Luana Souza e Carlinhos Brown - Timbrown Luana Souza e Carlinhos Brown. Foto: Divulgação

Ritmo e história: em novo reality, Carlinhos Brown leva a percussão brasileira ao centro do entretenimento

Jota Wagner
Por Jota Wagner

O país de Naná Vasconcelos, Flora Purim, Airto Moreira e Marco Bosco ganha um reality show — Timbrown — para falar do que mais entende: a batucada

Ah, o batuque! A percussão! O tambor… Você pode não saber, mas o espevitado Carlinhos Brown, apresentador do novo reality show Timbrown (ao lado de Luana Souza), é um dos maiores percussionistas da história do Brasil — ninguém entende mais do assunto do que ele.

A criação de ritmos com tambores é a mais intuitiva das linguagens musicais. Desde tempos imemoriais, “antes das palavras”, o batuque já fazia parte da linguagem do ser humano, sendo usado até como forma de comunicação entre tribos africanas.

A imigração vinda da África, nos tempos amargos da escravidão, trouxe ao Brasil as primeiras técnicas e códigos da percussão, base para festividades e ritos religiosos. Servia como integração social e linguística entre pessoas originárias de tribos diferentes, já no continente mãe do mundo.

Desde então, a percussão no Brasil entrou definitivamente em nosso sangue. Criamos e desenvolvemos gêneros musicais alicerçados no batuque. O samba e o coco e o maracatu e muito, muito mais, em todas as regiões brasileiras. Inventamos até um samba paulista (ou samba de tambor), criado pelos escravos que se acumulavam no Largo da Batata, vindos do interior de São Paulo, durante reuniões feitas na madrugada, enquanto esperavam para descarregar o carregamento vindo das fazendas.

Aberta a clareira, era hora de construir o palácio

Além de incluir, graças à nossa miscigenação, um toque único e sofisticado à percussão, nossos músicos começaram a ganhar o mundo batendo tambor, se embrenhando no jazz, no rock, na disco e onde fosse necessária aquela quebradinha gostosa, que nos remete ao início dos tempos.

Nomes como Naná Vasconcelos, Airto Moreira, Marco Bosco, Flora Purim e Jackson do Pandeiro mostraram a todos que quem manda na cozinha somos nós, os brasileiros.

E, também, Carlinhos Brown

As gerações mais novas conheceram Carlinhos Brown como apresentador de TV, na versão brasileira do programa de talentos The Voice. Quando muito, sabem que é “cantor de axé” e almirante de trio elétrico no carnaval da Bahia.

Muito mais do que isso, Brown é um educador engajado desde o início da carreira, e grande responsável por renovações importantes na música brasileira, com o timbalada e o samba-reggae.

Ganhou um baciada de prêmios, incluindo um Goya e dois Grammys latinos (além de oito indicações), e foi, graças ao seu reconhecimento internacional, o primeiro brasileiro a fazer parte da Academia do Óscar.

Mas tais premiações são uma pandeirola se compararmos aos títulos que tem no campo da educação: Brown é Embaixador Iberoamericano da Cultura, Embaixador da Justiça Restaurativa da Bahia e recebeu um troféu em reconhecimento à sua atuação como arte-educador pela ISME – Sociedade Internacional de Educação Musical.

Incontável a quantidade de garotos e garotas de comunidade que hoje ganham a vida sapecando tambores, graças aos projetos do cara. Isso, a Globo não mostra!

A percussão finalmente chegou aos reality shows

Que atire a primeira pedra quem nunca passou algumas noites salivando com o Masterchef, franquia mundial de culinária. Os reality shows são um formato estabelecido, goste ou não.

Trazer a escola da percussão para a TV, além de ser um reparo histórico merecido, leva ainda mais a batucada para as massas, e mostra o conceito técnico por trás do festejo. Afinal, muita gente segue achando que com uma panela velha e uma colher de pau, já é possível se intitular “percussionista profissional”.

Timbrown estreia dia 11 de novembro e mostrará a jornada de oito participantes, que disputam pelo prêmio de 20 mil moedas (10 em dinheiro e 10 em instrumentos). O projeto foi criado pela Rede Bahia (touché) e será transmitido no Multishow e Globoplay.

“O percussionista é o primeiro ativista do mundo, afinal, tocar percussão é tocar as primeiras palavras. Não esperem da percussão só o batuque, porque nela tem a filosofia, história, ancestralidade, técnicas milenares ainda utilizadas para muita oralidade e memórias. E o reality lança luz para que conheçamos mais sobre a capacidade coletiva de tocar percussão. Com a idade e a experiência que estou, ainda me considero um estudante em busca de mais conhecimento e aperfeiçoamento”, afirma o apresentador Carlinhos Brown.

Hora de se divertir conhecendo as bases da percussão brasileira — e também, o “real” Carlinhos Brown.

Jota Wagner

Jota Wagner escreve, discoteca e faz festas no Brasil e Europa desde o começo da década de 90. Atualmente é repórter especial de cultura no Music Non Stop e produtor cultural na Agência 55. Contribuiu, usando os ouvidos, os pés ou as mãos, com a aurora da música eletrônica brasileira.

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