Selo se divide entre gravadora, workshops e comunidade por assinatura
Expoente do techno brasileiro, Wehbba inaugurou na última semana o seu novo e ousado projeto: HIFN, uma plataforma artística que se divide em três pilares: gravadora de música, realização de workshops e uma comunidade online por assinatura.
A chegada oficial se deu com o lançamento do EP Nitro, de autoria própria. Nele, vemos a premissa básica do selo em mesclar duas das maiores paixões de seu criador: música e literatura. Essa fusão se dá através das chamadas versões Wordscape, que estarão presentes em todos os EPs. Nelas, uma peça literária escrita pelo DJ e produtor radicado em Lisboa é incorporada a um remix de uma das faixas do disco.
Em Nitro, por exemplo, temos três músicas: Nitro, Frozen e Nitro Wordscape — uma desconstrução ambiente da faixa-título que traz um poema de Wehbba [também presente na arte da capa] recitado por uma Inteligência Artificial.
“Posso fazer uma short story, um haiku ou um poema concreto. Haverá vários tipos de expressões escritas e recriadas de diferentes maneiras”, explicou o artista em um comunicado para a imprensa.
“Eu trabalhei basicamente por sete anos exclusivamente com a Drumcode [gravadora de Adam Beyer], foi muito gratificante, mas sentia uma limitação na quantidade de lançamentos que fazia. Precisava de mais espaço para me expressar, e no álbum que lancei em 2020 [Straight Lines and Sharp Corners], eu já tinha sentido necessidade de colocar mais a escrita, que voltou pra mim com tudo na pandemia”, complementou.
A cada novo release, o DJ paulistano fará um workshop gratuito em algum canto do mundo. Aqui, a proposta é de democratizar o acesso à música eletrônica e combiná-la a outras expressões artísticas.
No primeiro evento, agendado para no próximo dia 05 na STATE, em São Paulo, o produtor mostrará como produziu Nitro e promoverá o trabalho de três convidados especiais: sua irmã, Bruna Wehba [designer que criou a identidade visual da HIFN], o DJ, produtor e professor Andre Salata, referência em techno no Brasil; e o pintor, designer e artista digital Grassano, responsável pelas próximas capas da gravadora.
Posteriormente, Wehbba irá inaugurar a comunidade HIFN, que funcionará mediante plano de assinatura e permitirá aos seus membros conferir na íntegra a gravação de cada workshop. Assim, se fecha o ciclo selo–workshops–comunidade.
“Meu objetivo é trazer a arte para a comunidade da música eletrônica, e fazer com que todos se sintam incluídos no processo. E quando eu digo todo mundo, é todo mundo. Todos os eventos serão gratuitos, independentemente do lugar do mundo onde eu estiver. A comunidade vai ser paga, mas por um preço acessível”, revelou, desta vez em uma coletiva de imprensa que contou com a participação do Music Non Stop.
Veja outros trechos da entrevista
Como surgiu a ideia da comunidade
“Durante a pandemia, eu e minha namorada ANNA criamos um estúdio em Barcelona, que trouxemos aqui pra Lisboa. E dentro dele, a gente criou uma masterclass, que foi vendida a outras pessoas. A partir dessa experiência, criamos uma comunidade no Facebook para os assinantes. Eu achei esse conceito muito legal, e então quis trazer isso pro meu selo e fazer esse mesmo tipo de interação acontecer, só que num âmbito mais aberto. Tipo, uma pessoa do grafite de rua, que nunca foi numa festa [de techno], mas viu isso em algum lugar, se interessou e começou a aprender. Então eu quero democratizar realmente, oferecer esse tipo de informação e integração pra todo mundo. Sem exceção.”
Pioneiro?
“Eu nunca vi [algo do tipo antes], mas não quer dizer que eu seja o primeiro. A comunidade veio de um amalgamento de coisas. Eu fiz a masterclass, abri aquela comunidade, que me trouxe a vontade de compartilhar mais do meu processo, e aí a partir disso discutir e aprender com outras pessoas. Ao mesmo tempo, eu também tinha cansado de ficar naquele loop: faz a música, lança, toca, volta pra casa… Criei um live act com synths e drum machines, foi uma das maneiras que tentei mudar esse ciclo, criando algo diferente pra me desafiar. Fui juntando um monte de ideias, até chegar no conceito. Eu queria ter o selo, queria escrever… Nunca vi algo do tipo, pode ser que até exista. E se existir, melhor ainda, maravilhoso, quero fazer parte também (risos)! Não foi algo que criei pra ser diferentão, mas por necessidade mesmo.”
Conexão com a escrita
“Eu escrevo desde moleque. Ganhei competição de redação na escola, ganhei viagem, sempre foi uma coisa que eu adorei fazer. Mas isso não quer dizer que eu leia muito. Tem algumas coisas que eu gosto, mas não é um hábito meu. Mas eu tenho essa necessidade de me expressar escrevendo. Achei legal de trazer isso à tona porque talvez outras pessoas como eu, que não têm o costume de ler, comecem a ver que também podem fazer isso [escrever]. É tirar um pouco essa necessidade de ter que ser um bom leitor pra poder se envolver com literatura. É democratizar um pouco mais essa parte, trazendo para um público que não tenha tanta afinidade com esse tipo de arte, e a partir daí, desenvolver algum tipo de interesse.”
Inglês ou português?
“Eu falo inglês também desde pequeno, minha mãe era professora de inglês. Eu vivo fora [do Brasil] há muitos anos, falo e leio em inglês todos os dias, então acaba sendo muito natural escrever em inglês. Já escrevi em português muitas vezes e continuo escrevendo, mas não cheguei a publicar nada ainda nesse sentido. Mas com certeza vai acabar acontecendo.”
Wehbba no Brasil
Baseado em Portugal, Wehbba tem o privilégio de levar sua arte por todo o mundo, o que significa que não é toda hora que ele pinta por aqui. Neste final de semana, antes mesmo do workshop na STATE, o DJ se apresenta em dois eventos. Na sexta, 29, toca no Surreal Park, em Camboriú/SC, e no sábado [30], se apresenta no D-EDGE, em São Paulo.