O show da banda mais estranha do mundo

Music Non Stop
Por Music Non Stop

Eric Lovric narra sua experiência com o grupo de metal americano, que fechou o Palco Samsung Galaxy no último dia do Lollapalooza Brasil 2025

Por Eric Lovric

TOOL é uma banda estranha. Mas não é aquele estranho “normal”: letras viajadas, o vocalista cantando pelado, o fato de a discografia inteira ter ficado inacessível nas plataformas de streaming até 2019 — quando eles voltaram com um álbum novo depois de 13 anos, derrubando ninguém menos que Taylor Swift do topo da Billboard 200. Refiro-me a outro tipo de estranheza, difícil de explicar. Impossível, na real. Então não vou nem tentar.

Em vez disso, darei exemplos retirados da minha longa história pessoal com eles. Tão longa quanto sua lista de aberrações, extravagâncias e anomalias. Vamos começar leve. Vamos começar pelos…

Clipes

TOOL nunca tocou em rádio no Brasil. Só na MTV. Chamaram minha atenção porque eram diferentes de todos os outros clipes. Eram feitos em animação stop motion. Iguais às do Tim Burton, sabe? Só que ainda mais estranhas. E mais sombrias (sim, por incrível que pareça).

Prison Sex. Fica melhor ainda depois de descobrir do que se trata a letra. A galera do Sepultura se inspiraria no look para fazer o clipe de Ratamahatta.

Os segredos do álbum

Depois de milagrosamente conseguir o disco Undertow (1993; não vendia no Brasil, tinha que esperar alguém viajar e trazer), começaram as esquisitices bravas. Além de não ter nada escrito na capa (o que era muito incomum), a faixa 10 não tocou quando dei play. Em vez disso, pulou para a 11, depois para a 12, 13… Como se o disco estivesse possuído. Até chegar à faixa 69. E então, um pastor começou a pregar sobre um genocídio: “ouçam os gritos das cenouras!!! Para nós, é a colheita; para eles, é o HOLOCAUSTO!”

TOOL

Mas se o CD só tem dez faixas, então como assim?

Em seguida, uma música sobre a necessidade da morte, pois… “a vida se alimenta da vida se alimenta da vida se alimenta…”. Depois de alguns dias, notei que havia algo escondido na parte de trás da caixa do CD. Retirei a capa traseira. Havia uma imagem. Eu vendo tudo isso e pensei: “quem é essa galera?”.

Tem alguma coisa escondida aqui…

Ah…

Os visuais

Mais pra frente, eu conseguiria os outros dois CDs. Os projetos gráficos dos encartes eram tão elaborados quanto as músicas. Ænima, por exemplo, trazia uma capa holográfica. Lateralus, o terceiro disco, trazia uma capa transparente, na qual você despia o corpo humano camada por camada.

Àquela altura, eu já estava convencido de que não tinha como a banda ficar mais bizarra. Eu estava errado.

As faixas vazias

E então chegou o Napster e a possibilidade de baixar músicas em MP3. Claro que TOOL foi uma das primeiras bandas que procurei. Depois de incontáveis minutos esperando o download (cada música demorava uns dez minutos para baixar), veio a terrível surpresa: as faixas estavam VAZIAS.

O arquivo estava lá, no meu computador. Os megabytes estavam presentes. Mas ao dar play, nada. Eu nunca tinha visto isso antes. E nunca veria novamente. Mas nada mais me surpreendia. Era TOOL.

O show

Diante disso tudo, quando soube que viriam para o Lollapalooza Brasil neste ano, me perguntei:

  1. Será que uma espera de 35 anos para ver esses caras ao vivo tem como compensar?
  2. E caso sim, como?

As respostas:

  1. Sim. Muito.
  2. Assim, ué!
TOOL

Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

Tool

Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

TOOL

Foto: Tati Silvestroni/Music Non Stop

O show acabou, mas eu ainda estava em transe. Eu e tantos outros ao meu redor. Com as retinas  queimadas pelos visuais, os tímpanos destruídos pela distorção, as almas devoradas pela vida que se alimenta da vida que se alimenta da vida…

TOOL nunca foi só uma banda. Sempre foi um enigma, um experimento, um portal para algo maior. Assistir ao show, depois de tanto tempo, não foi só um evento musical — foi a confirmação de que a estranheza deles sempre fez sentido.