Estamos há um ano tentando desenhar vários futuros possíveis para a música ao vivo e entender o que passará a ser o novo normal. Erramos um tanto, mas continuamos na tentativa e erro. Afinal, teremos festivais de música em 2021? Saiba como os maiores festivais do planeta estão preparando na primeira edição do ano da coluna Transmitter, de Lalai Person.
O Primavera Sound promoveu em dezembro uma noite de shows para testar o risco de transmissão de Covid-19 em eventos ao vivo. Foram seguidas todas as medidas de segurança, como teste antígeno na entrada, distribuição de máscara N95 de uso obrigatório e desinfecção das mãos. Distanciamento social não foi imposto, assim como era permitido dançar, cantar e beber, o único momento em que a máscara tinha permissão para ser abaixada. Participaram 1.047 pessoas com idade entre 18-59 anos, sem comorbidades e que não tinham sido diagnosticadas com Covid nos últimos 14 dias.
O resultado foi positivo mostrando que participar de um show ao vivo seguindo uma série de medidas de segurança não aumenta o risco de infecções de Covid-19. A Alemanha fez o mesmo estudo com resultado bem similar e Luxemburgo fará um teste neste mês.
Quando os festivais voltarão a acontecer ao vivo a gente não sabe, mas quando eventos como o Glastonbury e o Coachella cancelam novamente suas edições, é motivo para ficarmos atentos.
Na contramão, o Primavera Sound, o Sónar Barcelona, o Iceland Airwaves, Dekmantel, Lollapalooza (incluindo a edição em São Paulo), Rock in Rio, Coala e o Exit (Sérvia) são alguns dos vários festivais confirmados para 2021, mas se eles de irão de fato rolar é uma aposta. A Espanha, por exemplo, tem a intenção de barrar o turismo até o fim do próximo verão. Ou seja, se o Primavera e o Sónar seguirem seu cronograma, a edição física contará apenas com presença de público local. A minha aposta é ver acontecer novas edições híbridas, essas que vieram pra ficar.
Aqui em Berlim estamos no segundo lockdown desde novembro, que ficou mais restrito em dezembro. Atualmente abrem somente estabelecimentos essenciais, como supermercado, farmácia, livraria e loja de bebidas (?), assim como não devemos ir além de 15km de nossas casas. O Berlin Club Commission está bem pessimista com a reabertura dos clubs, que para eles não voltarão a abrir suas portas antes do fim de 2022.
A NME escreveu um longo artigo analisando a possibilidade dos festivais acontecerem ao vivo no próximo verão na Inglaterra. Um dos médicos entrevistados afirma que para ter alguma segurança o ideal é que 60% da população esteja vacinada, que por lá está previsto para acontecer até o final de setembro, ou seja, o verão já soa comprometido. A meta na Alemanha é ter todo mundo que queira ser vacinado, esteja devidamente protegido até o fim de setembro, o que também mostra um verão comprometido.
A Mixmag afirmou que nas atuais circunstâncias de lockdown na Europa não será possível contar com festivais acontecendo esse ano. Eu concordo com o artigo mesmo não vendo a hora de estar na pista de um. O Brasil é uma incógnita mesmo tendo um sistema exemplar de vacinação.
Enquanto não há luz no fim do túnel, a busca por soluções alternativas continuam. O último lançamento é o projeto Teatro Vertical, previsto para estar pronto ainda em 2021, com capacidade para até 2.400 pessoas. Ele funcionará como um “circo” que poderá viajar pelas cidades na Inglaterra. São andares com pods distribuídos, cada um comportando de 4 a 12 pessoas.
Na Inglaterra também foi inaugurada uma arena visando o distanciamento social com pods elevados. Além disso tudo, continuamos a ter uma evolução nos eventos online, como o show do Criolo que aconteceu em realidade estendida (que infelizmente eu perdi).
A Austrália, um dos países com o lockdown mais restrito e longo do mundo, teve quase 50% da população testada, 28.842 casos de infectados, 909 mortes e atualmente contam com 54 casos ativos. O Secretário da Saúde local afirmou que o país não abrirá a fronteira para estrangeiros antes de 2022. O resultado é que a Austrália começa aos poucos a voltar ao “normal”. Uma colega, que mora lá, foi a um festival na semana passada em Melbourne que seguiu distanciamento social utilizando pods, ou seja, cada grupo de amigos ficou no seu quadrado e só saía para ir ao bar ou banheiro. Não era obrigatório usar máscara, mas os bares possuíam proteção entre atendentes e o público. A comida podia ser pedida nos food trucks a partir de QRCode instalado nos pods.
O relatório Future 100_2021 discorre sobre o futuro dos eventos ao vivo mostrando exemplos do que tem sido feito desde o início da pandemia, mas sem muita pista do que será de fato esse futuro. Não mencionam a vacina, mas a principal pergunta que temos hoje é justamente se a chegada da vacina é a resposta para o show continuar.
Uma coisa é certa: a pandemia acelerou a incursão da música ao vivo no meio digital como já sabemos. Mas como disse a Fabiane Batistela (SIM SP) nesse artigo sobre “O que será da música em 2021?”: “Pago ou de graça, o artista precisará oferecer uma experiência incrível para o consumidor.”
*Foto capa: Virgin Money Unity Arena por David Wala