Lembrando Asimov, Universal Music cria protocolo para o uso de Inteligência Artificial
Gravadora criou conjunto de regras que servirão como termo de compromisso a todas as empresas que o assinarem
Liderada pela gravadora Universal Music, uma série de empresas vem assinando um protocolo chamado Princípios Para Criação Musical Usando IA. Gigantes como a Roland e a Focusrite, produtora de equipamentos musicais, a empresa de softwares Native Instruments, associações de direitos autorais como a NAMM (National Association of Music Merchants) e mais de 50 grandes companhias assinaram um compromisso de adesão. O mais recente é o SoundCloud, plataforma de música online bastante usada por produtores musicais e DJs do mundo todo, que anunciou o uso de diversos recursos de Inteligência Artificial em sua plataforma, para criadores de música.
Desde que as empresas de IA decolaram, trazendo recursos como recriar a voz de um artista morto ou extrair instrumentos de música gravada, por exemplo, associações de artistas e gravadoras se levantaram, dando a sensação de uma guerra iminente. O principal argumento da guerrilha rebelde era de que, na verdade, os softwares de IA não inventam nada, apenas copiam o que já existe disponível no mundo digital. No entanto, sua capacidade computacional é tão grande que eles podem usar centenas de fontes diferentes, como gravações pré-existentes, para passar ao usuário a sensação de que “criou” algo novo. O contra-ataque das empresas de software é o argumento de que nós, humanos, fazemos a mesma coisa.
Para botar ordem no galinheiro, a Universal Music (que já comprou um baita briga com o TikTok em 2023) resolveu assumir o posto de garnizé. Criou um conjunto de regras, ou princípios, que servirão como um compromisso a todo mundo que assinar o documento. Espécie de “novas leis da robótica”, que seriam capazes de arrancar um sorriso de canto de boca do grande mestre da ficção científica Isaac Asimov. Os principais mandamentos são:
- Acreditamos que a música é primordial para a humanidade;
- Acreditamos que a humanidade e a música são inseparáveis;
- Acreditamos que a tecnologia sempre apoiou a expressão artística humana, e a Inteligência Artificial amplifica a criatividade humana;
- Acreditamos que trabalhos criados por humanos devem ser respeitados e protegidos;
- Acreditamos que a transparência é essencial para uma Inteligência Artificial responsável e confiável;
- Acreditamos que as perspectivas dos artistas musicais, compositores e outros criadores precisam ser blindadas e respeitadas;
- Temos orgulho em ajudar a dar vida à música.
As regras têm o objetivo claro de acabar com a farra das criações anônimas feitas pela Inteligência Artificial utilizando recursos que, antes, foram criados por seres humanos. O SoundCloud, por exemplo, se comprometeu a deixar bem claro qual recurso foi usado e como, em futuras composições. O protocolo está vindo de cima para baixo: foi escrito e está sendo assinado por grandes empresas, cujas intenções são de impor um padrão, chegando até os usuários de internet, reconhecidos por uma certa aversão às regras. No entanto, considerando que o músico independente, o pequeno dono de estúdio e o engenheiro de som (que andam explorando como ninguém os novos recursos tecnológicos) são os maiores prejudicados, pode ser que a as regras peguem.
As três leis da robótica de Asimov
Em seu livro Eu, Robô (1950, o mesmo que inspirou o filme com Will Smith, lançado em 2004), Isaac Asimov escreveu sobre as Três leis da robótica, um conjunto de diretrizes (também copiado no filme Robocop) que deveriam ser encriptadas no “cérebro” de qualquer robô criado pelo ser humano. Leis invioláveis que, não importa o que aconteça, serão respeitadas pelos homens de lata.
As três leis da robótica de Asimov, como o conjunto ficou conhecido no mundo todo, são:
- Um robô não pode ferir um ser humano;
- Um robô deve obedecer às ordens de um ser humano;
- Um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as duas leis anteriores.