
7 curiosidades sobre a gravação de “We Are The World”
Icônica canção em prol do combate à fome na África completa 40 anos nesta sexta-feira
Há exatos 40 anos, um dos mais ambiciosos projetos da música pop chegava ao mundo, fazendo um sucesso gigantesco e atingindo seu grande propósito: juntar grana para combater a fome na África, à época assolada por secas e guerras étnicas. Apesar de We Are The World demandar uma dificuldade gigantesca para ser produzido, valeu a pena. Afinal, o single principal do álbum, homônimo, juntou nada menos do que 40 dos maiores astros da música pop (que formaram o grupo USA For Africa) para cantarem no mesmo estúdio, ao mesmo tempo, com apenas um dia disponível para gravação. A madrugada após a cerimônia do prêmio American Music Awards, dia 28 de janeiro daquele ano. Isso mesmo, a menos de 40 dias da data de lançamento do vinil.
A ideia de juntar esse povo todo veio de Harry Belafonte, lenda do jazz, que ficou bolado com o fato de os britânicos estarem fazendo eventos em prol da África antes deles, como o lendário show Live Aid e o disco Do They Know It’s Christimas?: “Por que é que os brancos estão ajudando a África e nós, pretos, não?”. Belafonte então acionou Quincy Jones, que juntou Michael Jackson e Lionel Richie para encomendar a música principal.
A gravação de We Are The World, feita em uma noite, é um episódio icônico da música mundial. Já rendeu livros, documentários e ótimas matérias aqui no Music Non Stop. E para celebrar os 40 anos deste evento histórico, esprememos mais a laranja para lhe servir algumas histórias incríveis, que pouca gente conhece, sobre a noite que juntou meio mundo do mainstream pop dos Estados Unidos.
O amigo do amigo do amigo
Quando Belafonte se ligou de que precisaria fazer alguma coisa, percebeu que precisaria de muito networking para fazer a coisa acontecer. E o processo rendeu história. Harry ligou para Ken Krager, empresário de Kenny Rogers e Lionel Richie. Os dois toparam o projeto na hora. Richie chamou os amigos Stevie Wonder e Quincy Jones para a panela, que também adoraram o desafio. A princípio, ficaria a cargo de Wonder e Richie compor o grande hit, mas Quincy chamou seu pupilo Michael Jackson para a tarefa de composição. Stevie pulou fora (somente da composição, não da gravação), e a dupla final cuidou da criação de We Are The World.

Rivalidades
Prince tinha um comportamento de competição muito além do saudável com Michael Jackson. Eram dois porcos-espinhos que se eriçavam juntos. Por isso, foi surpreendente quando Prince topou participar de We Are The World. Só que não. No dia do rolê, o músico não apareceu, alegando que teve de tirar um de seus guarda-costas da cadeia após o American Music Awards. Verdade ou não, a gravação rolou sem Prince, que depois enviou uma música (gravada na paz de seu estúdio, com seus músicos de confiança) para ser incluída no álbum. A mesma competição de bastidores rolava entre Madonna e Cyndi Lauper. Sabendo que a rival estaria no rolê, a primeira alegou compromissos de agenda para não participar.
“Deixe seu ego do lado de fora”
Tudo bem, Prince e Madonna não foram. Mas ainda assim, a preocupação com algum tipo de treta de ego entre artistas do naipe de Bob Dylan, Ray Charles, Billy Joel e mais dezenas de artistas que há muito tempo não sabiam o que significava repartir o bolinho. Os produtores, então, tiveram uma ideia. Na porta do estúdio, colocaram uma placa: “Deixe seu ego do lado de fora”. E não é que funcionou?
Segredo total no mundo offline
Muitos dizem que We Are The World seria muito mais difícil de fazer na era dos telefones celulares. O estúdio foi marcado em segredo e a instrução era que, pelas criancinhas da África, ninguém desse um pio sobre o compromisso que teriam depois da cerimônia. Paparazzis, celebridades a fim de um after e fãs estragariam toda a tranquilidade necessária para o bom trabalho. E deu certo. A ponto de Bruce Springsteen, o rosto mais conhecido dos Estados Unidos, ter parado sua caminhonete no estacionamento de um supermercado em frente e caminhado até o estúdio sem ninguém na rua para reconhecê-lo.

A intensidade de uma noite
Além de cuidar de 12 horas de gravação que o single levou naquela madrugada (começou às 21h e só terminou na manhã seguinte), Lionel Richie ainda foi o apresentador do American Music Awards naquela mesma noite. Marcar o estúdio na noite após a cerimônia era o único jeito de garantir, logisticamente, toda aquela galera no mesmo lugar. A parada foi tão intensa que Richie revelou, em entrevistas posteriores, que simplesmente não se lembra de absolutamente nada em relação ao AMA. Nadinha, nem um só segundo. Todo seu HD foi ocupado com memórias das horas que passou gravando We Are The World.
Se vira nos trinta
Como tudo foi feito totalmente às pressas, a grande maioria dos músicos entrou no estúdio sem jamais ter ouvido a canção, o que explica a epopeia de 12 horas ininterruptas para gravá-la. O rolê incluía conhecer o som, a letra, ensaiar e gravar, tudo numa paulada só. Todas as instruções eram dadas por Michael Jackson, Lionel Richie e Quincy Jones. Exceto quando Ray Charles decidia dar seu pitaco. Nessa hora, “todo mundo ficava quieto escutava”, revelou Richie, anos depois.
Que barulho é esse?
Um estranho barulho estava chegando à mesa de gravação e ninguém conseguia entender o que era. Engenheiro de som e técnico trocaram microfones, cabos, e passaram um bom tempo chafurdando o estúdio procurando qual equipamento estava com problema. Depois de muito bater cabeça, um dos técnicos decifrou o enigma. O barulho era das dezenas de badulaques, como pulseiras e colares, que Cyndi Lauper usava como indumentária na noite da gravação. Conforme dançava, na vibração da música, a cantora se balançava e as bijús tilintavam, sendo captadas pelo microfone.
