinson e Alonzo Pookie Johnson no sax tenor, Joe Bradley no piano e Paul Parker na bateria, gravam pela Pacific Records, o disco The Montgomery Brothers and Five Others, o primeiro do Montgomery Brothers. Nos anos seguintes, os discos gravados, a maioria pela Pacific Jazz, foram The Montgomery Brothers, em 1960, Wes, Buddy & Monk, e George Shearing and the Montgomery Brothers, em 1961 e Groove Yard, este pela Riverside Records em 1961. Anos onde Wes, em particular, começa a construir sua brilhante reputação.
Em 1959, grava seu primeiro trabalho como líder, Wes Montgomery Trio e em seguida o cultuado disco The Incredible Jazz Guitar of Wes Montgomery, de 1960, em companhia do pianista Tommy Flanagan, o baixista Percy Heath e o baterista Albert ‘Tootie’ Heath, álbum que colocou Wes definitivamente no mapa do jazz. Gravado em Nova York e produzido por Orrin Keepnews, traz a clássica composição de Sonny Rollins, Airegin, onde já notamos desde as primeiras notas a química funcionando perfeitamente; composições próprias como Four on Six, particularmente uma das minhas preferidas, com sua melodia que uma vez ouvida nunca mais se esquece; West Coast Blues e D-Natural Blues, uma das melhores faixas do álbum, com um solo de várias camadas executadas por Wes. Se você procura um álbum que represente a carreira curta, porém excepcional de Wes Montgomery, definitivamente a escolha é esta.
Além dos trabalhos solo e com os irmão, Wes foi para o estúdio com o cantor Jon Hendricks, o trompetista Nat Adderley, o vibrafonista Milt Jackson, os saxofonistas Harold Land e Cannonball Adderley; tocou também, brevemente, no grupo de John Coltrane, com quem nunca gravou.
Com a falência da Riverside Records, em 1964, o artista migra para a Verve, onde durante os anos de 1964 a 1966 grava uma maravilhosa série de discos, são eles Bumpin, de 1965, arranjado por Don Sebesky, (arranjador também de álbuns de outros gênios como Chet Baker e Paul Desmond) disco que tornou-se o primeiro dos dez de Wes Montgomery a entrar nas listas da Billboard. Nos três anos seguintes, Wes raramente saiu das paradas com os álbuns Tequila (1966), California Dreaming (1967), com a versão da canção título, composta por John e Michelle Phillips, do The Mamas & the Papas, que mais gosto e que também conta com os maravilhosos arranjos de Sebesky. Em 1966, lança o álbum Jimmy & Wes The Dynamic Duo , gravado com Jimmy Smith, um artista extraordinário, que revolucionou o uso do órgão Hammond no jazz. A vibração de Jimmy, somadas às notas redondas e quentes de Wes, a participação do percussionista Ray Barreto, a fusão do jazz ao soul e funk e às raízes bop, trazem um resultado é incendiário e não poderia ser diferente.
Goin ‘Out of My Head, é premiado com um Grammy em 1965, e em 1967, A Day in the Life se torna o LP de jazz mais vendido daquele ano alcançando a 13a posição nas paradas por mais de um ano. Os álbuns Smokin ‘At The Half, (1965), Down Here On The Ground e Road Song (1968) também merecem nosso máximo respeito e foram predecessores do smoth jazz, gênero de alguns artistas incríveis como George Benson, já citado neste texto, Grover Washington e Eumir Deodato, entre outros.
Wes Montgomery foi um homem gentil, que nunca teve uma educação musical formal, mas sua importância no mundo do jazz está no mesmo patamar do mestre Charlie Christian, que para nossa imensa felicidade, Montgomery seguiu. O artista é um dos meus prediletos, sua música toca no fundo da minha alma, poder homenageá-lo neste dia especial é uma honra e é também uma imensa alegria sentir que, em suas lindas e perfeitas melodias, ele estará vivo para sempre.